Lucimar Moreira Bueno(Lucia) - www.lucimarbueno.blogspot.com

quarta-feira, 31 de agosto de 2011

Curso Bíblico Êxodo

CURSO BÍBLICO ECUMÊNICO

“A CAMINHADA DO POVO DE DEUS”

Lins, SP, 26 a 28 de agosto do 2011

ITEL - INSTITUTO TEOLÓGICO DE LINS "DOM PEDRO PAULO KOOP"

Rua Rio de Janeiro, 465 F (14) 35223330 16401-060 Lins SP

CURSO BÍBLICO EXODO 15-21

1ª PALESTRA

A CAMINHADA DO POVO DE DEUS

Sexta feira, 26 de agosto, 20hs40

1

Entrando no Assunto

O Assunto que vamos refletir neste curso é o mesmo do mês da Bíblia deste ano de 2011. Encontra-se nos capítulos 15 a 18 do livro do Êxodo que descrevem os episódios da caminhada do povo de Deus, que aconteceram no deserto, logo após a travessia do Mar Vermelho.

O Tema do Mês da Bíblia é: Travessia - passo a passo, o caminho se faz. Olhando no espelho da Bíblia, descobriremos os passos do caminho a ser percorrido por nós, passo a passo, porque nós somos hoje o Povo de Deus, fazendo a nossa travessia.

O Lema é: “Aproximai-vos da presença do Senhor!” (Ex 16,9). A força que nos mantém na estrada é o desejo de experimentar a presença amorosa de Deus, do qual nos vem a luz para guiar nossos passos ao longo da travessia.

O Objetivo a ser alcançado é:

1. animar a caminhada das nossas Comunidades

2. incentivar a partilha e a vida de oração

3. criar propostas de organização descentralizada

4. iluminar o itinerário da vida cristã

5. promover a união das comunidades e das famílias.

O Título deste Curso é “A Caminhada do Povo de Deus - Os Desafios da Travessia”. A palavra Caminhada era a palavra mais usada pelos primeiros cristãos para designar o movimento suscitada por Jesus. Não se tratava de uma caminhada qualquer, mas sim da travessia de uma situação de opressão e de não vida para a situação de vida plena: “Eu vim para que todos tenham vida e vida plena”, dizia Jesus (Jo 10,10).

No evangelho de Marcos, a palavra “Caminhada” ou “Caminho” é associada ao itinerário de Jesus com seus discípulos. Jesus estava sempre a caminho (Mc 1,2.3; 2,23; 6,8; 8,3.27; 9,33.34; 10,32.46.52; 11,8; 12,14;16,12).

O Evangelho de Lucas descreve a longa caminhada, desde a Galiléia até Jerusalém (Lc 9,53.57; 10,1; 13,22.33; 17,11), onde iria acontecer o Êxodo de Jesus: sua paixão, morte e ressurreição (Lc 9,31).

No evangelho de João, Jesus se identifica com o Caminho: “Eu sou o caminho!” (Eu sou a caminhada). É a caminhada da Verdade e da Vida (Jo 14,6)

O evangelho de Mateus descreve o mapa da caminhada no Sermão da Montanha (Mt 5 a 7): a sinalização das bem-aventuranças (Mt 5,1-12), as regras do trânsito da nova interpretação da Lei (Mt 5,17-48), o posto de abastecimento da esmola, do jejum e da oração (Mt 6,1-18), os quebra-molas das riquezas e da preocupação exagerada com roupa e comida (Mt 6,19-34) e mais outras dicas para uma boa caminhada.

Nos Atos dos Apóstolos a mesma palavra Caminho ou Caminhada é usada para identificar os cristãos (At 9,2; 19,9; 22,4; 24,14). Indicava o compromisso assumido no batismo de seguir Jesus, viver em comunidade e, assim, levar a Boa Nova do Reino pelo mundo afora.

Até hoje, a palavra “Caminhada” é a palavra mais usada para designar o movimento de renovação da Igreja através das Comunidades Eclesiais de Base.

2.

Batendo na porta do Livro do Êxodo

1. As duas partes da Cartilha da Caminhada

Entre as várias partes que formam o atual livro do Êxodo com seus quarenta capítulos está uma seção que podemos chamar de “A Cartilha da Caminhada do Povo de Deus”. Ela compreende os capítulos 15 a 24. São dez capítulos que constam de duas partes. A primeira parte do capítulo 15 a 18 descreve o início da caminhada do povo, logo após a travessia do Mar Vermelho. A segunda parte do capítulo 19 a 24 descreve a grande celebração da Aliança entre Deus e o povo, ao pé do monte Sinai.

A primeira parte: Aprendendo na prática e da prática (Ex 15 a 18).

Estes quatro capítulos reúnem alguns episódios significativos da caminhada do povo pelo deserto. Descrevem as dificuldades, as crises e as dúvidas que eles tiveram, e mostram como o enfrentamento das dificuldades os ajudava a encontrar o caminho. Pois era a primeira vez que eles estavam entrando no deserto. Tinham de aprender da própria caminhada e dos próprios erros. Estas experiências do início da caminhada, tanto as negativas como as positivas, ajudaram o povo a se organizar de maneira nova como Povo de Deus.

Os capítulos 15 a 18 contêm histórias muito simples e bem populares, às quais se aplica aquilo que diz o povo: “Quem conta um conto, aumenta um ponto”. Porém, eles aumentavam um ponto não para esconder ou perverter a verdade dos fatos, mas sim para fazer aparecer melhor a mensagem que os fatos tinham para a caminhada do povo, tanto de ontem como de hoje. Estes capítulos 15 a 18 do livro do Êxodo formam o assunto principal do Mês da Bíblia deste ano. O Tema e o Lema foram tirados destes quatro capítulos.

A segunda parte: A Celebração da Aliança (Ex 19-24).

Estes seis capítulos são um roteiro litúrgico que retoma, assume e celebra tudo aquilo que o povo tinha aprendido na caminhada pelo deserto. São quatro as partes que foram agrupadas neste roteiro litúrgico da celebração da Aliança. A 1ª parte lembra e atualiza a história da caminhada pelo deserto (Ex 19); A 2ª parte proclama os Dez Mandamentos como a nova Constituição do povo de Deus (Ex 20). A 3ª parte recita o Código da Aliança que aplica os Dez Mandamentos na situação concreta da vida do povo (Ex 21 a 23). A 4ª parte celebra o solene compromisso da aliança entre Deus e o povo (Ex 24).

E assim continuavam celebrando a aliança ao longo dos anos. Cada vez que aquelas mesmas dificuldades, descritas nos capítulos 15 a 18, voltavam a aparecer, o povo renovava o compromisso com Deus através de uma nova celebração da Aliança. Durante o Mês da Bíblia deste ano, meditaremos a parte central desta celebração da Aliança que são os Dez Mandamentos (Ex 20).

3.

Moisés vem abrir a porta do Êxodo e nos deixa entrar

A Origem da Cartilha

Se vocês fossem contar a história da caminhada da Diocese de Lins, quais os fatos vocês iriam lembrar? Qual seria o Êxodo de vocês? Todos contariam a história do mesmo jeito?

A Cartilha da Caminhada do Povo de Deus (Ex 15 a 24), do jeito que ela se encontra atualmente no livro do Êxodo, é como uma parede nova feita com tijolos velhos. O primeiro esboço da parede foi feito, provavelmente, no século VII aC, época dos reis Ezequias (716-687) ou Josias (640-609). A coesão ou a unidade que existe entre estes dez capítulos vem de um fator externo, a saber: servir como cartilha de orientação para a caminhada do povo e como roteiro na celebração e renovação da Aliança.

Na realidade, muitos elementos da cartilha são anteriores ao Séc. VII aC. Grande parte dos tijolos velhos já vinha desde o Êxodo e os Juízes (Séculos XII e XI aC) e era transmitida oralmente nas celebrações, nas festas e nos centros de romaria. Estes tijolos das tradições orais foram juntados na época do rei Ezequias (716-687) para fundamentar e fomentar a reforma religiosa por ele iniciada (cf. 2Rs 18,3-6; 20,3; 2Cr 29 a 31; Prov 25,1), ou na época do rei Josias (640-609), para retomar e consolidar a reforma, após a interrupção do governo corrupto e violento de Manassés (687-642) (cf. 2Rs 22,1 a 23,27; 2Cr 34 e 35). Eles buscavam inspiração na época do deserto para a reforma religiosa que estavam promovendo. A época do deserto era vista como ideal para animar e consolidar a reforma religiosa. Era como voltar a beber da fonte.

