Por Oded Grajew*
Todos concordariam que a finalidade última de nossas ações, individuais e coletivas, deveria ser a busca pelo bem-estar das pessoas. No entanto, o crescimento do consumo de drogas legais e ilegais, da venda de livros de autoajuda e da violência é fortíssimo sinal de que muitas pessoas estão insatisfeitas com suas vidas. A falta de limites na cultura da competição e do consumo nos deixa sempre atrasados em relação às últimas novidades, resultando em insatisfação, ansiedade e frustração permanentes.
Todos concordariam que a finalidade última de nossas ações, individuais e coletivas, deveria ser a busca pelo bem-estar das pessoas. No entanto, o crescimento do consumo de drogas legais e ilegais, da venda de livros de autoajuda e da violência é fortíssimo sinal de que muitas pessoas estão insatisfeitas com suas vidas. A falta de limites na cultura da competição e do consumo nos deixa sempre atrasados em relação às últimas novidades, resultando em insatisfação, ansiedade e frustração permanentes.
Este modelo de sociedade moldada e avaliada por esta escala de valores acaba se refletindo em nossas cidades. Sociedade sem alma produz cidades sem alma. Matamos nossos rios, poluímos nosso ar e nossos ouvidos, destruímos nossas florestas, descuidamos da beleza e das relações pessoais, desprezamos as atividades humanas como a educação, cultura e as artes, maltratamos nosso corpo e nosso espírito, perdemos o sentido do trabalho, e o lucro se sobrepõe à vida. Promovemos o desenvolvimento insustentável, comprometendo as condições de vida das futuras gerações.
Ao completar dois anos de existência, o Movimento Nossa São Paulo lançou os Indicadores de Referência de Bem-Estar no Município (Irbem). Nosso objetivo é promover a reflexão sobre os fatores determinantes para o bem-estar das pessoas, colaborar para a humanização das relações e dos espaços públicos e privados, e sensibilizar gestores públicos municipais a procurarem priorizar o atendimento dessas necessidades. O Irbem é resultado de um processo de participação popular que constou de uma consulta pública realizada entre junho e outubro de 2009, da qual participaram quase 40 mil pessoas. Em dezembro, em parceria com o Ibope, fomos às ruas e perguntamos sobre o grau de satisfação da população em 25 áreas temáticas, detalhadas em 170 itens. Destes, apenas 39 receberam nota acima da média. Um exercício participativo e valioso para que cada um reflita sobre o que é realmente determinante para sua qualidade de vida.
Eleger critérios e prioridades de avaliação define nosso conceito de sociedade. Os indicadores ajudam a conhecer a sociedade e a planejar aquilo que queremos alcançar. Quando o crescimento do PIB passa a ser o principal indicador dos países, quando “ter” passa a ser mais importante do que “ser”, inviabilizamos o desenvolvimento que expande liberdades e direitos humanos.
Esperamos que o Irbem se torne um instrumento para ajudar as pessoas, instituições e governos a definirem adequadamente o conceito do bem-estar para permitir o planejamento, a formação de parcerias e a promoção do desenvolvimento sustentável. E esperamos que encontros como a 1ª Conferência Internacional de Cidades Inovadoras, que se realiza de 10 a 13 de março, em Curitiba (PR), possam contribuir para a disseminação de experiências como a que estamos desenvolvendo em São Paulo e em mais de 30 outras cidades brasileiras. Nesse sentido, o evento pode ser um grande marco na luta por cidades efetivamente justas e sustentáveis.
* O empresário Oded Grajew é um dos integrantes do Movimento Nossa São Paulo e também membro do Conselho Deliberativo e presidente emérito do Instituto Ethos. É idealizador do Fórum Social Mundial e idealizador e ex-presidente da Fundação Abrinq. Foi assessor especial do presidente da República em 2003.
Artigo publicado originalmente na edição de 3 de março de 2010 do Jornal do Brasil.
(Envolverde/Instituto Ethos)