Lucimar Moreira Bueno(Lucia) - www.lucimarbueno.blogspot.com

quinta-feira, 23 de abril de 2009

ESQUECEMOS, MAS "CRISTO ESTÁ VIVO E NO MEIO DE NÓS!"

LECIONÁRIO REFORMADO-PRESBITERIANO
3º. DOMINGO DA PÁSCOA - ANO "B" - 2009
Atos 3,10-19 – Arrependei-vos, sejam cancelados os vossos pecados
Salmo 4 – O Senhor distingue o piedoso do justo
1João 3,16-24 – Amando, ressuscitamos
Lucas 24,36b-48 – O ressurreto está no meio de nós!

O cerne da fé cristã é a morte e a ressurreição de Jesus (Lucas 24,36b-48). As mais profundas raízes de nossa existência, o eixo da vida, sabem expressar esses significados. O fato de todos os viventes caminharem em direção à morte, cumprindo as curvas de ascendência e descendência, biologicamente, são observados histórica e existencialmente. O que significa um grande terror pode também simbolizar uma resposta que desfaz o medo e alimenta a esperança. Seguindo a Jesus, andando com ele nos seus caminhos, descobrem-se os sentidos da ressurreição. Quando o salmo diz: “a memória do justo dura para sempre”, passamos a compreender melhor porque Jesus foi chamado de o Justo, o ressuscitado que está vivo porque Deus restaura a vida na memória dos homens e das mulheres, por causa da justiça, dando continuidade à Palavra criadora que nos resgata de todas as mortes. Desaparece o Jesus pietista contado pelo fundamentalismo:“Os dias da ressurreição foram, provavelmente, vivenciados pelo círculo dos discípulos (e discípulas) de Jesus, não só posteriormente, mas originalmente, como sinal do dia do Senhor, começo da ressurreição universal”, (A.Shilatter). Necessitamos compreender isso.

Os discípulos voltam de Jerusalém desconsolados, frustrados, os fundamentos da fé estão abalados, um “estranho” homem caminha com eles. No declinar da tarde, a noite já chega, nos mesmos gestos da primeira eucaristia (“eucaristein”), antes da morte e da ressurreição. O Senhor é reconhecido no partir do pão: “ele está entre nós”. A eucaristia tem agora o sentido do anúncio escatológico no futuro, enquanto o presente já a realiza na comunhão (“koinonia”). Ela, a eucaristia, a Ceia do Senhor, é o sinal do mundo novo. Os poderes deste mundo não têm ingerência sobre ela, muito menos os poderes rebeldes sobrenaturais. Ao contrário, há uma substituição de relações. O fraternal, comunitário, equalitário, são dominados pelo novo espírito relacional, norteado pelo Espírito do Ressuscitado. O acumulativo de riqueza, de força e de poder, gerador das desigualdades, cede lugar à partilha e ao compartilhar das mesmas oportunidades redentores. A solidariedade é a chave hermenêutica desse fato eucarístico de suma importância no Segundo Testamento.

E aqui cuidaremos de não confundir a bondade, a generosidade dos que detém poder econômico, político, religioso. Não fazem o que é justo, senão a sua obrigação, quando agem. Trata-se de uma questão de justiça (dikaiosune). Justiça social, justiça política, justiça econômica, em todas as suas implicações. Já não se pode abordar este assunto para interpretá-lo no sentido alegórico ou moral, ou segundo o esquema de uma evolução histórico-salvífica de promessa e de cumprimento (Ernst Käsemann). Isso seria simplesmente ater-se à “letra morta”, como diria Paulo apontando a incrível Graça salvadora. O resultado, descobrindo-se a justiça em função da fé, e não nas obras de “piedade”, “misericórdia,” “espiritualidade penitencial, arrependimento e mudança de rumo”, “metanoia”; do “moralismo legalista”, mas no modo de reinar daquele Cristo que reconheceu também nos ímpios a capacidade dessas obras. A afirmação, de fato, é esta: celebrar a eucaristia é realizar concretamente a “fraternidade do partir do pão”, concretamente. A gratuidade divina nos lembrará disso tudo.

Desse gesto de partilha nasce o mundo novo, começa a nova história; desse gesto novas relações entre homens e mulheres se iniciam, superam-se as desigualdades, as mútuas opressões dos ódios e das intolerâncias; desse gesto virá o combate à indignidade na marginalização que sonega os direitos cidadãos, enquanto se reafirmam os direitos humanos, em toda parte. Não há paz sem justiça. O dom de Deus é para todos, sem exclusão. O círculo completa-se: desse modo Jesus se manifesta no caminho dos homens e mulheres, “parte com eles o pão”, em ação de graças, “eucaristein”, porque ele próprio experimentou esses caminhos, a partir do sofrimento cruciante de todos os homens e mulheres que padecem sob os poderes deste mundo. E agradeceu ao Pai. Não só pelo sofrimento comprometido nas lutas por libertação, mas pela solidariedade dos discípulos, em comunhão na grande causa do Reino de Deus.

Derval Dasilio
Pastor da Igreja Presbiteriana Unida