Lucimar Moreira Bueno(Lucia) - www.lucimarbueno.blogspot.com

quinta-feira, 8 de outubro de 2009

Votorantim continua causando morte no rio São Francisco

A Votorantim é uma das principais empresas responsáveis pela poluição do rio São Francisco com metais pesados
Frei Gilvander Moreira

Dia 2 de outubro de 2009, dia do nascimento de Gandhi, antevéspera do dia de São Francisco de Assis, patrono do Velho Chico, cerca de 350 pescadores, Sem-Terra, sindicalistas e representantes de Movimentos populares e da Via Campesina - membros da Articulação Popular em defesa do rio São Francisco - promoveram manifestação na cidade de Três Marias, MG, às margens do Velho Chico e no portão de entrada da Votorantim Metais.

Às 6 horas da manhã, após concentração na beira do rio São Francisco, iniciamos uma marcha, atravessando a ponte da BR 040, que está logo abaixo da barragem de Três Marias. Em frente à Votorantim Metais a BR 040 foi bloqueada durante 30 minutos. Após, aconteceu um Ato Público durante duas horas no portão de entrada da Votorantim Metais, onde com faixas, gritos de luta e através de pronunciamento de muitas lideranças e pescadores foram denunciadas as agressões que a Votorantim vem provocando no rio São Francisco há 40 anos. No MANIFESTO. Assinado por 22 movimentos populares e sindicatos, distribuído à população consta, por exemplo, que:

a) A Votorantim é uma das principais empresas responsáveis pela poluição do rio São Francisco com metais pesados. Desde o final de 2004 já morreram 200 toneladas de peixes, principalmente surubins adultos contaminados por rejeitos tóxicos lançados pelo processamento de zinco da Votorantim Metais. Só de óxido de Zinco a produção chega a 110 toneladas por dia com 600 dólares de lucro por tonelada. A empresa vende esse produto, principalmente, para Pirelli, Michelin e outras indústrias de pneus que infestam as cidades de automóveis, prestando culto à automovelatria (carrolatria). Além de matar, diretamente, os peixes e, indiretamente, pescadores, causar devastação ambiental e social, a Votorantim infernaliza a vida nas cidades.

b) A Votorantim Metais começou a operar em 1969 e por 14 anos lançou seus rejeitos minerários diretamente no rio São Francisco. Somente em 1983 foi construída uma barragem de contenção de rejeitos. Mas para facilitar a vida da empresa, a barragem foi construída na barranca do rio na cidade de Três Marias! Os metais pesados, através da infiltração, continuaram a se acumular no leito do rio. Hoje existe no fundo do rio um metro e meio de lama tóxica. Quando as comportas da barragem de Três Marias são abertas essa lama é revolvida contaminando ainda mais a água e os peixes. A poluição industrial da Votorantim Metais sempre esteve no cerne da contaminação das águas do Rio São Francisco. Por isso, os órgãos ambientais – os que não se vendem – exigiram a desativação da primeira barragem. Umas segunda foi construída pela empresa, mas de forma irregular, desrespeitando normas técnicas exigidas pelos órgãos ambientais. Continuou ocorrendo infiltração e a segunda barragem também foi reprovada. Em 2005 a empresa comprometeu-se em construir uma terceira barragem e cumprir mais 25 TACs – Termo de Ajuste de Conduta. A poluição continua, e não se tem informação sobre o cumprimento dos termos.

c) - Relatórios e análises químicas de órgãos ambientais mostram que água, sedimentos e peixes apresentam índices alarmantes de contaminação por metais pesados, muitas vezes acima dos permitidos pelo CONAMA – Conselho Nacional de Meio Ambiente: zinco – 5.280 vezes; cádmio – 1.140; cobre – 32; chumbo – 42.

d)- A CEMIG também foi denunciada pela abertura das comportas da usina de Três Marias para possibilitar os passeios turísticos do barco a vapor Benjamin Guimarães, e em época de outros eventos para camuflar a realidade do rio poluído, degradado e minguante. Com a súbita liberação das águas, muitas plantações dos vazanteiros são destruídas, a consequência é mais fome.

A manifestação foi ostensivamente acompanhada pela Polícia Militar que seguia a cartilha que lhe ordena agir com truculência. Parou os 4 ônibus e revistou todas as pessoas e os pertences. Até os paus que serviam de suporte para as faixas foram apreendidos. No momento do trancamento da BR 040 policiais empurraram pescadores e Sem Terra, gritando e ameaçando com cassetetes. Tiveram que ouvir que a Constituição de 1988 assegura o direito de manifestação e de luta e que a PM deveria cuidar da segurança pública e não cuidar da segurança da Votorantim Metais. No Portão da empresa a polícia impediu que fosse feito um piquete para tentar impedir a entrada dos trabalhadores. Já quase ao meio dia, após percorrermos muitas ruas da cidade de Três Marias, fomos “escoltados” até à sede do Sindicato dos Metalúrgicos, onde ficamos por um certo tempo “sitiados” pela polícia militar de Minas Gerais que, sob comando do Tenente Valdeci, insistia em prender uma liderança que no carro de som tinha denunciado os desmandos da polícia. Após intensa negociação tivemos que entregar a identidade do militante. O tenente repetia insistentemente que tinha que fazer um Boletim de Ocorrência contra Samuel. “Se vocês não me entregarem a identidade dele os 4 ônibus serão presos”.

Foi alertado que quem deveria ser preso era a Votorantim, pois está contaminando com metais pesados o rio São Francisco.

Frei Gilvander Moreira é assessor da Comissão Pastoral da Terra (CPT) em Minas Gerais