Lucimar Moreira Bueno(Lucia) - www.lucimarbueno.blogspot.com

quarta-feira, 2 de dezembro de 2009

Maringá é uma cidade com racismo velado, mas intenso, acusa professor da UEM

Discriminação é “velada”, mas “intensa”, afirma o professor Walter Praxedes. Como combater um problema que “oficialmente não existe”?

Edmundo Pacheco
epacheco@odiariomaringa.com.br

“Maringá é cidade racista onde a discriminação é praticada de forma velada, mas muito intensa”, a declaração, do professor Walter Praxedes, coordenador do Núcleo de Estudos Afro-Brasileiros (Neab) da Universidade Estadual de Maringá (UEM), põe fim a um mito. O mito de uma Maringá aberta e pluralista. Segundo o professor, a prova da discriminação e do racismo da cidade está nas ruas, no comércio, nas empresas, nos órgãos públicos.

Dos 25.56% da população, identificados como negros – cerca de 85 mil pessoas – não há nenhuma personalidade de destaque. “Essa população negra ocupa espaços segregados. Mora na periferia, tem dificuldade de arrumar trabalho. Não temos médicos negros, não temos advogados, jornalistas, nada”. Segundo o professor, que trabalha com grupos de pesquisa voltados para a questão do negro, dos cerca de 1.300 professores da UEM há menos de 10 negros, “e este é apenas um exemplo. Não temos juízes, não temos autoridades, ninguém ocupando ou que tenha ocupado cargo de destaque na sociedade”.

Praxedes lembra que, apesar de as pessoas não se declararem racistas, basta passear pelos shoppings para observar que não há pessoas negras trabalhando nas lojas, muito menos lojistas negros, “apesar do trabalho que fazemos em Maringá desde 1985, tentando conscientizar os empresários a não discriminarem. O preconceito aqui é praticado por preterimento. Se tiver dois trabalhadores, um branco e um negro, contrata-se o branco”, diz o professor. Por este motivo, segundo ele, a cidade tem poucas pessoas ocupando cargos de destaque.

A maior luta
Na opinião do assessor de Igualdade Racial do Município, Ademir Felix de Jesus, “a maior luta é contra a discriminação velada”, que impede que se combata o racismo. “Não temos como atacar um problema que oficialmente não existe”. Outro problema, segundo ele, e talvez o mais grave, está no inconsciente das pessoas:
“A baixa autoestima desmotiva os negros, desde a infância. Por isso as ações de inclusão social e conscientização são tão importantes”. Um reflexo disso aparece nas estatísticas.

De acordo com dados da Pesquisa Mensal de Emprego (PME) do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), a taxa de desemprego é maior entre negros e pardos, 11,8%, sendo que entre brancos este índice cai para 8,6%. Outro dado preocupante é que, a cada seis brasileiros que pertencem à elite, somente um é negro.

Discriminados e com baixa autoestima, os negros brasileiros, que, segundo o IBGE, são 92 milhões e respondem por 48% da população economicamente ativa, acabam marginalizados. Uma pesquisa do Laboratório de Análises Econômicas, Históricas, Sociais e Estatísticas das Relações Raciais da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), com base em dados do Sistema Único de Saúde (SUS) revelou que 59.896 negros foram assassinados no Brasil, em 2006 e 2007.

No mesmo período, 29.892 brancos morreram assassinados. A diferença entre o número de homicídios de negros e brancos é maior entre as crianças e jovens de 10 a 24 anos, a maioria envolvida com o tráfico de drogas. “E Maringá é uma cidade como qualquer outra, onde os negros ocupam posições subalternas e enfrentam os mesmos problemas sociais. Por ser uma cidade jovem, fica parecendo que o problema aqui não existe, mas não é verdade”, analisa o professor Praxedes.