Partilhando um bate papo
Um dia destes fui convidada para participar da reza de terço, em uma das ruas da Comunidade Eclesial de Base (CEB) São Francisco de Assis, na Paróquia Nossa Senhora da Liberdade. Embora muito raramente participe dessa “forma” de oração o convite foi motivador e com alegria aceitei. Confesso, reavivaram a minha fé em Cristo, meu carinho a Maria e a importância desses momentos comunitários.
Após a reza do terço aconteceu um momento de confraternização, que proporcionou um bate papo gostoso. Nesse momento uma senhora idosa e com uma expressão querida relatou que tem ouvido comentários que a Igreja Católica vem perdendo seu espaço e fiéis e pediu minha opinião.
Diante do olhar inteligente da senhora e dos olhares das outras pessoas que ali estavam em silencio pedi inspiração divina e a resposta foi mais ou menos assim:
Em julho de 2009 participei do 12º intereclesial das CEBs, em Porto Velho, Rondônia, onde na celebração de abertura o arcebispo da arquidiocese de Porto Velho dom Moacyr Grechi, com gostinho de profecia, referiu as CEBs como sendo: “Gente simples fazendo coisas pequenas, em lugares não importantes, conquistam coisas extraordinárias.”
Com certeza essa “definição” foi por meio de inspiração divina; ela retrata o que aqui hoje esta acontecendo – a Igreja viva presente no meio do povo discretamente, através de uns de seus instrumentos a “reza do terço”. Não podemos deixar de ver a realidade que apresenta crescimento de outras igrejas principalmente nos bairros mais pobres das cidades e o espaço que Igrejas Evangélicas usam nos meio de comunicação; é preciso ver, julgar e agir, não apenas para “ganhar” em números, mas com a preocupação em levar o povo de Deus a assumir o Evangelho.
Quando ouço dizer que estamos perdendo espaço e fiéis, vem a pergunta - por quê? A resposta que vem em mente é o espaço que algumas Igrejas não católicas usam nos meios de comunicação e outro fator que considero mais relevante é a falta de compromisso pregado por muitas dessas igrejas, onde o mais importa é trabalhar o emocional, o sentimento de satisfação, que leva a não enxergar a própria realidade, levando a um desinteresse em assumir de fato o Evangelho - portanto torna mais atrativa.
Um dia deste ao ir participar da missa em uma outra paróquia, passei em frente a uma igreja não católica com aparência de nova; estava havendo celebração, ao observar percebi umas 10 pessoas participando; ao chegar à paróquia participando da missa tinha aproximadamente 350 pessoas. Pensem comigo, a arquidiocese de Maringá tem 52 paróquias, então ao mesmo momento podemos dizer que a nossa igreja estava celebrando com 18.000 mil pessoas.
Olhando para Arquidiocese de Maringá a exemplo de nossa paróquia, acredito que a Igreja Católica descobriu como ser Igreja discretamente no meio do povo através das Comunidades Eclesiais de Base (CEBs), que se enriqueceu mais com a definição de dom Moacyr, como sendo : “Gente simples fazendo coisas pequenas, em lugares não importantes, conquistam coisas extraordinárias.”
As CEBs leva a Igreja a ser Igreja discretamente no meio do povo, dando-nos a certeza de que somente a partir do povo, com o povo, na base da Igreja e da sociedade, poderemos criar uma vida melhor, mais justa e mais fraterna; verdadeiramente cristã, praticando o evangelho.
No dia a dia as CEBs faz acontecer a Igreja Domestica através das pastorais, catequese, movimentos que se reúnem nas casas. Os grupos de reflexão que semanalmente organizado por ruas nas CEBs reúnem famílias para refletir a Palavra de Deus; as celebrações e reza do terço nas famílias e outros momentos.
A Igreja precisa ter o rosto do povo; precisa sentir a dor do povo e ser solidária. A Igreja Católica tem chegado até as famílias com o fermento do testemunho de ontem e de hoje, com responsabilidade evangélica e compromisso social transformador, porque o cristão precisa ter convicção que - “Bem-aventurados os pobres em espírito, porque deles é o Reino do Céu; Bem-aventurados os que têm fome e sede de justiça, porque serão saciados…” (Mt 5, 3.6).
Evangelizar via meio de comunicação a cada dia parece ser quase que uma exigência, embora não substitui e não deve substituir a Igreja que evangeliza através do relacionamento, do olho no olho; no meio do povo. A Arquidiocese de Maringá possuiu um avanço com relação a meios de comunicação, possuiu Site, a Rádio Colméia, Revista Maringá Missão e a TV 3º Milênio que vem tendo um bom desempenho, embora, penso que é preciso avançar e muito; esses meios de comunicação precisam revelar mais a face da Arquidiocese; precisa revelar o rosto dessa Igreja que discretamente vem acontecendo no meio do povo, com os pequenos grupos organizados nas CEBs.
A Igreja de Cristo precisa sim ir ao encontro dos/as afastados/as não apenas para aumentar números de fiéis, mas para levá-los a assumir o Evangelho, sendo Igreja viva, com condições de enxergar as influencias políticas, sociais e econômicas que vem interferindo na formação cristã familiar, comunitária e social. A Igreja precisa ser profética denunciando ser for necessário, quando outros permanecem em silencio por medo ou para conquistar espaço para uma Igreja totalmente descomprometida com o Evangelho.
A Igreja comprometida com o evangelho precisa de uma profunda renovação espiritual, precisa assumir realmente a pastoral e ter uma autêntica sensibilidade social, levando os fiéis a enfrentar os desafios como à destruição do meio ambiente, a situação dos jovens desempregados, prostituição, droga, as dificuldades que enfrentam os mais velhos que carecem de benefícios sociais e tantas outras situações que precisam ser enxergadas no dia a dia, dando água a quem tem sede; dando pão a quem têm fome.
Acredito na Igreja que age discretamente, proporcionando a troca de experiência; dar e receber um sorriso, uma mão amiga. Igreja que acontece no dia a dia, criando momentos de acolher e levar a certeza de dias melhores; levando os fieis a se apaixonar por Jesus de tal forma que queiram conhecê-Lo e a Ele se converter, assumindo o Seu Evangelho. Em Tiago 4,8 encontramos: “aproxima-se de Deus, e ele se aproximará de vocês.”. Dessa forma a Igreja se afirma como uma Samaritana a serviço da vida - “Viu, aproximou-se, sentiu compaixão e curou-lhe as feridas” (Lc 10, 33-34).