Sr. Altino da Cruz faleceu hoje pela manhã, aos 60 anos de idade,enquanto trabalhava na sua roça. Ele não resistiu à notícia de que ojuiz Fábio Rogério França, da 11ª vara da justiça federal, concedeuuma liminar de reintegração de posse solicitada pela fazendeira Ritade Cassia Salgado de Santana exigindo que este retire a roça quecultiva a mais de 40 anos e foi herdada de seus pais. Utilizando-se demá fé, a fazendeira levou o juiz a concluir que trata-se de umaocupação recente quando é notória pela comunidade e pelos dadosapresentados nos autos que trata-se de uma comunidade tradicional.
Na Segunda e terça feira desta semana, o Sr. Altino da Cruz,acompanhado de outros membros da comunidade quilombola, esteve fazendouma romaria por diversos órgãos públicos denunciando a situação eexigindo providências. Na segunda feira os representantes dacomunidade estiveram no INCRA, na SEPROMI e no IBAMA. Na terça,voltaram ao INCRA e estiveram na Polícia Federal, entidade encarregadade cumprir a reintegração de posse. Na quarta feira Altino voltou pracasa visivelmente abatido e inconformado com a ameaça de sair da roçaque herdou dos pais e na qual trabalha por mais de 40 anos.
Hoje pela manhã, enquanto trabalhava em sua roça, Sr. Altino da Cruzdeu um forte grito e tombou no chão. Foi Levado em um carro de mão porseus companheiros até o posto de saúde da vila de São Francisco doParaguaçu e já chegou morto.
QUEM MATOU ALTINO DA CRUZ?
A comunidade de São Francisco do Paraguaçu é um grande símbolo daresistência do povo quilombola no Brasil. Historicamente explorada porgrandes fazendeiros do Recôncavo Baiano, especialmente pela famíliaSantana, tem sido vítima dos mais violentos ataques desde que foireconhecida como comunidade remanescente de quilombo.
A comunidade de São Francisco do Paraguaçu é um grande símbolo daresistência do povo quilombola no Brasil. Historicamente explorada porgrandes fazendeiros do Recôncavo Baiano, especialmente pela famíliaSantana, tem sido vítima dos mais violentos ataques desde que foireconhecida como comunidade remanescente de quilombo.
As agressões são originadas também pela família Diniz que recentementeimplantou uma RPPN dentro do território da comunidade Remanescente deQuilombo. Esta família tem usado a RPPN para captar recursos de órgãosestaduais e federais e tem sido alvo de investigação sobreirregularidades, o que levou a suspensão de projetos em andamento eimpediu a liberação de mais recursos.
Assim, as agressões e ataques foram concentrados sobre Sr. Altino daCruz, a principal liderança da comunidade remanescente de quilombo. Acomunidade foi vítima de várias ações de pistolagem e violênciapolicial como constatado em relatório oficial do Polícia Federal.Policiais armados invadiram a casa de Sr Altino da Cruz causandoconstrangimento e indignação a toda comunidade. A aliança entre osSantana e os Diniz, em conjunto com interesses ruralistas nacionais,articulou uma reportagem produzida pela rede globo de televisão quefoi provada ser fraudulenta através de sindicâncias de órgãos oficiaiscomo IBAMA, INCRA e Fundação Cultura Palmares. Desde então, a luta dacomunidade Remanescente de Quilombo São Francisco do Paraguaçuevidenciou-se como um símbolo da luta quilombola no Brasil e acomunidade tem sido alvo de freqüentes processos judiciais. A atualestratégia adotada pelos fazendeiros é impetrar sucessivas ações individuais de reintegração de posse para confundir o judiciário.
O que o Movimento dos Pescadores e Quilombolas do Recôncavo tem adizer para Elba Diniz, Lu Cachoeira e sua família Santana que a mortede Sr. Altino da Cruz não trará desânimo para a luta do povoquilombola. Pelo contrário, fecundará a terra onde nascerão muitasflores para embelezar a grande mesa no dia da festa da titulação nonosso território.