A cada 10 litros de água tratada nas 100
maiores cidades do país, 3,9 litros (39,4%) se perdem em vazamentos, ligações
clandestinas e outras irregularidades. O índice de perda chega a 70,4% em Porto
Velho e 73,91% em Macapá. Os números são do Ranking do Saneamento, divulgado
hoje (27) pelo Instituto Trata Brasil, com base em dados do Sistema Nacional de
Informações sobre Saneamento de 2012.
A reportagem é de Luana Lourenço,
publicada pela Agência Brasil,
28-08-2014.
O estudo considerou a perda no faturamento,
ou seja, a diferença entre a água produzida e a efetivamente cobrada dos
clientes. De acordo com o instituto, o indicador de referência para a perda de
água por faturamento é 15%. Dos 100 municípios da lista, quatro têm nível de
perda menor ou igual ao patamar. Em 11 deles, as perdas superam 60% da água
produzida.
De acordo com o presidente
executivo da entidade, Édison Carlos, as perdas se refletem diretamente na
capacidade de investimento das empresas e podem comprometer a expansão e
qualidade dos serviços. “A perda é um reflexo da gestão da empresa. Qualquer
autoridade que pensa em saneamento como um negócio, teria que atacar as perdas.
Quando a empresa tem perdas muito altas, não consegue nem custear o próprio
serviço”, avaliou. “Qualquer litro de água recuperado é um litro a mais que ele
vai receber”, acrescentou.
Apesar dos registros, os municípios
fazem pouco para reduzir as perdas de água por faturamento, de acordo com o
estudo. Entre 2011 e 2012, mais da metade das cidades pesquisadas (51) não
reduziu em nada as perdas ou até piorou os resultados no período. Segundo o
Trata Brasil, os números sugerem que “diminuir perdas de água não vem sendo uma
prioridade entre os municípios brasileiros”.
Apenas 10% dos municípios
analisados na pesquisa registraram melhoria de mais de 10% na redução de perdas
de água. Em média, de acordo com o levantamento, a melhora nas perdas dos
municípios ficou em 0,05% na comparação entre 2011 e 2012.
As soluções, segundo Carlos,
variam de acordo com o tamanho e as características de cada município. Em
cidades com índices de perda muito elevados, por exemplo, a instalação de
equipamentos como controladores de vazão e pressão tem reflexos rápidos na
perda por vazamentos.
Em relação ao saneamento, o ranking mostra que, nos 100 maiores municípios
do país, 92,2% da população têm acesso à água tratada. Em 22 das cidades, o
atendimento chega a 100%, atingindo a universalização do serviço.
No entanto, os dados de coleta
e tratamento de esgoto são bem inferiores. A média de população atendida por
coleta de esgoto nas cidades avaliadas é 62,46%. Os números do tratamento são
ainda menores: em média, 41,32% do esgoto do grupo de maiores cidades do país é
tratado. Entre as 10 cidades com piores índices no quesito, três são capitais:
Belém, Cuiabá e Porto Velho, sendo que as duas últimas têm tratamento de esgoto
nulo.
Considerando acesso à água,
coleta e tratamento de esgoto e o índice de perdas, o estudo fez um ranking com
os 20 municípios com melhores e os 20 com piores resultados em saneamento. Além
disso, o instituto traçou uma perspectiva de universalização dos serviços nos
próximos 20 anos, como quer o governo federal, com base na evolução dos
indicadores entre 2008 e 2012.
Entre as 20 cidades com
melhores resultados, todas atingiram ou atingirão a meta nos próximos anos. No
entanto, nos 20 municípios com piores notas, entre eles seis capitais, apenas
um deve atingir a universalização se o ritmo de melhoria se mantiver. “É um
dado preocupante, na medida em que a gente tem uma meta clara para duas
décadas”, avalou Édison Carlos.
De acordo com o presidente do
Trata Brasil, a situação só será revertida se as políticas de saneamento
entrarem na agenda de prioridades dos gestores públicos e a população
pressionar por avanços no setor. “Tem que ser prioridade, principalmente dos
prefeitos, mesmo as cidades em que os serviços são operados por empresas
estaduais. Isso não tira a responsabilidade dos prefeitos, que têm que brigar
por metas mais rápidas e mais amplas. É preciso foco”, avaliou. “O eleitor, o
cidadão, tem que cobrar. É investimento, não é milagre”, comparou.