Bem mais tarde, durante ou depois do cativeiro da Babilônia (587 - 538), ou mesmo depois, no tempo de Esdras (Sec V), esta mesma Cartilha veio fazer parte do livro do Êxodo que, por sua vez, ficou sendo um dos cinco rolos que agora compõem o Pentateuco.

Importância e significado do rito, da celebração e da liturgia

Hoje em dia, todos os grandes acontecimentos da história são acompanhados com canto e celebração, sustentados por banda, coro e orquestra. Certos cantos ficam pendurados na memória e evocam fatos significativos da história tanto das pessoas e das famílias, como da própria nação. Quem não lembra “A Banda” de Chico Buarque de Holanda, “Caminhado e Cantando” de Geraldo Vandré ou “Vitória, Tu reinarás” de Sexta Feira Santa? Cada um de nós conserva na memória cânticos ou músicas que marcaram as etapas de sua vida.

Assim também acontecia na história do povo de Deus. Durante séculos lembravam e cantavam o refrão do Cântico de Vitória que Miriam, irmã de Moisés, entoou logo após a travessia do Mar Vermelho (Ex 15,21). Ela puxou o cordão e levou todas as mulheres a participar e a assumir a nova caminhada. Mais tarde o Cântico foi aumentado (Ex 15,1-18) e começou a ser lembrado como o Cântico Novo, pois celebrava a nova ordem instaurada pela ação libertadora de Deus. A vontade de cantar um “Cântico Novo” continuou viva ao longo dos séculos, sobretudo nos salmos (cf. Sl 33,3; 40,4; 96,1; 98,1; 144,9; 149,1) até no Apocalipse (Ap 14,3). Até hoje nas comunidades cantamos: “Quero entoar um canto novo de alegria....!”

Por isso, não é de se admirar que o rito e a celebração ocupem um lugar tão importante na Cartilha da Caminhada do Povo de Deus. A primeira parte (Ex 15 a 18) começa com o Cântico de Miriam (Ex 15,1-21). Em seguida, vêm as histórias da caminhada que eram narradas e rezadas, contadas e cantadas nas celebrações das comunidades, nas romarias e nas grandes festas. A segunda parte (Ex 19-24) é toda ela um roteiro de celebração, na qual o povo se coloca diante de Deus para assumir definitivamente tudo aquilo que aprendeu ao longo da caminhada.

Em geral, roteiros ou folhetos de celebração têm de tudo, mas não dizem tudo. Só dão o esqueleto e a seqüência das várias partes da celebração. A carne, o coração e a vida vêm da vibração do povo que participa, e da animação de quem preside a celebração. Assim é hoje, e assim era naquele tempo. A cartilha não diz tudo. Aparentemente, parece ser um relato seco de histórias e de leis. Na realidade, a Cartilha da Caminhada do Povo de Deus (Ex 15-24) foi uma das ferramentas mais importantes para animar o povo, conservá-lo na sua identidade e mantê-lo na fidelidade aos compromissos da Aliança. Sem uma boa celebração as pessoas não se firmam na caminhada e na luta do povo.

Por isso, também hoje nas nossas Comunidades, é importante dedicar um bom tempo à Celebração, à Oração e à pastoral litúrgica, para que nossas celebrações deixem de ser um ritualismo vazio e se tornem uma real expressão da vida comunitária: rezar o que meditamos; agradecer o que partilhamos; assumir o que prometemos; pedir força para cumprir o que assumimos.

Aprendendo a ler a história do Êxodo do povo da Bíblia

Na Cartilha da Caminhada do Povo de Deus não se trata só de lembrar algum fato do passado. Trata-se, ao contrário, de superar as diferenças entre passado e presente. Na celebração dos grandes eventos do passado como o Êxodo, passado e presente se misturam. O livro do Deutero­nômio, escrito vários séculos depois, diz o seguinte a respeito da aliança concluída no Monte Sinai logo depois da saída do Egito: “Javé não concluiu esta aliança com nossos pais, mas conosco, que estamos hoje aqui, todos vivos” (Dt 5,2-3). Eles tinham a convicção de que todos faziam parte do único e mesmo Povo de Deus, tanto os da época do Deuteronômio (S. VII AC), como do Êxodo que saíram do Egito no século XIII aC. Uma diferença de 600 anos! Eles voltavam ao passado. Ou melhor, traziam o passado para o presente. O Êxodo continuava acontecendo na vida deles.

Por isso, não tiveram nenhum problema em aumentar o número do pequeno grupo que saiu do Egito, liderado por Moisés. Chegaram a dizer que só de homens aptos para a guerra de vinte anos para cima havia mais de 600.000! (Ex 12,37; Nm 1,3.46). Isto daria ao todo, incluindo mulheres, velhos e crianças, no mínimo 3 a 4 milhões de pessoas! Tanta gente nem caberia naquele deserto do Monte Sinai! É que aí estão incluídos todas as pessoas, as do passado, as do presente e as do futuro, que somos nós hoje! Todos e todas temos que viver em estado permanente de Êxodo. O Êxodo está acontecendo sempre! Acontece até hoje, aqui no Brasil!

Na Cartilha da Caminhada do Povo de Deus, os tempos se misturam. O povo volta ao tempo do Êxodo e, ao mesmo tempo, traz o Êxodo para o hoje deles. Nós fazemos o mesmo quando cantamos: “O Povo de Deus no deserto andava”, pois acrescentamos: ”Também sou teu povo Senhor e estou nesta estrada”. Fazemos o mesmo quando celebramos a Eucaristia. Na Eucaristia voltamos ao passado da paixão, morte e ressurreição de Jesus, e trazemos estes fatos do passado para o nosso presente. A celebração abre para todos um acesso à origem constituinte do povo de Deus e, assim, nos oferece a possibilidade de integrar-nos nele e de recebermos dele a nossa identidade e missão.

Por isso não é de estranhar que esta antiga Cartilha da Caminhada do Povo de Deus foi sugerida como texto central para o Mês da Bíblia deste ano de 2011. A diferença no tempo desaparece. O êxodo aconteceu no século XIII antes de Cristo. A elaboração e redação da Cartilha são do século VII antes de Cristo. Jesus o retomou no século 1 da nossa era. Nós vivemos no século XXI depois de Cristo. Mas é o mesmo Deus que nos conduz, e participamos todos e todas do mesmo Êxodo, no mesmo Espírito.

A Caminhada do Povo de Deus e as Murmurações do povo contra Moisés

Uma coisa que chama a atenção da gente ao lermos a história do Êxodo é a grande freqüência com que, lá no deserto durante a caminhada, o povo reclamava de Moisés. A Bíblia usa a expressão murmurar ou murmuração. Cada vez de novo, por muitos motivos e em muitas ocasiões, eles murmuravam, criticavam, reclamavam, protestavam. Muita murmuração e reclamação, o tempo todo, desde o início do Êxodo até o fim (Ex 2,14; 5,21; 6,9; 14,11-12; 15,24; 16,2.7-8; 17,2-3; Nm 11,4; 14,2; 16,11.25; 20,2; Sl 106,7.14.25.32).

Hoje também, as murmurações são muitas. Há muitas causas que provocam as murmurações: medo, sede, fome, descrença, desânimo, divisão, dominação, legalismo etc. Neste curso vamos ver como foi que eles conseguiram vencer as causas da murmuração e assumir, cada vez de novo, sua caminhada como Povo de Deus para assim sabermos como vencer em nós as murmurações. Vamos passar a noite murmurando, e amanhã veremos como vencer as murmurações.

Quais são hoje as murmurações que mais aparecem entre nós? Contra quem?

Quem é hoje o Moisés contra o qual o povo murmura?

Quem é hoje o faraó que não nos deixa sair para realizar nosso Êxodo?


PALESTRA

Sábado 08:30 horas

Passamos a noite nas murmurações, Hoje vamos ver como enfrentar e vencer as murmurações. As murmurações são muitas, pois são muitas causas que provocam as murmurações dento e fora de nós: medo, sede, fome, descrença, desânimo, divisão, dominação, legalismo etc. Hoje vamos ver de perto como foi que o povo da Bíblia conseguiu vencer as causas da murmuração e assumir, cada vez de novo, sua caminhada como Povo de Deus. Assim sabermos como vencer em nós as murmurações.

