A investida incabível de alguns políticos querendo banir os símbolos religiosos das repartições públicas, iniciativa já feita em outros países, é mais uma violência contra a liberdade religiosa e um afronta à tolerância defendida na constituição brasileira. Por isso é bom lembrar: O termo símbolo, com origem no grego σύμβολον (sýmbolon), designa um elemento representativo que está (realidade visível) em lugar de algo (realidade invisível) que tanto pode ser um objecto como um conceito ou idéia, determinada quantidade ou qualidade.
O "símbolo" é um elemento essencial no processo de comunicação, encontrando-se difundido pelo cotidiano e pelas mais variadas vertentes do saber humano. Embora existam símbolos que são reconhecidos internacionalmente, outros só são compreendidos dentro de um determinado grupo ou contexto religioso, cultural, etc.
Os primeiros cristãos viveram numa sociedade de prevalência pagã e hostil. Durante a perseguição de Nero (64 depois de Cristo) a religião dos cristãos foi considerada "superstição estranha e ilegal". Os pagãos desconfiavam deles e mantinham-nos à distância, suspeitavam deles, acusando-os dos piores delitos. Perseguiam-nos, aprisionavam-nos, condenavam-nos ao exílio ou à morte. Impedidos de professar a fé abertamente, os cristãos serviam-se de símbolos, que pintavam nas paredes das catacumbas e, com mais freqüência, gravavam nas placas de mármore que lacravam as sepulturas.
Como os demais antigos, os cristãos gostavam muito de simbolismos. Os símbolos referiam-se de modo visível à sua fé. Os principais símbolos são o Bom Pastor, o "orante", o monograma de Cristo e o peixe. Os símbolos e afrescos são como um Evangelho em miniatura, um sumário da fé cristã.
Ignorar um símbolo de uma religião ou de uma cultura é destruir a identidade daquela comunidade ou povo. Por isso estou perfeitamente de acordo com o que dizia a Juíza Federal Maria Lúcia Lencastre Ursaia: “O Estado laico não pode ser entendido como uma instituição anti-religiosa ou anti-cultural. O Estado laico foi a primeira organização política que garantiu a liberdade religiosa. A liberdade de crença, de culto e a tolerância religiosa, foram aceitas graças ao Estado laico e não como oposição a ele. Assim sendo, a laicidade não pode se expressar na eliminação dos símbolos religiosos, mas na tolerância aos mesmos” (site “O Globo” 20.08.09)
Se para os agnósticos, ou que professam outras crenças diferentes, os símbolos católicos nada significam é porque ficam incomodados e querem impor, em nome da liberdade religiosa, a própria maneira de ver e reconhecer a fé e a cultura de um povo. Respeita e será respeitado. Se você chegou no meio ou no fim da sessão, entre e ocupe o seu lugar e procure ser ali o que você é e respeite quem chegou por primeiro.
Um país de cor de brasa, por isso Brasil, batizado em primeiro lugar como “terra de Santa Cruz” não pode negar as suas raízes. Afinal reconhecendo ou não, os símbolos permanecerão para sempre, se não nas paredes, ficará nos corações de todos aqueles que decidiram viver a sua fé comunicada pelos símbolos e sinais, linguagem simples e pura de uma realidade invisível. Tolerância religiosa não combina com fanatismo religioso. Por onde estamos caminhando?
*Dom Anuar Battisti é Arcebispo de Maringá