No mundo em que vivemos existe, em todos os setores da vida, uma luta em buscar ser maior, mais importante. O filho mais velho quer atrair as mais atenções do que os filhos mais novos e vice-versa. Assim, nas empresas onde existe cargos e salários, a tendência natural é buscar ser maior. Então o desafio, hoje, está na pergunta: como encontrar lugar nesta sociedade competitiva? Como ser feliz naquilo que somos capazes de fazer? Como ser gente realizada sem perder a cabeça e entrar por becos sem saídas? Certamente os critérios para julgar e decidir não vem apenas da capacidade de produção. Não é aquilo que fazemos que nos realiza, e sim, o como e o porque fazemos.
Recordo aqui um dos mais valiosos conceitos de felicidade que o Mestre dos Mestres deixou no evangelho. “Houve ainda uma grande discussão entre eles sobre qual deles devia ser considerado o maior. Jesus porém, lhes disse: Os reis das nações dominam sobre elas, e os que exercem o poder se fazem chamar benfeitores. Entre vós, não deve ser assim. Pelo contrário, o maior entre vós seja como o mais novo, e o que manda, como quem está servindo. Afinal, quem é o maior: o que está à mesa ou o que está servindo? Não é aquele que esta à mesa? Eu, porém, estou no meio de vós como aquele que serve” (Lc 22,24-27).
No início de um novo ano, todas as empresas, organizações, instituições educativas, as prefeituras municipais com seus novos administradores, buscam adequar novos membros, sistematizar de forma mais adequada o seu quadro de funcionários. Enfim, tudo será programado para o melhor e mais produtivo. Assim, são levados em conta as capacidades, dons e talentos que são observáveis.. Em meio a este vai e vem, uma preocupação natural é a pergunta: Quanto vou receber? Qual será o salário? Ninguém vive do vento, como também ninguém vive sem fazer nada. Porém, por mais que ganhe, por mais justo que seja o salário, nunca posso esquecer de que estou prestando um serviço à alguém.
No meu trabalho é um serviço que estou prestando para o bem do outro, que independe do que ganho como recompensa. Aquilo que faço, faço bem para beneficiar alguém que lá na frente vai desfrutar do meu trabalho. Na busca de realização pessoal, nunca deve faltar a consciência de que sou um servidor, cuja vida quero viver para o bem do outro naquilo que faço. Isso parece pouco, porém aquele “que é fiel no pouco também será fiel no muito”. “Quem é fiel nas pequenas coisas vai ser fiel também nas grandes”. Trabalhar somente por aquilo que ganhamos, por mais que possa ganhar, nunca será suficiente para preencher o porque existimos. Na medida que sou capaz de dar a vida pelo bem comum e fazer os outros felizes, encontro sentido e razão para viver. A vida e o meu trabalho não têm valor econômico, ninguém pode pagar o que ganhei de Deus.
Por isso somos feitos e existimos; para colocar em comum os talentos que ganhamos de graça. Não importa o cargo, a função, o lugar de honra que posso conquistar na vida. Não importa o que faço e sim o como e o porque faço. A pergunta fica gravada na mente e no coração: “Quem é o maior?” No fim da vida vamos levar muitas surpresas, veremos muitos últimos ocupando os primeiros lugares no Reino do Céu e muitos primeiros, quem sabe, sem nenhum lugar...
Dom Anuar Battisti, arcebispo de Maringá