A força do Canto da Vitória Vence a murmuração causada pelo medo Ex 15,1-21

A Luz da Lei da Deus. Vence a murmuração causada pela sede Ex 15,22-27

A Garantia da Partilha. Vence a murmuração causada pela fome Ex 16,1-35

A Certeza do Deus Conosco. Vence a murmuração causada pela descrença Ex 17,1-7

A Esperança da Oração. Vence a murmuração causada pelo desânimo Ex 17,8-16

A União das Famílias. Vence a murmuração causada pela divisão Ex 18,1-12

A Participação nas Decisões. Vence a murmuração causada pela dominação Ex 18,13-27

A Liberdade dos Mandamentos Vence a murmuração causada pelo legalismo Ex 20,1-210

1º Assunto

A FORÇA DO CANTO DA VITÓRIA

VENCE A MURMURAÇÃO PROVOCADA PELO MEDO

Ex 15,1-21

Você já participou alguma vez de uma reunião de Comunidade Eclesial de Base em que não houvesse nem reza nem canto? Não existe! Sempre se reza e se canta. Você já reparou como em todos os grandes eventos se canta? Numa passeata, romaria ou mesmo num passeio de confraternização, o povo canta. Entre os jovens nas rodas que eles vão formando, o que mais se faz é cantar. Pois, “quem canta reza duas vezes”, diz o povo. Na exaltação da Cruz na Sexta Feira Santa se canta: “Vitória, tu reinarás!” O canto congrega, anima, fortalece, supera o medo, abre novos rumos. Toda organização que se preza tem um cântico que a identifica e cria coesão entre os seus membros. No CEBI um dos cânticos que mais se canta e mais une o pessoal é: “Migrante” de frei Domingos, cujo refrão diz assim: “Quero entoar um canto novo de alegria, / ao raiar aquele dia de chegada em nosso chão. / Com meu povo celebrar a alvorada, / minha gente libertada, / lutar não foi em vão!” No livro do Êxodo, a cartilha da caminhada do Povo de Deus também começa com um canto: “Cantai a Javé, pois de glória se vestiu: ele jogou ao mar cavalo e cavaleiro!”. É o refrão do Cântico de Miriam, irmã de Moisés, cuja letra vamos meditar neste primeiro Círculo. Pena que a Bíblia não conservou a melodia. Quem sabe, alguém do grupo cria uma melodia!

1. Qual o canto de hoje de que você mais gosta? Por quê?

2. Por que será que o canto é tão importante para a caminhada das Comunidades?

3. O canto já te ajudou a vencer o medo? Conte como foi.

Luzes da caminhada do povo da Bíblia: Eles acabaram de sair do Egito. Mas alegria de pobre dura pouco. De repente, diante deles, a barreira do Mar Vermelho impedindo a passagem. Atrás deles, o exército do Faraó querendo escravizá-los de novo (Ex 14,9). Estavam num beco sem saída. O medo tomou conta de todos, e eles começam a murmurar contra Moisés (Ex 14,10-12). Deus disse a Moisés: “Diga ao povo que avance!” (Ex 14,15). O povo avançou, deu um passo e, de repente, o mar se abriu e eles escaparam para a liberdade. A força do faraó foi definitivamente derrotada! Alívio enorme para quem viveu mais de 400 anos como escravo no Egito. O alívio e a alegria explodiram num canto! Vamos ouvir a leitura da letra deste canto. Durante a leitura, não repare nos exageros do canto, mas experimente a grandeza do poder libertador de Deus que vence o medo, e sinta a alegria dos pequenos e oprimidos, finalmente libertados.

Leitura lenta e atenta de Êxodo 15,1-21

Um momento de silêncio

Repetir uma ou outra frase que mais tocou o coração

Ex 15,1: Traz o refrão que será retomado em Ex 15,4 e, no fim, em Ex 15,21

Ex 15,2-5: Traz a primeira reação do povo diante da obra de Deus libertando o povo:

vv. 2-3: Expressa a nova fé em Javé, Deus libertador, que acabava de nascer no povo

vv. 4-5: Traz o motivo desta fé: aquilo que Deus acabou de fazer para libertar o povo

Ex 15,6-12: Traz uma prece de louvor e gratidão em resposta ao que Deus fez para o povo. No início e no fim desta prece se menciona a “mão direita” de Deus, símbolo do seu poder libertador.

Ex 15,13-17:Desdobramento da ação do Êxodo em outros fatos ao longo da história nos séculos que vieram depois.

Ex 15,18: Afirma a meta final de tudo: o Reino de Deus, que será retomado por Jesus.

Ex 15,19-21:Traz um resumo de tudo, e descreve a iniciativa de Miriam.

1. Qual o ponto deste canto que mais tocou seu coração? O que você sentiu? Por quê?

2. Quais as características da imagem de Deus que transparece neste cântico?

3. Qual a mensagem deste canto de Miriam para nós hoje?

1. Diz o povo: “Quem conta um conto, aumenta um ponto!” E quem canta um canto aumenta mais ainda. A letra do Cântico de Miriam traz fatos da história que aconteceram muito tempo depois da Travessia do Mar Vermelho. P.ex. em Ex 15,13 se refere “à morada santa”, ié, ao templo de Jerusalém, construído duzentos anos depois. Fala ainda dos povos que eles tiveram de enfrentar muito tempo depois: os filisteus (Ex 15,14), os chefes de Edom, Moab e de Canaã (Ex 15,15). Diz ainda aludindo novamente ao templo de Jerusalém: “Tu o conduzes e o plantas sobre o monte da tua herança, no lugar em que fizeste teu trono, ó Javé, no santuário que tuas mãos prepararam” (Ex 15,17). Como entender estes acréscimos posteriores? É que para eles o Êxodo não era um fato só do passado. Eles procuravam viver em estado permanente de êxodo. Por isso atualizavam o canto, incluindo os fatos novos que aconteceram depois. Você já tentou atualizar a letra do Canto da Miriam para nós hoje? Tente!

2. Nos versículos 19 a 21, se diz que a profetisa Miriam, irmã de Moisés, puxou o canto e as mulheres formaram um coro de dança para celebrar a vitória. Eis a letra do refrão: “Cantem a Javé, pois sua vitória é sublime. Ele atirou no mar cavalos e cavaleiros!” (Ex 15,21). Este refrão é um dos textos mais antigos da Bíblia. Era um refrão muito conhecido que todos sabiam de cor e salteado. Assim também nós temos hoje refrões que todos sabem de memória: “Prova de amor maior não há!”, “Caminhando e cantando”, “A nós desceu, Divina Luz!”, “Eu confio em Nosso Senhor”, etc....

3. Murmurar, reclamar, criticar, protestar, resmungar. O povo reclamava muito com Moisés, desde o começo até o fim do Êxodo (Ex 2,14; 5,21; 6,9; 14,11-12; 15,24; 16,2; 16,17-18; 17,2-3; Nm 11,4; 14,2; 20,2; Sl 106). Reclamava e murmurava porque faltava comida, faltava água, tinha medo, ficava sozinho. É fácil iniciar a caminhada. Difícil é manter-se na caminhada sem reclamar nem murmurar. Até hoje é assim, seja na história das Comunidades e da Igreja, seja na história do Brasil. A história do Êxodo narrada na Bíblia é um espelho do que acontece hoje entre nós.

2º Assunto

A LUZ DA LEI DE DEUS

VENCE A MURMURAÇÃO PROVOCADA PELA SEDE

Ex 15,22-27

Eles saíram do Egito, atravessaram o Mar Vermelho e, finalmente, experimentaram a liberdade, fruto da ação libertadora de Deus. Mas três dias depois, após uma caminhada cansativa pelo deserto, já veio a decepção. Chegaram perto de um lençol de água, e a água era amarga. Reação imediata: começaram a murmurar contra Moisés (Ex 15,24): “O que vamos beber?” Esperavam uma coisa e encontraram outra, totalmente contrária. Decepção tremenda. Na caminhada das nossas comunidades acontece o mesmo. Vitórias e decepções vão se alternando, como a luz do dia e a escuridão da noite. Muitas murmurações. Há murmurações que fazem crescer, e murmurações que fazem desistir e desanimar.

1. Você já teve alguma decepção na sua vida pessoal ou familiar? Conte. Como reagiu?

2. Quais as murmurações na sua comunidade? Como reagiram?

3. Olhando a história do Brasil dos últimos 40 anos, tivemos decepções? Quais? Quais foram as murmurações? Como reagimos?

Luzes da caminhada do povo da Bíblia. O povo está sem água potável no deserto. Muita sede. Sem água não há vida. Moisés reza a Deus. Deus mandou jogar uma planta na água. A água ficou boa e devolveu a vida ao povo. Qual o significado deste fato surpreendente? Durante a leitura, fique com esta pergunta na cabeça: “Que planta é esta que torna a água boa para beber e devolve a vida ao povo?”

