Lucimar Moreira Bueno(Lucia) - www.lucimarbueno.blogspot.com

domingo, 5 de abril de 2015

Páscoa da Ressurreição: a Vida que vence a morte

Pe. Nelito Dornelas

Hoje é Domingo da Páscoa. È o dia em que nós, os cristãos, renovamos nossa fé na ressurreição de Jesus. Com toda a Igreja vamos proclamar: “Cristo Ressuscitou dos mortos”, “Deus ressuscitou a Jesus”, “Jesus está vivo”, Ele é nosso Deus”, Eu creio na ressurreição e na vida eterna”.

Eu o convido a refletir sobre a Páscoa a partir da narração do evangelho deste Domingo, João 20,1-9. O evangelho indicado para este domingo tem como protagonista três personagens muito próximos de Deus em humanidade: Maria Madalena, Simão Pedro e o discípulo amado, João.  Isso mostra que a fé na ressurreição é uma experiência profundamente humana. Quem faz esta experiência muda radicalmente sua vida e se abre para celebrar com Jesus a sua Páscoa. O evangelho de João descreve o jeito como cada personagem reage diante da ressurreição, da Páscoa. São atitudes muito diferentes destes três personagens, porém, todas movidas para o encontro com Jesus.

Maria Madalena reage de forma precipitada: ao ver que a pedra tinha sido retirada da entrada do túmulo logo conclui que alguém tinha levado o corpo de Jesus; a ressurreição nem sequer passa pela sua cabeça.

Simão Pedro atua como um inspetor de polícia diligente: corre ao sepulcro e não se limita, como Maria, a ver a pedra removida; entra, observa as faixas de linho no chão e o sudário enrolado, num lugar à parte. Algo muito estranho. Mas não tira nenhuma conclusão.

João, o discípulo amado também corre, inclusive mais que Simão Pedro; mas quando chega ao sepulcro, espera pacientemente. E vê a mesma coisa que Pedro, mas conclui que Jesus ressuscitou.

O evangelho de João oferece hoje uma mensagem esplêndida: diante da Páscoa da Ressurreição de Jesus podemos pensar que é uma fraude como pensou Maria Madalena, chegando a suspeitar que haviam roubado o corpo de Jesus; como Simão Pedro não sabia o que pensar diante do acontecido  ou dar o salto misterioso da fé e acreditar que Jesus ressuscitou dentre os motos como o fez João, o discípulo amado.

O Evangelho de hoje nos apresenta um progressivo caminho de fé. Começa com Maria Madalena que busca Jesus, sai de seu esconderijo, vai ao encontro de Jesus, mesmo sabendo que ele havia sido morto. Ela é levada pela coragem de buscar um sentido para sua dor e tristeza, para sua vida. Ela sai de madrugada, no escuro, sem medo e sem pavor, porque ela não sabe mais viver sem Jesus. Trata-se de um primeiro passo, o passo fundamental para a Páscoa, o colocar-se em movimento, a caminho, sair, romper com seus temores, seu mundo particular, seu lugar estreito e ir ao encontro do outro. E Jesus a ordena: “Vá e confirme os Apóstolos na fé”.

A atitude de Pedro é bem parecida como o de Maria Madalena. Ele também sai à procura e vai ao encontro de Jesus. Aqui merece uma reflexão sobre este episódio. Conta-se que Pedro foi de madrugada às escondidas ver o desfecho final da morte de Jesus. De repente, Jesus veio ao seu encontro. Pedro, envergonhado por tê-lo negado por três vezes, corre desesperado, mas Jesus o alcança. Volte aqui Pedro, falou Jesus. Não voltarei, sentenciou Pedro. Eu fui infiel ao Senhor, eu fracassei, pois o Senhor me escolheu para eu dar testemunho de minha fidelidade ao Senhor e eu não consegui. Jesus lhe disse: não Pedro, eu não o escolhi para testemunhar sua fidelidade por mim. Eu o escolhi para testemunhar a fidelidade do meu amor por você e em você pela minha Igreja. Nisso não fracassei, pois eu fui fiel até o fim. Volte e assume sua missão, pegue sua cruz outra vez.

Voltando ao relato do Evangelho de hoje percebemos que João foi capaz de dar o salto da fé e mergulhar no mistério da Páscoa da Ressurreição. Ele deixa-se tocar pelos sinais, não buscando razões que expliquem o que tinha acontecido. Assume a atitude de acolhida do mistério. Seu olhar é um olhar contemplativo que vai além dos sinais.

Os três viram os mesmos sinais; João, com um olhar contemplativo, vai além das aparências. É preciso ter os olhos destravados para “ler” os sinais da Ressurreição. João fica assombrado diante de tantos sinais; ele “entra” no túmulo de maneira diferente; não faz de maneira apressada, como Pedro. Ele para, observa, dá um tempo, tem paciência. Tem uma atitude de acolhida e não de investigação. A razão ainda não é suficiente para mergulhar no mistério da fé.

