Numa manhã de domingo, dia 31 de outubro de 2010, dia em que no Brasil aconteceu o segundo turno das eleições presidenciais, ao olhar a primeira página do Jornal Estado de Minas, senti um impacto com a coleção de fotografias dos presidentes do Brasil. De Deodoro da Fonseca (1889-1891) a Luiz Inácio Lula da Silva (2003-2010), uma trajetória marcada pela ausência da mulher como presidenta, embora não se possa negar a presença das mulheres brasileiras neste curso da história de tantas maneiras construindo Política, uma das melhores formas de amar o próximo.
No jornal, um quadro com uma interrogação, o 36º lugar, aguardava a foto de alguém para prosseguir a história presidencial do país. Com o jornal na mão, mais do que nunca, senti uma forte indignação e um desejo profundo de colocar no quadro em branco o retrato de uma mulher como a marca profunda e definitiva na história do país da participação das mulheres de forma mais efetiva na política brasileira.
Pensei ainda, já visibilizando a possibilidade de Dilma Rousseff vir a ocupar o cargo de Presidenta do Brasil, no compromisso que ela teria com as mulheres brasileiras. Honrar pela igualdade de oportunidade entre homens e mulheres, fazer valer a luta feminina por respeito, dignidade e não violência. Ampliar as possibilidades de as mulheres participarem das decisões sobre o país, e, enfim, o compromisso com a emancipação da mulher em todas as suas dimensões.
Quando, à noite, ouvi o primeiro pronunciamento de Dilma, eleita para a Presidência do Brasil pelo povo brasileiro, fiquei feliz por ela começar destacando seu compromisso com as mulheres enfatizando a igualdade de oportunidades entre homens e mulheres como um princípio essencial da democracia:
“(...) esse fato, para além da minha pessoa, é uma demonstração do avanço democrático do nosso país, porque pela primeira vez uma mulher presidirá o Brasil. Já registro, portanto, o meu primeiro compromisso após a eleição: honrar as mulheres brasileiras para que esse fato até hoje inédito se transforme num evento natural e que ele possa se repetir e se ampliar nas empresas, nas instituições civis e nas entidades representativas de toda a nossa sociedade. A igualdade de oportunidades entre homens e mulheres é um princípio essencial da democracia”. (Dilma Rousseff, uma hora após ser eleita 1ª Presidenta do Brasil, em 31/10/2010.)
Remeto, portanto, a nós mulheres, o compromisso que também temos com este governo. Ilusão pensar que o país será governado por uma pessoa ou por um grupo de pessoas. Sabemos de todas as influências dos blocos dominantes de poder e suas intervenções na governabilidade dos países, sobretudo nos países da nossa América Latina que tentam construir efetivamente sua autonomia política e econômica diante das grandes potências econômicas internacionais.
Estou convencida, cada vez mais de que não podemos “retirar os pés da rua” na luta pela emancipação da mulher e pelo trato com igualdade de oportunidades nas relações de gênero. A Dilma destacou a ampliação da liderança feminina nas empresas, instituições civis e nas entidades representativas de toda a nossa sociedade brasileira. Esperamos que mais mulheres, em grau de igualdade, possam ocupar espaços nos Ministérios e Secretarias da Presidência da República e demais setores da Política. No Brasil, temos muitos nomes de mulheres que podem compor este cenário.
Além disso, sem dúvida alguma, a Presidenta eleita pode contar com a garra e a força feminina nas principais reformas que se precisa fazer neste país. Nas lutas sociais e populares, com rosto suado e pés com o pó da estrada sempre estão presentes as Rosas, Simones, Cidas, Marias, Teresas, Penhas, Wagnas, Sônias e as Margaridas... Precisa-se reconhecer o papel das mulheres na construção de um Brasil possível e urgente onde os direitos fundamentais, humanos e sociais sejam não somente respeitados e garantidos, mas urgentemente efetivados. Com relação a isto, pronunciou-se a candidata eleita em seu primeiro discurso:
“Por isso, registro aqui outro compromisso com meu país. Valorizar a democracia em toda sua dimensão, desde o direito de opinião e expressão até os direitos essenciais, básicos, da alimentação, do emprego, da renda, da moradia digna e da paz social”.
Contar com a participação das mulheres na tão urgente e necessária reforma política a partir do povo, reforma fiscal[1] a partir dos pobres, reforma agrária[2] a partir dos trabalhadores camponeses, reforma nas políticas de saúde e educação e nas prestações dos demais serviços públicos para os quais o povo brasileiro tanto contribui com impostos. Contar com a participação das mulheres para atingir a meta anunciada pela Dilma, tantas vezes repetida na campanha eleitoral e nos pronunciamentos pós eleição, a de erradicar a pobreza no Brasil.
Quando destaco a importância de o Governo contar com a participação das mulheres nas reformas que precisam ser feitas no país, não quero, de modo algum, dizer que não deve contar com a figura masculina, mas que se precisa, urgentemente, elevar a participação das mulheres nestes espaços de reforma e construção de um projeto Brasil. Pode-se muito acrescentar com a participação de grandes mulheres profissionais nas mais diversas áreas que se destacam no cenário brasileiro. Além do aspecto profissional, valores, critérios e traços que são tipicamente femininos são de fundamental importância para o crescimento democrático do país.