Leitura lenta e atenta de Êxodo 15,22-27.

Um momento de Silêncio

Repetir uma ou outra frase que mais tocou o coração

Ex 15,22-24: Descreve a caminhada de três dias no deserto. Descobrem água, mas não é potável. É amarga; águas amargas, Mara. O povo começa a murmurar: “O que vamos beber?”

Ex 15,25ª: Moisés reza a Deus. Deus lhe mostra uma planta. Moisés a jogou na água que ficou boa.

Ex 15, 25b-26:Moisés revela o significado do fato: Deus coloca o povo à prova, para que jogue a planta da Lei de Deus na água amarga da vida. Assim a vida ficará boa, sem doenças.

Ex 15,27: O povo aceitou o desafio, colocou a planta da Lei de Deus na vida e, pouco tempo depois, encontraram doze fontes de água boa e abundante e setenta palmeiras. Oásis bonito e agradável, onde acamparam (Ex 15,27).

1. O que mais chamou a sua atenção neste texto? Por quê?

2. Que planta é esta que torna a água boa para beber e devolve a vida ao povo?

3. Qual a lição que tiramos disso para a vida da nossa comunidade?

1. Até hoje, as histórias do povo costumam ter um significado mais profundo. Isto obriga a gente a ler as histórias da Bíblia com muita atenção, pois nem tudo pode ser tomado ao pé da letra. O seguinte fato de hoje esclarece o que queremos dizer. Um romeiro, que foi à festa de São Francisco de Canindé no Ceará, contou para os outros como na volta o caminhão cheio de devotos do Santo caiu num buraco. Ele disse: “Mas não afundou não! Deus segurou!” Um estudante que escutava a história perguntou: “Como é que Deus fez? Usou guindaste?” O romeiro olhou para o rapaz com um olhar de piedade e disse assim: “Desculpe, mas você não pegou o espírito da coisa!”

2. Os fatos vão acontecendo na vida da gente. Nem sempre entendemos o que nos acontece. Refletimos sobre os fatos para saber o que Deus nos quer dizer. De repente, um clarão de luz se faz e nos revela o significado. Cai a ficha! Os fatos começam a revelar a sua mensagem. Foi o que aconteceu com o povo depois da travessia do Mar Vermelho. Caminhando pelo deserto, eles ficaram com sede, mas só encontravam águas amargas. Começaram a reclamar com Moisés. Moisés rezou a Deus. Deus mandou que jogasse uma planta ou um pedaço de madeira na água (cf. Eclo38,5). De repente, a água ficou boa. Este era o fato. Refletindo sobre o fato, eles descobriram o seu significado: a água amarga simboliza a vida do povo; a planta ou o pedaço de madeira representa a Lei de Deus. Aí tudo se esclareceu e apareceu o apelo de Deus: Jogando a planta dos Dez Mandamentos na água da vida, a vida se tornará saudável e boa, agradável de ser vivida. Observando os mandamentos da Lei de Deus, eles nunca irão ter as enfermidades que tiveram os egípcios (Ex 15,26).

3. A observância dos Dez Mandamentos da Lei de Deus é uma ferramenta importante na construção de uma sociedade nova que seja justa e fraterna, o contrário da opressão do Faraó no Egito. Sobre isto vamos refletir de novo no oitavo e último círculo bíblico deste livrinho.

1. Por que será que o canto é tão importante para a caminhada das Comunidades? Qual o canto de hoje de que vocês mais gostam? Por quê?

2. Quais as características da imagem de Deus que transparece no cântico da Miriam? Qual a mensagem do cântico da Miriam para nós hoje?

3. Quais as murmurações na nossa comunidade? Como reagimos? Quais as murmurações hoje no Brasil? Como reagimos?

4. Qual é hoje a planta que devemos jogar na água, para que a água fique boa e devolva a vida ao povo?


3ª PALESTRA

Sábado 10:30 horas

A SEGURANÇA DA PARTILHA

VENCE A MURMURAÇÃO PROVOCADA PELA FOME

Ex 16,1-36:

Faltou comida no deserto. De novo, muita murmuração (Ex 16,2). Deus enviou o maná, todos os dias. Teve gente que tentava acumular mais do que precisava, mas não conseguia (Ex 16,16.20). E a quem pegava menos, não faltava (Ex 16,18). Se hoje a TV anunciasse: “Na semana que vem vai faltar café e açúcar”, o que iria acontecer? Todo mundo iria comprar café e açúcar nos supermercados. Iríamos acumular para poder atravessar o tempo da falta. No Egito o sistema do faraó estava baseado no acúmulo. Por exemplo, José, o vice-governador do Egito, soube aproveitar a falta de alimentos para acumular para o faraó toda a riqueza do povo do Egito (Gn 47,13-26). A tendência de acumular parece inata em nós, porque o acúmulo nos dá segurança. Primeiro, pensamos em nós mesmos, e só depois nos outros. E esta tendência cresce quando sentimos falta de algo ou quando a fome aperta.

1. O que hoje dá mais segurança a você? Por quê?

2. Qual seria a causa desta vontade nossa de acumular?

3. Por que é tão difícil partilhar?

Luzes da caminhada do povo da Bíblia. A história do maná é muito conhecida. Mas muitas vezes passa despercebido a mensagem principal desta história do maná. Deus diz que o maná vai ser dado “para que eu o experimente e veja se o povo observe a minha lei, sim ou não!” (Ex 16,4). A história do Maná é, antes de tudo, um teste. Durante a leitura, vamos ficar com esta pergunta na cabeça: “Qual o teste? Qual a prova pela qual o povo deve passar para ver se realmente observa a lei de Deus? E de que lei se tratava?” A história do Maná é longa. Vamos ler ao menos até o versículo 21. Se quiser, pode ir até o versículo 36.

Leitura lenta e atenta de Êxodo 16,1-22

Um momento de Silêncio

Repetir uma ou outra frase que mais tocou o coração

Ex 16,1-3: O povo já está no 15º dia do segundo mês da caminhada pelo deserto. Pouca comida e muita fome, O povo começa a murmurar contra Moisés.

Ex 16,4-5: Deus promete fazer chover pão e carne, mas será um teste: só podem recolher o necessário para um só dia. Na sexta feira, porém, devem recolher também para o sábado.

Ex 16,6-12: Moisés e Aarão levam o recado de Deus ao povo.

Ex 16,13-16: Descreve o dom do Maná e das Codornizes, e repete a ordem de Javé

Ex 16,17-21: Cada um recolhe de acordo com a necessidade da sua família. Para os que desobedeceram, apodreceu o que acumularam a mais. Para os que recolheram menos nada faltou.

Ex 16,22-30: Descreve o procedimento para o dia do sábado, dia de descanso, no qual não cairá o maná do céu.

Ex 16,31-36: Informações gerais e resumo do dom do Maná. (Algumas bíblias omitem o versículo 36).

1. O que mais chamou a sua atenção nesta história do maná? Por quê?

2. Qual era mesmo o teste de Deus para o povo? Qual a prova pela qual o povo devia passar para ver se realmente observava a lei de Deus? E de que lei se tratava?”

3. A história do Maná era um teste. Se fosse aplicar este teste hoje na sua comunidade, ela passaria pelo teste? Sim ou não? Por quê?

1. Além de sede, o povo também passou fome ao longo da travessia pelo deserto. Essa fome lhe trazia saudades do tempo da escravidão no Egito, onde, apesar da dureza dos trabalhos forçados, havia pão e carne em abundância. Por isso, começaram a murmurar contra Moisés (Ex 16,2-3). Deus promete fornecer o alimento necessário para a travessia, mas sob uma condição muito importante: o povo deve aprender a vencer a tentação de acumular. Aqui está o ponto chave de toda a espiritualidade bíblica: não acumular, mas saber partilhar e contentar-se com o necessário para cada dia. Tudo o mais é supérfluo. Eles devem colocar sua segurança não no acúmulo nem no dinheiro, mas na partilha, pois, como dirá Jesus, “vocês não podem servir a Deus e ao dinheiro” (Lc 16,13). Sabendo partilhar e sabendo organizar a partilha, haverá comida para todos. Se no Brasil houvesse partilha, não haveria fome, e sobraria comida para todo o resto da América Latina.

