Às vésperas do Natal e em clima de final de ano, são muitas as necessidades e desejos a serem realizados. O consumismo toma conta do tempo e do descanso; toma conta do bolso e dos compromissos financeiros; toma conta inclusive do coração quando as preocupações não são mais a vida sobrenatural construída com uma fé simples e pequena como grão de mostarda.
O Papa Eugênio se queixou ao seu professor Bernardo de Claraval de que não conseguia mais rezar devido ao trabalho, de que era infeliz por causa de muitos afazeres. Seu professor não reagiu com compaixão. Ao contrário, passou-lhe uma bela lição, embora ele fosse o Papa. Ele mesmo era culpado por trabalhar tanto, por achar que devia ajudar a todos os pedintes, que devia interferir em todos os assuntos. Exatamente por ocupar uma posição de alta responsabilidade, era necessário cuidar de si mesmo. Pois se não cuidar de si mesmo, seu cuidado com os outros, não trará bênção. O trabalho excessivo o tornará duro e amargo interiormente. Dedicar-se a si mesmo, dar-se um tempo, dar-se a si mesmo, faz a alma respirar.
Para viver e viver bem, não se trata de ter e acumular coisas ou se afundar em compromissos por mais justos que sejam, deixando de cuidar do próprio coração. Deve dar a si mesmo, o seu amor, demonstrar a si mesmo, sua ternura. Somente assim teremos a tranqüilidade e o equilíbrio interior em todas as situações da vida, por mais difícil que sejam. Ao se aproximar o Natal e o fim de ano, precisamos dedicar tempo ao descanso do corpo, mas não para a alma. Dar-se tempo para que o espírito respire, em consonância com o corpo. Saber integrar a mente, o espírito, o corpo é uma ginástica que exige disciplina.
É bom lembrar que o próprio Jesus recomenda a seus discípulos atarefados: “Vinde vocês sozinhos para um lugar deserto e repousai um pouco” (Marcos 6-31) O grande e primeiro contemplativo da vida monástica, São Bento, dizia: “O administrador cuide de sua própria alma”. Muitos perdem o gosto de viver e por aquilo que fazem, porque não cuidam de si mesmos. Os escravos de hoje são os que gritam para se libertar de uma sociedade consumista, hedonista, de compromissos que afastam de si mesmos e de sua alma que deseja respirar. Este é o tempo para rever e recomeçar. “Eis agora o tempo da conversão, eis o dia da salvação”.
Nada nem ninguém preenche a sede de paz e de sentido da vida, a não ser o espaço que sou capaz de abrir para o Senhor da vida e da história, que se fez gente como nós. Ainda há tempo, não percamos o rumo. Temos tudo para dar um novo alento à nossa alma e ver novos horizontes surgindo para o Ano Novo 2009.
Dom Anuar Battisti é arcebispo metropolitano de Maringá - PR
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