Por fim, termino conclamando a todas as mulheres brasileiras para que, assumamos juntas, com Dilma Rousseff, o exercício do poder no Brasil, mas poder como serviço e não poder dominação. Não vamos cair na tentação de que lá entrou uma mulher e velará por nós. Vamos presidir o Brasil juntas!
Seguir na luta agora mais do que nunca. Acompanhar, fiscalizar, conhecer os projetos em elaboração, votação e execução. Reivindicar, propor, organizar. Resgatar a dignidade e seguir em marcha na construção do poder popular. Afinal, foi Dilma quem disse, a partir de sua própria história, em seu primeiro pronunciamento à nação no último dia 31 de outubro, “Sim, a mulher pode!”[3] Sim, nós podemos! Mudou-se o cenário.
Naquele quadro em branco com uma interrogação que estava no Jornal Estado de Minas no último dia 31 de outubro, em 1º de janeiro de 2011, pela primeira vez na história do Brasil, passará a ter a foto de uma mulher que sofreu batismo de sangue nos porões da ditadura militar-civil-empresarial. Mulheres brasileiras, temos, portanto, um grande compromisso neste momento da história do Brasil: vamos, todas juntas, com Dilma Rousseff, colocar nossa “fotografia” no quadro da história do país. A era em que as mulheres assumiriam a presidência do Brasil! Cada uma, à sua maneira e com suas possibilidades, mulheres do campo e da cidade, vamos juntas, em marcha, somar as bandeiras de luta, porque sim, nós podemos!
Será Dilma presidindo o Brasil desde o Palácio do Planalto e nós, na base, em todos os cantos e recantos do Brasil presidindo a construção de um Projeto Popular para o Brasil reconhecendo-o como um país plural. Vamos seguir lutando para que seja assegurada a democratização econômica, social e política no país, para que seja rompido todo tipo de preconceito e discriminação ligado ao gênero, à cor, à etnia, às orientações sexuais, classes sociais e crenças religiosas. Que sejam respeitados e garantidos os direitos fundamentais humanos e sociais. Seguiremos em marcha, pois queremos um país que promova o poder popular como fonte soberana.
No jornal, um quadro com uma interrogação, o 36º lugar, aguardava a foto de alguém para prosseguir a história presidencial do país. Com o jornal na mão, mais do que nunca, senti uma forte indignação e um desejo profundo de colocar no quadro em branco o retrato de uma mulher como a marca profunda e definitiva na história do país da participação das mulheres de forma mais efetiva na política brasileira.
Pensei ainda, já visibilizando a possibilidade de Dilma Rousseff vir a ocupar o cargo de Presidenta do Brasil, no compromisso que ela teria com as mulheres brasileiras. Honrar pela igualdade de oportunidade entre homens e mulheres, fazer valer a luta feminina por respeito, dignidade e não violência. Ampliar as possibilidades de as mulheres participarem das decisões sobre o país, e, enfim, o compromisso com a emancipação da mulher em todas as suas dimensões.
Quando, à noite, ouvi o primeiro pronunciamento de Dilma, eleita para a Presidência do Brasil pelo povo brasileiro, fiquei feliz por ela começar destacando seu compromisso com as mulheres enfatizando a igualdade de oportunidades entre homens e mulheres como um princípio essencial da democracia:
“(...) esse fato, para além da minha pessoa, é uma demonstração do avanço democrático do nosso país, porque pela primeira vez uma mulher presidirá o Brasil. Já registro, portanto, o meu primeiro compromisso após a eleição: honrar as mulheres brasileiras para que esse fato até hoje inédito se transforme num evento natural e que ele possa se repetir e se ampliar nas empresas, nas instituições civis e nas entidades representativas de toda a nossa sociedade. A igualdade de oportunidades entre homens e mulheres é um princípio essencial da democracia”. (Dilma Rousseff, uma hora após ser eleita 1ª Presidenta do Brasil, em 31/10/2010.)
Remeto, portanto, a nós mulheres, o compromisso que também temos com este governo. Ilusão pensar que o país será governado por uma pessoa ou por um grupo de pessoas. Sabemos de todas as influências dos blocos dominantes de poder e suas intervenções na governabilidade dos países, sobretudo nos países da nossa América Latina que tentam construir efetivamente sua autonomia política e econômica diante das grandes potências econômicas internacionais.
Estou convencida, cada vez mais de que não podemos “retirar os pés da rua” na luta pela emancipação da mulher e pelo trato com igualdade de oportunidades nas relações de gênero. A Dilma destacou a ampliação da liderança feminina nas empresas, instituições civis e nas entidades representativas de toda a nossa sociedade brasileira. Esperamos que mais mulheres, em grau de igualdade, possam ocupar espaços nos Ministérios e Secretarias da Presidência da República e demais setores da Política. No Brasil, temos muitos nomes de mulheres que podem compor este cenário.