2. No tempo de Jesus, lá na Galiléia, por causa do acúmulo das terras na mão de poucos (latifúndio) e também por causa da repressão romana, o povo passava por muitas necessidades e procurava garantir a sobrevivência acumulando coisas. Muitos viviam preocupados com comida e agasalho, querendo garantir o dia de amanhã. Jesus mandava olhar os passarinhos e as flores do campo. Eles não trabalham e Deus cuida deles. Jesus ensina que o povo não deve ficar preocupado com o dia de amanhã (Mt 6,25-34). E conclui: “Procurem primeiro o Reino de Deus e a sua justiça, e todo o resto vos será dado por acréscimo” (Mt 6,33). Procurar o Reino de Deus e a sua justiça é o mesmo que praticar e organizar bem a partilha, para que não falte nada a ninguém. A multiplicação dos pães, narrada seis vezes nos quatro evangelhos (Mt 14,15-21; 15,32-39; Mc 6,34-44; 8,1-9; Lc 9,12-17; Jo 6,1-13), acentua a importância da partilha. Jesus não multiplica qualquer pão. Ele só multiplicou os cinco pães que foram partilhados e oferecidos a ele. A celebração da eucaristia celebra o pão partilhado e denuncia a comunidade que não pratica a partilha (1Cor 11,17-34).

3. Os primeiros cristãos souberam praticar este ensinamento. E até hoje cantamos: “Os cristãos tinham tudo em comum, dividiam seus bens com alegria. Deus espera que os dons de cada um se repassem com amor no dia a dia” (cf. At 2,44-45; 4,32-35). Era a vontade de viver mais profundamente a lei de Deus, a Boa Nova da lei do amor, que levou Barnabé a dividir e partilhar uma pequena roça (At 4,36-37). Foi a vontade de se promover a si mesmo a custa da comunidade que levou Ananias e Safira a enganar os irmãos. Os dois morreram para a vida comunitária (At 5,1-11). Jesus só multiplica o pão que for partilhado.

1. Por que será que o canto é tão importante para a caminhada das Comunidades? Qual o canto de hoje de que vocês mais gostam? Por quê?

2. Quais as características da imagem de Deus que transparece no cântico da Miriam? Qual a mensagem do cântico da Miriam para nós hoje?

3. Quais as murmurações na nossa comunidade? Como reagimos? Quais as murmurações hoje no Brasil? Como reagimos?

4. Qual é hoje a planta que devemos jogar na água, para que a água fique boa e devolva a vida ao povo?

5. Qual seria a causa desta vontade nossa de acumular o maná? Por que é tão difícil partilhar?

6. A história do Maná era um teste. Se fosse aplicar este teste hoje na sua comunidade, ela passaria pelo teste? Sim ou não? Por quê?


4ª PALESTRA

Sábado 17:15 horas

A CERTEZA DO DEUS CONOSCO

VENCE A MURMURAÇÃO CAUSADA PELA DESCRENÇA

Ex 17,1-7

O texto do Êxodo que vamos meditar hoje fala da dúvida de fé que o povo teve. Todos nós temos fé. Alguns têm uma fé que parece rocha. Nunca se abala. Outros vivem na dúvida e nunca têm certeza. Outros têm uma fé inabalável, mas na primeira provação tudo desaba. Em quase todos nós, de vez em quando, alguma dúvida se infiltra no pensamento: “Será que posso confiar? Será que Deus está comigo, conosco?” Você não quer duvidar, mas a dúvida vem e incomoda. Uns mandam a dúvida embora. Outros querem duvidar. Ficam se torturando, alimentando dentro de si a incerteza. Há dúvidas pequenas que não fazem parte do centro da fé, e há dúvidas que tiram o tapete debaixo dos pés da gente. Uma coisa é duvidar se existe limbo ou purgatório. Outra é duvidar se Deus me ama; se Ele está comigo; se está conosco na comunidade.

1. Você já teve dúvidas de fé? Dúvida grande ou pequena? Como é que você fez?

2. O que leva você a duvidar da presença de Deus em sua vida?

3. O que acha: é bom ter umas dúvidas de vez em quando? Sim ou não? Por quê?

Luzes da caminhada do povo da Bíblia. O texto que vamos meditar hoje é muito importante. O povo, com sede no meio do deserto, esbarra numa rocha seca sem água. Nova decepção, novo murmúrio contra Moisés (Ex 17,3). O povo se sente abandonado e descrente de tudo. Moisés bateu na rocha e da rocha seca brotou uma fonte. Durante a leitura, fiquemos com esta pergunta na cabeça: Qual foi mesmo a descrença ou a dúvida do povo?

Leitura lenta e atenta de Êxodo 17,1-7.

Um momento de Silêncio

Repetir uma ou outra frase que mais tocou o coração

Ex 17,1-3: Descreve a continuação da caminhada pelo deserto e a falta de água que levou o povo a murmurar e reclamar com Moises.

Ex 16,4-6ª: Moises, com medo de ser morto pelo povo, clama a Deus. Deus manda Moisés bater na rocha, e dela sairá água para o povo beber.

Ex 16,6b-7: Moisés fez como Deus mandou. Bateu na rocha e a água jorrou. Deu ao lugar o nome de Massa (provação) e Meriba (contestação).

1. O que mais chamou a sua atenção neste texto? Por quê?

2. Qual foi mesmo a dúvida ou a descrença do povo?

3. Por que não podemos duvidar da presença de Deus em nossa vida?

4. Qual a mensagem que tiramos deste texto para nós hoje aqui no Brasil?

1. A primeira vez que o povo murmurou foi quando encontraram a água amarga. Eles chamaram o lugar de Mara, isto é, Amargosa (Ex 15,23). O nome ficou na memória como lembrança para nunca esquecer que deviam lançar a planta verde da lei de Deus na água amarga da vida, para que a vida fosse mais vida (Ex 15,25-27). Agora, novamente, mudaram o nome do lugar e o chamaram de Massa (tentação ou provação) e Meriba (discórdia ou contestação) (Ex 17,7). Este fato entrou na história como sendo das águas da provação ou da discórdia. Ele ocorre em vários lugares da Bíblia para lembrar ao povo de nunca duvidar da certeza central na nossa fé: Deus está conosco. Diz o Salmo 95: “Não endureçam seus corações como aconteceu em Massa e Meriba” (Sl 95,8).

2. A maior certeza que a Bíblia nos comunica é esta: Deus está conosco! Esta verdade central da nossa fé está expressa no próprio nome de Deus que se escreve com estas quatro letras: JHWH, nome que nós pronunciamos como Javé. Outros o traduzem por Senhor. Foi o nome que Deus revelou a Moisés quando o chamou para libertar o povo da opressão do Faraó (Ex 3,7-15). É o nome que Jesus recebe: Emanuel, Deus conosco (Mt 1,23). Este nome ocorre mais de 6000 vezes (seis mil!) só no Antigo Testamento. Esta insistência no Nome de Deus ensina que podemos duvidar de tudo, menos de uma coisa, a saber: que Deus está conosco. É preciso ter muita coragem para crer sempre nesta verdade central da nossa fé. Há momentos na vida em que Deus parece estar longe da gente. Nem parece existir! Porém, quem tem a coragem de crer neste Nome de Deus, pode ter a certeza de que Deus o ajudará sempre. Deus mesmo diz:“Eu o protegerei, porque ele conhece o meu nome” (Sl 91,4). O Nome de Deus é a rocha de onde sai água sempre que a gente bate nela. “Nosso auxílio está no Nome do Senhor que fez o céu e a terra!” (Sl 124,8). Jesus manda rezar: “Santificado seja o teu Nome!” (Mt 6,9).

3. Para perceber todo o alcance deste eixo central da nossa Fé, convém ler Números 20,2-13, onde se descreve o mesmo episódio, mas com esta diferença. Até o próprio Moisés chegou a duvidar. Em vez de dizer ao povo: “Venham ver! Deus fará sair água desta rocha!” Ele disse: “Vocês acreditam que poderemos tirar água desta rocha?” (Nm 20,10) Em vez de afirmar a certeza da sua fé no poder de Deus, Moisés formulou uma pergunta para o povo. Até Moisés duvidou. Um salmo diz que ele falou irrefletidamente (Sl 106,33). E o castigo da dúvida de Moisés foi pesado. Deus disse para Moisés e Aarão: "Já que vocês não acreditaram em mim e não reconheceram a minha santidade na presença dos filhos de Israel, vocês não farão esta comunidade entrar na terra que eu vou dar a eles" (Nm 20,12). Os dois morreram antes. Nenhum dos dois pôde levar o povo até a Terra Prometida! Por que este castigo tão pesado? Porque duvidaram do centro, do eixo, do miolo da fé: Deus está conosco! No livro do Deuteronômio, na hora da morte de Moisés, Deus novamente lembra a Moisés que ele vai morrer antes de entrar na terra prometida porque não acreditou no Nome (Dt 32,51-52). Só entra na Terra Prometida quem vive na certeza da presença de Deus. “O Senhor esteja convosco! Ele está no meio de nós!”


