A sociedade deve encontrar maneiras de permitir o acesso dos jovens ao mercado de trabalho. No entanto, nos últimos anos os mecanismos tradicionais de acesso estão sendo sistematicamente fechados ou por evolução tecnológica, ou por falta de visão dos gestores sobre a responsabilidade das empresas em relação ao problema.
Um dos mais tradicionais portais de acesso dos jovens às empresas sempre foi o cargo de office boy. Existem muitas histórias de pessoas que entraram em uma empresa como boys e chagaram a diretores. São histórias de sucesso da construção de relacionamentos e de vocações profissionais a partir de um acesso simples às empresas. O office boy (do inglês garoto do escritório) era um cargo com direitos e deveres dentro das empresas. Tinha como principal tarefa fazer os pequenos serviços e os serviços externos, como levar e trazer, ir a bancos, fazer pequenas compras, etc.
Estas tarefas davam ao jovem ocupante do cargo a oportunidade de relacionamento dentro da empresa, com outros colegas de trabalho mais qualificados, com as secretárias e com outras empresas. Em suas jornadas diárias o office boy tinha acesso a outras empresas e a outros profissionais que se relacionavam com sua empresa empregadora. Isto dava a ele a oportunidade de ver, ouvir, participar de processos, construir suas aspirações ou desejos profissionais baseado em uma convivência diária e rica em oportunidades.
Contudo, as empresas estão fechando as portas a este profissional. Agora não contrata-se mais office boy. Chama-se o moto boy. Um profissional sem futuro, sem relacionamentos, que chega até o portão da empresa com sua motocicleta sem manutenção, retira ou entrega sem ver rostos, sem conhecer pessoas. Trafega pelas ruas desrespeitado pela sociedade motorizada, violentado em suas aspirações e sem construir as bases de seu futuro.
A sociedade está destruindo as rampas de acesso dos jovens ao mercado de trabalho e oferecendo em contrapartida uma típica "solução de mercado". Uma solução que privilegia a velocidade da entrega, a eficiência do processo, sem juízo de valor sobre o que estamos fazendo com os jovens que não construirão suas carreiras dentro das empresas.
Sem juízo de valor sobre a sentença de mutilação ou morte que impomos aos jovens "motoqueiros" pelas ruas das cidades. Muitos utilizam os serviços de motoboys em seus escritórios e acreditam em sua eficiência e baixo custo. Quando, ao final do expediente, saem às ruas em seus carros, criticam: "estes motoqueiros são uns loucos irresponsáveis". Não há relação de causa e efeito. Não há sensação de responsabilidade. Não há uma reflexão sobre o que nós, como sociedade, fazemos com nossos jovens ao negar-lhes o trabalho.
Tratamos os jovens como consumidores, incutimos os desejos, direcionamos as aspirações, estimulamos o livre arbítrio, mas não lhes damos as ferramentas de acesso ao mundo adulto. Precisamos rever nossos "ritos de passagem". É necessário pensar nas pessoas dentro dos processos e não apenas em sua eficiência ascética. Não há mais vagas para bancários, não há mais vagas para arquivistas, exigimos experiência para qualquer trabalho inexperiente, criamos verdadeiros moedores de carne em nossas ruas e vivemos nos perguntando: o que podemos fazer? É simples, podemos prestar atenção no que fazemos em nosso cotidiano e sermos responsáveis pela sociedade em que vivemos. (Envolverde)
* Dal Marcondes é Jornalista e Diretor da Agência Envolverde
(Agência Envolverde)
Um dos mais tradicionais portais de acesso dos jovens às empresas sempre foi o cargo de office boy. Existem muitas histórias de pessoas que entraram em uma empresa como boys e chagaram a diretores. São histórias de sucesso da construção de relacionamentos e de vocações profissionais a partir de um acesso simples às empresas. O office boy (do inglês garoto do escritório) era um cargo com direitos e deveres dentro das empresas. Tinha como principal tarefa fazer os pequenos serviços e os serviços externos, como levar e trazer, ir a bancos, fazer pequenas compras, etc.
Estas tarefas davam ao jovem ocupante do cargo a oportunidade de relacionamento dentro da empresa, com outros colegas de trabalho mais qualificados, com as secretárias e com outras empresas. Em suas jornadas diárias o office boy tinha acesso a outras empresas e a outros profissionais que se relacionavam com sua empresa empregadora. Isto dava a ele a oportunidade de ver, ouvir, participar de processos, construir suas aspirações ou desejos profissionais baseado em uma convivência diária e rica em oportunidades.
Contudo, as empresas estão fechando as portas a este profissional. Agora não contrata-se mais office boy. Chama-se o moto boy. Um profissional sem futuro, sem relacionamentos, que chega até o portão da empresa com sua motocicleta sem manutenção, retira ou entrega sem ver rostos, sem conhecer pessoas. Trafega pelas ruas desrespeitado pela sociedade motorizada, violentado em suas aspirações e sem construir as bases de seu futuro.
A sociedade está destruindo as rampas de acesso dos jovens ao mercado de trabalho e oferecendo em contrapartida uma típica "solução de mercado". Uma solução que privilegia a velocidade da entrega, a eficiência do processo, sem juízo de valor sobre o que estamos fazendo com os jovens que não construirão suas carreiras dentro das empresas.
Sem juízo de valor sobre a sentença de mutilação ou morte que impomos aos jovens "motoqueiros" pelas ruas das cidades. Muitos utilizam os serviços de motoboys em seus escritórios e acreditam em sua eficiência e baixo custo. Quando, ao final do expediente, saem às ruas em seus carros, criticam: "estes motoqueiros são uns loucos irresponsáveis". Não há relação de causa e efeito. Não há sensação de responsabilidade. Não há uma reflexão sobre o que nós, como sociedade, fazemos com nossos jovens ao negar-lhes o trabalho.
Tratamos os jovens como consumidores, incutimos os desejos, direcionamos as aspirações, estimulamos o livre arbítrio, mas não lhes damos as ferramentas de acesso ao mundo adulto. Precisamos rever nossos "ritos de passagem". É necessário pensar nas pessoas dentro dos processos e não apenas em sua eficiência ascética. Não há mais vagas para bancários, não há mais vagas para arquivistas, exigimos experiência para qualquer trabalho inexperiente, criamos verdadeiros moedores de carne em nossas ruas e vivemos nos perguntando: o que podemos fazer? É simples, podemos prestar atenção no que fazemos em nosso cotidiano e sermos responsáveis pela sociedade em que vivemos. (Envolverde)
* Dal Marcondes é Jornalista e Diretor da Agência Envolverde
(Agência Envolverde)