Certamente os três personagens ficaram muito confusos diante do sudário dobrado, colocado à parte: “como é possível, alguém, no momento glorioso de sua vida, encontrar tempo para dobrar um sudário!”. Este é um grande gesto de ternura de Jesus. É muito cuidado com as coisas mais simples no momento mais importante.

Os relatos dos próximos dias de Páscoa nos ajudarão a alcançar a terceira atitude. Qual atitude prevalece em mim?

“No primeiro dia da semana, Maria Madalena foi ao túmulo de Jesus, bem de madrugada,...”
No relato do evangelho de hoje, a ressurreição é apresentada como uma “nova Criação” levada a termo pela intervenção providente de Deus. É para isso que Jesus veio, para fazer uma nova criação. A Páscoa da Ressurreição de Jesus é o primeiro dia desta nova criação, o primeiro dia da nova semana. Agora tudo mudou, tudo é novo, nasceu também um novo ser humano, o novo Adão.

A Páscoa faz tudo novo, renova tudo no coração humano que faz a experiência desse Deus vivo que renova a face da terra em Jesus Cristo ressuscitado e cria um “novo céu e uma nova terra”.

Tudo é Vida, é Páscoa, é ressurreição.  E quem faz esta experiência vive desde já coo uma pessoa ressuscitada.

A Vida não a possuímos, ela é que nos possui e nos invade, levando-nos e empurrando-nos para além de nós mesmo, para frente e para o alto, abrindo-nos ao Absoluto.

Agora vale a Vida, agora é a Páscoa, a Ressurreição. Estejamos atentos e conectados com a Fonte da Vida e com a toda a comunidade de vida que nos envolve, pois a Páscoa da Ressurreição de Cristo atinge a toda criação, como conforme o pensamento do apóstolo Paulo ao afirmar que a própria criação sofre as dores da paixão de Cristo na história, aguardando a manifestação dos filhos de Deus para que também el seja libertada e participe da Páscoa de sua Ressurreição (cf Rom 8, 19 ss).

Estar atento aos sinais dos tempos é uma das condições para vivermos a Páscoa da Ressurreição com Jesus, em Jesus e por Jesus. Isso é viver ressuscitado.

Mas, para poder ver discernir o significado dos sinais dos tempos, das “faixas”, requer-se atenção. Uma atenção que nos faz estar no momento presente e calar o falatório mental. Nesse Silêncio, poderá desvelar-se diante de nossos olhos a Presença que nos chama pelo nome.

Maria Madalena madruga para encontrar-se com a morte na sepultura; e Deus madruga mais ainda para recuperar a vida. Madalena madruga para a morte e Deus madruga para a vida.

Enquanto estamos a caminho da morte, Deus está a caminho da vida; enquanto continuamos presos no passado, Deus já está no presente novo; nós visitamos sepulcros e Deus visita corações que vivem e tem garra de viver; nós nos empenhamos em encher os sepulcros, e Deus se encarrega de esvaziá-los.

Os sepulcros não são lugares de encontro com Ele; a Ele o encontramos na comunidade reunida no amor. A verdadeira Páscoa não acontece ao lado do sepulcro; ela acontece quando os corações começam a pulsar de novo com um novo ritmo de vida e de esperança. 

É Pascoa não só quando Deus ressuscita Jesus de entre os mortos, mas quando Deus se faz acontecimento de vida em nós. Deus celebra a Páscoa não junto à pedra do sepulcro, mas na vida das pessoas.  É de madrugada, mas Deus já faz resplandecer a luz da madrugada, esperando iluminar as mentes e despertar os corações para acolher a Vida.

É madrugada, levanta povo!
A luz do dia vai nascer de novo.
Rompe as cadeias, abre o coração,
vamos dar as mãos, já é reino do povo.

O povo agora é senhor da história,
somos rebento desta nova era.
A liberdade, a fraternidade
são as bandeiras dessa nova terra.

Terra regada com sangue, com pranto;
história marcada de sonhos e desencantos.
Sementes plantadas pelas mãos do Senhor do mundo,
brotando a justiça, rompendo as cercas do latifúndio.

Me corre nas veias as dores da humanidade,
mas brilha em meu peito a estrela da liberdade.
Levanta meu povo, Jesus é o Senhor da história!
Meu canto é reflexo do sol dessa nova aurora.

(Manelão)

Texto bíblico:  Jo 20,1-9

Na oração: A Luz da Páscoa da Ressurreição desperta em nós o desejo de outra luz, de outra beleza. A tensão de luz e sombra também está viva em nosso interior, no espaço interior de cada um de nós. Somos filhos da luz e do dia, pertencemos ao dia e à luz. Ninguém pode apagar esta luz nova que busca expressar-se no cotidiano de nossa vida. Em sua tensão de luz e obscuridade contemple o a Páscoa do Ressuscitado.