5ª PALESTRA

Sábado 19:30 horas

A ESPERANÇA DA ORAÇÃO

VENCE A MURMURAÇÃO CAUSADA PELO DESÂNIMO

Ex 17,8-16:

O texto da Bíblia que vamos meditar hoje fala do cansaço do povo na luta. Há lutas que parecem não ter fim. A gente luta e luta, e parece que não adianta nada! Luta contra as drogas, e o filho volta a tomar droga. Luta para conseguir ajuda na prefeitura e, quando parece que vai conseguir, volta tudo à estaca zero. Luta contra a violência no bairro e, em vez de diminuir, ela aumenta sempre mais, causando medo em todo mundo, grade em todas as casas, alarme em todas as esquinas. Luta para ver se o vigário deixa os leigos participar e, no fim, ele resolve tudo sozinho sem consultar ninguém. Luta para a gente vencer dentro da gente a explosão da raiva, e cada vez de novo a raiva explode contra as pessoas da própria família. Adianta lutar? A gente luta para vencer o inimigo, e o inimigo vence a gente. Tem pessoas que dizem: Deixe para lá essas lutas! Aproveite a vida!

1. Quais são as causas do desânimo das pessoas na sua comunidade? Por que desanimam?

2. Você tem alguma experiência de luta em que foi derrotado? Como reagiu?

3. Você tem alguma experiência de luta em que obteve a vitória? Como reagiu?

4. Em que momentos da sua vida você costuma rezar mais? Por quê?

Luzes da caminhada do povo da Bíblia. Os inimigos atacam. Eles parecem mais fortes. O povo está cansado e enfraquecido por causa da longa caminhada pelo deserto. Mas ele não pode desanimar. Travessia não é passeio, mas significa lutar, correr riscos, inclusive o da própria existência. Durante a leitura, fiquemos com esta pergunta na cabeça: “Por que os braços de Moisés não podem cair?”

Leitura lenta e atenta de Êxodo 17,8-16.

Um momento de Silêncio

Repetir uma ou outra frase que mais tocou o coração

Ex 17,8: Informa a respeito de um ataque dos Amalecitas contra o povo de Israel

Ex 17,9: Moisés manda Josué combater o inimigo, enquanto ele mesmo fica na montanha com a “vara de Deus” na mão

Ex 17,10-11: Josué combate e Moisés com Araão e Hur fica na montanha. Enquanto Moisés, em atitude de oração, está com as mãos levantadas, Israel vence. Com as mãos abaixadas, os amalecitas vencem.

Ex 17,12-13: Para evitar cansaço, Moisés senta numa pedra, e Araão e Hur sustentam as mãos de Moisés para o alto, até o pôr do sol. Josué ganhou a batalha.

Ex 17,14: Deus manda escrever num livro a promessa de que Ele vai acabar com os amalecitas.

Ex 17,15-16: Moisés constrói um altar com o nome de “Javé minha bandeira”, pois com esta bandeira eles foram capazes de derrotar os Amalecitas.

1. O que mais chamou a sua atenção neste texto? Por quê?

2. Por que os braços de Moisés não podem cair?

3. Conhece fatos de hoje em que a oração devolveu a força ao povo?

1. No versículo 16, a Bíblia Pastoral traduz: "Uma certa mão se levantou contra o trono de Javé”. A Bíblia de Jerusalém traduz: “Com a bandeira de Javé na mão”. Provavelmente, a tradução da Bíblia de Jerusalém é melhor. Trata-se da “vara de Javé” que estava na mão de Moisés. Moisés mesmo tinha dito: “Eu ficarei no alto da montanha com a vara de Deus na mão” (Ex 17,9). A vara de Javé foi usada quase todas as vezes que Moisés tinha de provocar os sinais ou as pragas contra o faraó (Ex 4,17; 7,17-20; 8,1.12; 9,23; 10,13; 14,16; 17,5). A vara era o símbolo concreto para lembrar ao povo a presença liberta­dora de Javé no meio deles.

2. Parece até uma contradição. Eles matam todos os amalecitas e ainda dizem que foi Deus quem os ajudou. Como combinar a bondade de Deus com esta atitude de vingança sem perdão? Aqui se aplica o que dissemos anteriormente: “Quem conta um conto aumenta um ponto”. Eles aumentam o ponto não para enganar nem para esconder a verdade, mas sim para fazer aparecer melhor a mensagem do texto. E a mensagem é esta: não existe travessia sem inimigo e sem luta. O medo e o desânimo sempre vêm, mas não podemos permitir que eles tomem conta da gente e nos derrubem. É necessário rezar e invocar a ajuda de Deus. Fazer a travessia significa adotar a espiritualidade do conflito. No texto, os amalecitas simbolizam todos os inimigos, de ontem e de hoje: medo, desânimo, descrença, violência, divisão, dominação, injustiça, ódio. Estes são os inimigos. Estes são hoje os nossos amalecitas! Não podemos permitir que eles nos dominem. Por isso devem ser vencidos e derrotados. O próprio Jesus nos alerta e nos convida para a luta. Ele diz que devemos carregar a cruz (Mt 10,38; 16,24; Mc 8,34; Lc 14,27); diz que ele não veio trazer a paz, mas sim a divisão e a espada (Mt 10,34; Lc 12,51). E quando vier a tentação de abandonar a luta ele manda rezar (Mt 6,13; 26,41; Mc 14,38; Lc 11,4; 22,40). O seguimento de Jesus não é um passeio. É travessia.

3. Outro aspecto a ser levado em conta para entender tantas histórias de matança e de violência que ocorrem no Antigo Testamento é a pedagogia de Deus na maneira de conduzir o seu povo por meio dos mandamentos da sua Lei. Naqueles séculos passados, os costumes dos povos eram rudes, cheios de defeitos. Tinham imagens erradas de Deus. Eles chegavam a matar em nome de Deus. Deus, porém, aceita o seu povo do jeito que ele é com todos os seus defeitos. Faz como a mãe que, no seu amor, aceita o neném do jeito que ele é e o educa lentamente, para que, aos poucos, aprenda a conviver na família e na comunidade como pessoa adulta. Assim, aos poucos, com a ajuda dos profetas e da própria experiência de vida, o povo foi aprendendo e amadurecendo, humanizando a vida, tornando-se mais gente. As leis, normas e preceitos, as orações e rezas: tudo era para ajudar e orientar a caminhada: apontar o rumo, corrigir os desvios, dar força, animar o pessoal. É Jesus que veio completar este lento processo de educação e formação do Povo de Deus. Jesus mostrou o objetivo da lei dos Dez Mandamentos. Por exemplo, ele diz a respeito do quinto mandamento: "Vocês ouviram o que foi dito aos antigos: 'Não mate! Quem matar será condenado pelo tribunal'. Eu, porém, lhes digo: todo aquele que fica com raiva do seu irmão, se torna réu perante o tribunal. Quem diz ao seu irmão: 'imbecil', se torna réu perante o Sinédrio; quem chama o irmão de 'idiota', merece o fogo do inferno” (Mt 5,21-22). Ou seja, para observar plenamente o quinto mandamento não basta “não matar”, mas é preciso eliminar de dentro de mim tudo aquilo que, de uma ou de outra maneira me possa levar ao assassinato: raiva, xingamento, calúnia. Só chegou a observar plenamente os Dez Mandamentos aquele que chegou à plenitude do amor: amar a Deus e amar ao próximo. “Toda a lei e os profetas dependem desses dois mandamentos” (Mt 22,40; cf. Mc 12,28-34; Mt 7,12). “Quem ama o próximo cumpriu plenamente a lei” (Rm 13,7).


