Lucimar Moreira Bueno(Lucia) - www.lucimarbueno.blogspot.com

terça-feira, 16 de novembro de 2010

CEBs - Comunidades Eclesiais de Base

Os desafios postos às CEBs hoje:
A sociabilidade básica no clima cultural contemporâneo

Com as grandes mudanças que estão acontecendo no mundo inteiro e em nosso país, as CEBs enfrentam hoje novos desafios: em uma sociedade globalizada e urbanizada, como viver em comunidade? Nascidas num contexto ainda em grande parte rural, serão capazes de se adaptar aos centros urbanos, que têm um ritmo de vida diferente e são caracterizados por uma realidade plural? Dentro desse contexto, há outro desafio: como transmitir às novas gerações as experiências e valores das gerações anteriores, inclusive a fé e o modo de vivê-la? Só uma Igreja com diferentes jeitos de viver a mesma fé será capaz de dialogar relevantemente com a sociedade contemporânea.

O século XX foi, sem dúvida, o século da globalização. Suas conseqüências para a vida cotidiana são tantas que hoje se fala que o mundo vive não mais uma época de mudanças, mas “uma mudança de época, cujo nível mais profundo é o cultural” (DAp, n. 44). De fato, “a ciência e a técnica quando colocadas exclusivamente a serviço do mercado [...] criam uma nova visão da realidade” (DAp, n. 45), mas isso não significa um passo em direção ao desenvolvimento integral proposto pela encíclica Populorum progressio e reafirmado pelo Papa Bento XVI em Caritas in Veritate, porque a lógica do mercado corrói a estrutura de sociabilidade básica que se expressa nas relações de tipo comunitário. À medida que ele avança, expulsa as relações de cooperação e solidariedade e introduz relações de competição, nas quais o mais forte é quem leva vantagem.

Dessa forma, é preciso valorizar as experiências de sociabilidade básica: as relações fundadas na gratuidade que se expressa na dinâmica de oferecer-receber-retribuir. O cultivo da reciprocidade tem como espaço primeiro aquele onde a vizinhança territorial é importante para a vida cotidiana, como em áreas rurais, bairros de periferia e favelas. É a solidariedade entre vizinhos-melhor dizendo, entre vizinhas-que assegura o cuidado com crianças, idosos e doentes, por exemplo. Não por acaso, esses espaços periféricos favorecem o desenvolvimento de associações de vizinhança e movimentos que reivindicam melhorias de equipamento urbano, bem como das próprias Comunidades Eclesiais de Base (CEBs). São as relações de reciprocidade que, promovendo a solidariedade, que é à força dos pobres e pequenos, permitem que se diga que “gente simples, fazendo coisas pequenas, em lugares pouco importantes, consegue mudanças extraordinárias”.