Lucimar Moreira Bueno(Lucia) - www.lucimarbueno.blogspot.com

quarta-feira, 25 de janeiro de 2012

Caminhar contra a corrente

Como é bonito ver estampado nos mais variados lugares, até em veículos, a frase "Deus é fiel". Sim, Ele é a garantia da fidelidade. Em Deus temos a força de perseverar na prática do bem, da autenticidade, da transparência.  Mas onde está esse Deus que é fiel? Longe, distante? E por isso eu faço o que quero, sou dono da verdade? Ou O tenho presente, próximo de mim como um Pai que não se esquece dos seus filhos, mas ama com amor sem medida? 

Como negar que somos à sua imagem e semelhança? No caminho de realização pessoal, ninguém pode fugir daquele que é fiel. Por isso que fidelidade exige renúncia, perdas e, consequentemente, ganhos. No jogo da vida, o placar nunca pode ser cinco a zero.  Recentemente, um amigo me mandou uma mensagem que tem tudo a ver com o que estou falando: "Ser autêntico é não deixar-se levar pelas inúmeras correntes de modismo. Não deixar-se arrastar pela força do relativismo, mas preservar os princípios. Estar abertos às inovações da vida moderna não quer dizer aceitar tudo. Há valores como justiça, honestidade, respeito à vida, que não podem sucumbir diante da perda de valores que assola a humanidade. Devemos ir contra a correnteza sem perder a coragem. Não posso me conformar com a frase ‘todos fazem assim? para justificar erros no trânsito, no serviço público, no comércio, nos estudos, na vida social, na política. Nas mínimas coisas, devo ser autêntico e fiel." Isso me fez lembrar a Palavra do Mestre Jesus: "Quem é fiel no pouco também é fiel no muito; e quem é injusto no pouco também é injusto no muito" (Lc 16,10). Tudo passa pela capacidade de valorizar em mim o que sou e o que tenho, para dar valor ao outro. 

É valorizando o outro que sou capaz de dar valor a mim mesmo. Ser autêntico e fiel no pouco vai além de qualquer status social ou religioso. Navegar nos mares da vida moderna exige garra, decisão, firmeza de caráter, compromisso inadiável com a verdade, desapego até da própria vida. As estruturas sociais, os relacionamentos, o trato igualitário, a dignidade de todos, um undo melhor... Tudo isso só será possível quando cada um nós formos melhores.  Ir contra a corrente significa ser sinal de contradição, ser luz em meio às trevas, ser capaz de dizer não à corrupção, ao desmando, às artimanhas do submundo das negociações de vantagens.  Como ir contra a corrente nestes meses que antecedem a campanha política, a escolha dos candidatos, as articulações partidárias visando o poder, sem calcular os reais envolvidos e muito menos a sua origem? Como ser autêntico e fiel neste fogo cruzado da busca de poder em nome do bem comum? Que pena não ter memória histórica! Certamente resta sempre uma esperança. Ainda há gente honesta e transparente. Há gente que dá a própria vida na defesa dos verdadeiros valores. O Céu começa aqui. Depois é só curtir os frutos de uma vida de fidelidade, remando contra a corrente. 
   
Dom Anuar Battisti Arcebispo de Maringá