6ª PALESTRA

Domingo 8:00 horas

A UNIÃO DAS FAMÍLIAS

VENCE A MURMURAÇÃO CAUSADA PELA DIVISÃO

Ex 18,1-12

Quando jovem, Moisés matou um egípcio e teve que fugir da polícia. Foi para a terra de Madiã (Ex 2,11-15). Lá ele casou e arrumou um emprego (Ex 2,16-22). Muitos anos depois, Deus o chamou de novo para libertar o povo (Ex 3,1-10) e Moisés voltou para o Egito junto com a mulher e os dois filhos Gerson e Eliezer (Ex 4,19-20). Tempos depois, assim a Bíblia informa, Moisés mandou a esposa de volta para a casa do sogro, o pai dela, na terra de Madiã (Ex 18,2-4). Agora, depois da libertação do Egito, o sogro leva a mulher e os filhos de volta para Moisés. Reuniu de novo a família. Hoje em dia, nossas famílias vivem momentos de tensão e de conflitos que afastam as pessoas umas das outras. Cresce a tendência da dispersão causada pelo individualismo e consumismo. Os laços afetivos se quebram com muita facilidade. O dinheiro está determinando os relacionamentos. E a religião, que deveria ser fator de unidade, muitas vezes, em vez de unir, ajuda a dividir e a separar as famílias.

1. Quais são hoje as causas da desintegração das famílias?

2. Como construir hoje laços afetivos firmes na vida familiar?

3. Como a vida em comunidade pode ajudar a vida familiar?

Luzes da caminhada do povo da Bíblia. Na medida em que deixavam para trás a opressão do Egito e iam atravessando o deserto, começava a nascer um novo povo que exigia novas relações dentro das famílias. O povo novo se forma na medida em que as famílias se re-encontram e que os pais que se reencontram com seus filhos. Durante a leitura vamos prestar atenção nas atitudes de Jetro, o sogro de Moisés.

Leitura lenta e atenta de Êxodo 18,1-12

Um momento de Silêncio

Repetir uma ou outra frase que mais tocou o coração

Ex 18,1-7: As famílias são reunidas. O texto descreve a ação de Jetro, o sogro de Moisés e conta a situação da família de Moisés. Jetro vai ao encontro de Moisés levando Séfora, esposa de Moisés, e os filhos. Reúne a família dispersa. O futuro do povo depende da reconstrução das casas e dos relacionamentos familiares.

Ex 18,8-12: A reunião é celebrada com uma ceia. Moisés narra ao sogro todos os acon­tecimentos, tanto as facilidades como as dificuldades encontradas ao longo da travessia, partilhando com ele o que dá para rir e para chorar. Jetro louva as maravilhas feitas por Deus em favor de seu povo. O reencontro é festejado com uma refeição comunitária (v. 12). Pois a vida com todos os seus momentos, tanto os bons como os desagradáveis, é Boa Nova de Deus.

1. De que você mais gostou nesta leitura? Por quê?

2. Quais as atitudes de Jetro para reunir a família de Moisés?

3. O que significa, para a formação do povo, o fato de Moisés ter reunido sua família que tinha sido dispersa durante o tempo da luta pela libertação?

4. O que tudo isso ensina para nós, hoje?

1. Começa a reorganização do povo através da reunião das famílias dispersas pela luta de libertação. Nesta reorganização, Moisés presta atenção nas reflexões de Jetro, seu sogro, e segue em tudo as suas sugestões. Jetro não era israelita, não pertencia ao povo, nem tinha saído do Egito e atravessado o deserto. Mas seus conselhos são muito valiosos para Moisés. Devemos estar sempre abertos para as pessoas de fora, as que pensam diferente de nós, as que nos ajudam de maneira gratuita e solidária. O que importa é as famílias dispersas se reunirem num projeto comum. O futuro do povo depende da solidez das casas e das famílias. O povo deve caminhar sabendo reconstruir as casas como um novo espaço de convivência, partilha e solidariedade.

2. A reconstrução das famílias é a grande esperança do povo, expressa na última profecia do Antigo Testamento que diz: “Lembrem-se da Lei do meu servo Moisés, que eu mesmo lhe dei no monte Horeb, estatutos e normas para todo o Israel. Vejam! Eu mandarei a vocês o profeta Elias, antes que venha o grandioso e terrível Dia de Javé. Ele há de fazer que o coração dos pais volte para os filhos e o coração dos filhos para os pais; e assim, quando eu vier, não condenarei o país à destruição total”. (Mal 3,22-24; Eclo 48,10). Reconduzir o coração dos pais para os filhos e o coração dos filhos para os pais significa refazer os relacionamentos familiares. João Batista iniciou a realização desta esperança (Lc 1,17). Jesus continuou a missão iniciada por João e procurou reunir e refazer a “casa”, as famílias. Para Jesus, a casa ou a família era mais sagrada que a sinagoga. E as comunidades dos primeiros cristãos foram surgindo exatamente nas casas transformadas pela mensagem de Jesus. Nas comunidades quem presidia as celebrações eram os casais. Hoje, as celebrações deveriam ser presididas pelos casais.


7ª PALESTRA

Domingo 9:00 horas

A PARTICIPAÇÃO NAS DECISÕES

VENCE A MURMURAÇÃO CAUSADA PELA DOMINAÇÃO

Ex 18,13-27

Sempre é muito difícil falar sobre o exercício do poder e o trabalho das lideranças dentro das comunidades. Tem gente que diz que comunidade não é lugar de política. Mas quando chega a época da eleição ou da escolha do Conselho Comunitário, da coordenação ou dos ministros e ministras fazem coisas muito pior do que os políticos profissionais. Parece que o exercício do poder transforma as pessoas. É como dizem: “Quer conhecer o fulano, dê a ele um cargo!” Parece que a pessoa se transforma. Torna-se desconfiado, autoritário e até violento. Como explicar isso? E as pessoas reclamam e resistem, não colaboram e falam pelas costas. Tudo isso envenena o clima dentro da comunidade. Como explicar isso?

1. Em sua opinião como são exercidos os cargos de liderança dentro de sua comunidade?

2. Você já exerceu algum cargo na comunidade? Conte sua experiência!

3. Conhece comunidades que conseguiram enfrentar e superar este problema? Como fizeram?

Luzes da caminhada do povo da Bíblia. O texto para nosso encontro de hoje mostra o processo de organização do povo através da participação de Jetro, o sogro de Moisés. Moisés faz tudo sozinho. Por isso está sobrecarregado de trabalho no atendimento ao povo. Mas ele parece achar que este é o único jeito. Durante a leitura vamos prestar atenção nas atitudes e nas palavras de Jetro para Moisés.

Leitura lenta e atenta de Êxodo 18,13-27

Um momento de Silêncio

Repetir uma ou outra frase que mais tocou o coração

Ex 18,13-16: O problema da centralização. O povo era grande e os problemas, muitos. Mas todo o poder de julgar e decidir estava nas mãos de Moisés, que ainda devia ler e explicar as leis, os mandamentos e estatutos (v. 16). Esta tarefa exigia sua atenção “desde o amanhecer até o anoitecer” (v. 13). Moisés age como um pequeno faraó, escutando e decidindo tudo sozinho. Tiraram o faraó ruim, colocaram um faraó bom, mas não mudaram o sistema. Se era para ficar desse jeito, por que sair do Egito? Lá também era assim!

Ex 18,17-27: O poder é descentralizado. Jetro percebe as dificuldades de uma administração centralizada na figura de Moisés e sugere uma reforma administrativa, com a criação do cargo de juiz ou de juíza, para melhor “aliviar a carga de Moisés” (v. 22). Os destinos do povo devem ser decididos por todo o povo porque o Espírito de Deus repousa sobre todo o povo e não apenas sobre alguns (cf. Nm 11,24-30). O surgimento dos juízes mostra o caminho da descentralização e da partilha do poder.

1. De que você mais gostou nesta leitura? Por quê?

2. Quais dificuldades de Moisés e quais as soluções apontadas por Jetro?

3. O que as atitudes de Jetro e de Moisés ensinam para nós hoje?

1. O capítulo 18 (Ex 18,1-27) lembra a luta do povo de Deus por um governo descentralizado e participativo e descreve as duas propostas para chegar a esse governo descentralizado e participativo: reconstruir a casa como um novo espaço de convivência (Ex 18,1-12) e encontrar mecanismos de comunhão e participação, buscando juntos os caminhos que garantam o futuro do povo (Ex 18,13-27). Esses dois episódios revelam a criatividade do povo para encontrar novas soluções para seus problemas.

2. O caminho da participação passa pela descentralização. Uma presença amiga é como a voz de Deus. Da conversa entre Jetro e Moisés surgem novas instituições, mais abertas, participativas e democráticas. Todos devem participar das decisões que interferem na vida do povo. O povo deve caminhar sabendo ser criativo e encontrar as soluções para os problemas da caminhada.