Além disso, sem dúvida alguma, a Presidenta eleita pode contar com a garra e a força feminina nas principais reformas que se precisa fazer neste país. Nas lutas sociais e populares, com rosto suado e pés com o pó da estrada sempre estão presentes as Rosas, Simones, Cidas, Marias, Teresas, Penhas, Wagnas, Sônias e as Margaridas... Precisa-se reconhecer o papel das mulheres na construção de um Brasil possível e urgente onde os direitos fundamentais, humanos e sociais sejam não somente respeitados e garantidos, mas urgentemente efetivados. Com relação a isto, pronunciou-se a candidata eleita em seu primeiro discurso:
“Por isso, registro aqui outro compromisso com meu país. Valorizar a democracia em toda sua dimensão, desde o direito de opinião e expressão até os direitos essenciais, básicos, da alimentação, do emprego, da renda, da moradia digna e da paz social”.
Contar com a participação das mulheres na tão urgente e necessária reforma política a partir do povo, reforma fiscal[1] a partir dos pobres, reforma agrária[2] a partir dos trabalhadores camponeses, reforma nas políticas de saúde e educação e nas prestações dos demais serviços públicos para os quais o povo brasileiro tanto contribui com impostos. Contar com a participação das mulheres para atingir a meta anunciada pela Dilma, tantas vezes repetida na campanha eleitoral e nos pronunciamentos pós eleição, a de erradicar a pobreza no Brasil.
Quando destaco a importância de o Governo contar com a participação das mulheres nas reformas que precisam ser feitas no país, não quero, de modo algum, dizer que não deve contar com a figura masculina, mas que se precisa, urgentemente, elevar a participação das mulheres nestes espaços de reforma e construção de um projeto Brasil. Pode-se muito acrescentar com a participação de grandes mulheres profissionais nas mais diversas áreas que se destacam no cenário brasileiro. Além do aspecto profissional, valores, critérios e traços que são tipicamente femininos são de fundamental importância para o crescimento democrático do país.
Por fim, termino conclamando a todas as mulheres brasileiras para que, assumamos juntas, com Dilma Rousseff, o exercício do poder no Brasil, mas poder como serviço e não poder dominação. Não vamos cair na tentação de que lá entrou uma mulher e velará por nós. Vamos presidir o Brasil juntas!
Seguir na luta agora mais do que nunca. Acompanhar, fiscalizar, conhecer os projetos em elaboração, votação e execução. Reivindicar, propor, organizar. Resgatar a dignidade e seguir em marcha na construção do poder popular. Afinal, foi Dilma quem disse, a partir de sua própria história, em seu primeiro pronunciamento à nação no último dia 31 de outubro, “Sim, a mulher pode!”[3] Sim, nós podemos! Mudou-se o cenário.
Naquele quadro em branco com uma interrogação que estava no Jornal Estado de Minas no último dia 31 de outubro, em 1º de janeiro de 2011, pela primeira vez na história do Brasil, passará a ter a foto de uma mulher que sofreu batismo de sangue nos porões da ditadura militar-civil-empresarial. Mulheres brasileiras, temos, portanto, um grande compromisso neste momento da história do Brasil: vamos, todas juntas, com Dilma Rousseff, colocar nossa “fotografia” no quadro da história do país. A era em que as mulheres assumiriam a presidência do Brasil! Cada uma, à sua maneira e com suas possibilidades, mulheres do campo e da cidade, vamos juntas, em marcha, somar as bandeiras de luta, porque sim, nós podemos!
Será Dilma presidindo o Brasil desde o Palácio do Planalto e nós, na base, em todos os cantos e recantos do Brasil presidindo a construção de um Projeto Popular para o Brasil reconhecendo-o como um país plural. Vamos seguir lutando para que seja assegurada a democratização econômica, social e política no país, para que seja rompido todo tipo de preconceito e discriminação ligado ao gênero, à cor, à etnia, às orientações sexuais, classes sociais e crenças religiosas. Que sejam respeitados e garantidos os direitos fundamentais humanos e sociais. Seguiremos em marcha, pois queremos um país que promova o poder popular como fonte soberana.
[a] Irmã da Congregação das Filhas de Jesus, advogada da RENAP - Rede Nacional de Advogados Populares -; participa da Rede de Solidariedade às Ocupações Urbanas em Belo Horizonte, MG e da Comissão Pastoral da Terra - CPT/MG; e-mail: rosariofi2000@hotmail.com.
[1] No Brasil os assalariados pagam mais em impostos do que os donos do capital e até hoje não se regulamentou o imposto sobre grandes fortunas previsto na atual Constituição.
[2] No Brasil 1% da população possui 46% das terras e os trabalhadores camponeses estão sendo cada vez mais expulsos do campo para dar lugar ao agronegócio de monoculturas tão danosas ambientalmente e socialmente.
[3] “Eu gostaria muito que os pais e as mães das meninas pudessem olhar hoje nos olhos delas e dizer: ‘Sim, a mulher pode’. A minha alegria é ainda maior pelo fato que a presença de uma mulher na Presidência da República se dá pelo caminho sagrado do voto, da decisão democrática do eleitor, do exercício mais elevado da cidadania”.