Lucimar Moreira Bueno(Lucia) - www.lucimarbueno.blogspot.com

quinta-feira, 5 de março de 2009

Papa pede à Igreja denúncia social «razoável e refletida»

Revela que sua próxima encíclica leva em consideração a crise econômica mundial
Por Jesús Colina

Neste momento de crise econômica, originada pela crise financeira, Bento XVI considera que a Igreja tem a obrigação de fazer uma denúncia «razoável e refletida» para poder ser crível.

Assim reconheceu em um diálogo espontâneo que teve com os párocos de Roma, em 26 de fevereiro, ao responder à pergunta do Pe. Giampiero Ialongo, que expôs as angústias de muitas famílias de bairros dos arredores da Cidade Eterna.

O próprio pontífice revelou que sua próxima encíclica, de caráter social, atrasou-se pois leva em conta os interrogantes éticos que a atual crise propõe.

«Como sabeis, há muito tempo estamos preparando uma encíclica sobre estes temas. E neste longo caminho, vejo como é difícil falar com competência, pois se não se enfrenta com competência a realidade econômica, não se pode ser crível», confessou.

«E, por outro lado, deve-se falar com uma grande consciência ética, criada e suscitada por uma consciência forjada pelo Evangelho», continuou dizendo.

O bispo de Roma considerou que a Igreja, em particular seus pastores, têm a obrigação de «denunciar esses erros fundamentais, os erros de fundo, que se manifestaram agora com a quebra dos grandes bancos norte-americanos».

«No final, trata-se da avareza humana como pecado ou, como diz a Carta aos Colossenses, da avareza como idolatria. Nós devemos denunciar essa idolatria que se opõe ao Deus verdadeiro e que falsifica a imagem de Deus através de outro deus, ‘Mamon’, o deus do dinheiro.»

«Devemos fazê-lo com valentia – advertiu –, mas também sendo concretos. Porque os grandes moralismos não ajudam se não estiverem baseados no conhecimento da realidade, que ajuda também a entender o que se pode fazer concretamente para mudar paulatinamente a situação. E, claro está, para poder fazê-lo, são necessários o conhecimento dessa verdade e a boa vontade de todos.»

Por isso, afirmou, «precisa-se da denúncia razoável e refletida dos erros, não com grandes moralismos, mas com razões concretas que sejam compreensíveis no mundo econômico de hoje.»

«A denúncia é importante, é um mandato para a Igreja desde sempre. Porém, as denúncias não são suficientes, é necessário também mostrar os difíceis caminhos que levam à correção dos desvios éticos que deram origem à crise.»

«É tarefa da Igreja entrar neste discernimento, neste raciocínio; fazer-se ouvir, inclusive nos diferentes níveis nacionais e internacionais, para ajudar a corrigir», afirmou no diálogo espontâneo.

«Talvez seja pessimismo, mas para mim parece realismo: enquanto se dê o pecado original, nunca alcançaremos uma correção radical e total», advertiu.

Por isso, convidou a ser realistas, a mudar a macroeconomia com a microeconomia, ou seja, em termos ético-espirituais, com «a conversão dos corações», pois «se não há justos, tampouco há justiça».

Por este motivo, afirmou, «a educação na justiça é um objetivo prioritário, inclusive poderíamos dizer que é prioridade. (...) A justiça não pode ser criada no mundo só com bons modelos econômicos, ainda que estes sejam necessários. A justiça só se realizará se houver justos. E não há justos sem o trabalho humilde, diário, de converter os corações».

Fonte: Zenit