3. Todos os povos têm suas utopias. A grande utopia em Israel era o sonho de viver uma organização descentralizada e construir um governo participativo. O povo sabia que esta maneira de organizar sua vida era totalmente o contrário dos outros povos naquela época, que se organizavam em reinos centralizados e militarizados, onde a riqueza produzida pelo trabalho de todos acabava nas mãos de uma pequena elite, a nobreza, representada pelo rei. O povo de Israel buscou uma organização alternativa porque trazia uma nova experiência de Deus e da vida, fruto de sua caminhada pelo deserto. Por isso mesmo combateram qualquer proposta de acúmulo, seja de riquezas, seja de poder.

4. Esse também foi o sonho de muitos grupos na história do Brasil. Foi o sonho dos vários povos indígenas que caminhavam em busca da Terra-sem-Males. Foi o sonho dos quilombos, como Palmares. Foi o sonho do arraial de Canudos e dos monges do Contestado. Esse é ainda o sonho de todos aqueles que caminham pelas estradas e ruas deste país tão desigual, buscando terra, trabalho e justiça.

5. Esta mesma preocupação democrática aparece no exercício do poder nas primeiras comuni­dades cristãs. Por exemplo, na escolha do substituto de Judas (At 1,15-26); na escolha dos diáconos (At 6,1-6); na divisão do trabalho apostólico entre pagãos e entre judeus, descrita por Paulo na sua carta aos gálatas (Gl 2,7-10). Assim foi também nos primeiros séculos da Igreja. Os bispos eram escolhidos pelo próprio povo. Até os Papas eram escolhidos pelo povo de Roma. Uma história bonita é conservada por ocasião da escolha de Ambrósio como novo bispo de Milão. Ambrósio, prefeito da cidade, nem era batizado. Quando o povo estava reunido para a escolha do novo bispo, um menino gritou: “Ambrósio!” O povo concordou e Ambrósio foi eleito bispo. Pena que este costume tão bíblico e evangélico não existe mais na igreja católica.


8ª PALESTRA

Domingo 11:00

A LIBERDADE DOS MANDAMENTOS

VENCE A MURMURAÇÃO CAUSADA PELO LEGALISMO

Ex 20,1-21

A comunidade do Bom Conselho no Ceará nasceu depois de uma Novena ao Divino Espírito Santo. O bairro era muito violento. Havia muita briga entre as famílias e pouca ajuda mútua. Então, na primeira reunião resolveram o seguinte: “Para que nossa comunidade possa ter futuro e ser um sinal de Deus aqui no bairro, temos que ser um testemunho vivo. Por isso, nosso primeiro mandamento é este: nunca tomar parte nas brigas entre as famílias apoiando uma contra a outra, mas tentar ser uma fonte de reconciliação. Nosso segundo mandamento é: não permitir que entre nós, membros da comunidade, haja briga e divisão. Nosso terceiro mandamento é: criar uma pequena comissão que possa ajudar as famílias a resolver seus problemas!” E disseram: estes mandamentos são uma expressão da vontade de Deus para nós!” Assim começou a comunidade, e deu certo. Na medida em que o tempo ia passando, foram surgindo outros Mandamentos para a vida da Comunidade como resposta aos novos problemas. Esses mandamentos eram acordos necessários para a comunidade poder sobreviver e realizar sua missão. Chegaram a ter exatamente Dez Mandamentos. Alguém comentou: “Somos como o povo de Deus no deserto. Também chegaram a ter Dez Mandamentos!”

1. Na sua comunidade existem mandamentos? Quais? Por que surgiram?

2. Você acha que a comunidade do Bom Conselho tinha razão em comparar sua caminhada com a do povo da Bíblia? Sim ou não? Por quê?

Luzes da caminhada do povo da Bíblia. O povo saiu da dolorosa experiência de 400 anos de opressão no Egito. A primeira coisa que fizeram, com a ajuda e a inspiração de Deus, foi criar alguns mandamentos para impedir o retorno para a situação de opressão e de escravidão. Durante a leitura dos Dez Mandamentos vamos ficar com esta pergunta na cabeça: De que maneira estes Dez Mandamentos impediam o retorno para a casa da escravidão?

Leitura lenta e atenta de Êxodo 20,1-21.

Um momento de Silêncio

Repetir uma ou outra frase que mais tocou o coração

Ex 20,1-2: Traz a solene introdução aos Dez Mandamentos: Eu sou Javé que te fez sair da casa da escravidão.

Ex 20,3-11: Traz os três mandamentos que definem como deve ser o relacionamento do povo com Deus: servir só a Deus e não aos ídolos com suas imagens; não usar o Nome de Deus para coisas vãs; durante um dia na semana dedicar um pouco mais de tempo a Deus.

Ex 20,12-17: Traz os sete mandamentos que definem o relacionamento entre nós: honrar os pais; não matar; não cometer adultério; não roubar; não dar falso testemunho; não cobiçar a casa do próximo; e, finalmente, não cobiçar nada do que está dentro da casa do próximo.

Ex 20,18-21: A reação do povo diante da manifestação de Deus foi de medo e eles pediram a Moisés para ser o intermediário. Moisés disse para o povo não ter medo. Em seguida, ele aproximou-se de Deus para ouvir dele como aplicar os Dez Mandamentos na vida do povo. A resposta de Deus é dada no Código da Aliança, que é a atualização dos Dez Mandamentos (Ex 20,22 até 23,33).

Perguntas para descobrir a mensagem para nós hoje

1. O que mais chamou a sua atenção neste texto? Por quê?

2. De que maneira estes Dez Mandamentos impediam o retorno para a casa da escravidão?

3. Como foi que você, quando criança, aprendeu os Dez Mandamentos? Qual a lembrança que ficou na sua memória?

4. Qual a mensagem disso tudo para nós hoje?

1. O prego que sustenta o quadro dos Dez Mandamentos na parede da vida do povo e lhes dá o seu sentido é a introdução: “Eu sou Javé, teu Deus, que te fez sair da terra do Egito, da casa da escravidão” (Ex 20,2). Nesta frase Deus declara que o objetivo dos Dez Mandamentos é apontar o caminho para sair da “Casa da escravidão” e chegar à plena liberdade junto de Deus (Ex 19,4). O apóstolo Paulo o explicitou dizendo: “Cristo nos libertou para que sejamos realmente livres” (Gl 5,1) Esta caminhada em direção à liberdade iniciou-se no Êxodo e continua até hoje.

2. Deus ouviu o clamor, desceu, viu a miséria, conheceu e tomou posição enviando Moisés para libertar o povo (Ex 2,23-24; 3,7-10). Um dos instrumentos mais importantes, que Deus entregou a Moisés para impedir que o povo voltasse para a “casa da escravidão”, foram os Dez Mandamentos. Cada mandamento, por assim dizer, responde a um clamor do povo e combate uma determinada causa da sua opressão. Por isso, a fiel observância destes Dez Mandamentos cria uma barreira que impede o retorno do povo para a “casa da escravidão”, conforme a ordem explícita de Deus: “Nunca mais voltarás por este caminho!” (Dt 17,16).

3. A “casa da escravidão” era o Egito. Mas nas épocas posteriores, desde o tempo dos Juízes até hoje, a casa da escravidão continua a existir. O que muda é o jeito de escravizar. Por isso, os Dez Mandamentos mantêm a sua atualidade. Eles são um apelo contínuo para o povo viver em estado permanente de êxodo, buscando o caminho de saída da casa da escravidão. Tanto no Antigo como no Novo Testamento, a lei dos Dez Mandamentos é vista como o caminho que Deus oferece ao povo para:

* nunca mais voltar a viver na escravidão,

* conservar a liberdade que conquistou saindo do Egito,

* viver na justiça e na fraternidade,

* ser um povo organizado, sinal de Deus no mundo,

* ser uma resposta de Deus ao clamor da humanidade,

* ser um anúncio e amostra daquilo que Deus quer para todos,

* chegar à prática perfeita do amor a Deus e ao próximo.

4. Jesus retomou os Dez Mandamentos para combater o legalismo dos fariseus: “Eu lhes garanto: se a justiça de vocês não superar a dos doutores da Lei e dos fariseus, vocês não entrarão no Reino do Céu” (Mt 5,20). Não basta observar a letra da lei. A observância, ela por ela mesma, não tem sentido, não leva a nada e gera a morte. “A letra mata, mas o espírito comunica vida” (2Cor 3,6). É preciso olhar o espírito que anima a lei por dentro e aponta o objetivo que fica para além da letra. O objetivo da viagem fica para além da viagem em si. Sem a viagem não se chega ao objetivo. Sem a observância da lei não se chega ao amor. “O amor é o pleno cumprimento da lei” (Rom 13,10).