“É mais fácil mimeografar o passado que imprimir o futuro.” (Zeca Baleiro, em Minha Casa.)
Comecemos por tentar visualizar a possibilidade, que sabemos existir, pois já a experimentamos, eu (Laila esta mesma, que não se priva ou se furta de dizer quem é que fala) que falo de três anos pra cá mais ou menos. Falo da loucura, da possibilidade dessa no meio aberto, entre nós, loucos e não loucos.
Começo por dizer que lá na Marcha dos Usuários por uma Reforma Psiquiátrica Antimanicomial[1] (e aqui o engraçado...a língua, se antes ela era manicomial, é claro que desde quando fizeram a reforma deveria ser anti...mas não! Ainda conseguiram reforçar a não possibilidade do prefixo pra fazer impossível o que é visivelmente claro) foi lá que nós, estudantes começamos a falar um não, um não pra uma bobagem, que pode causar riso, mas quando disseram: “Os bonés são somente para os usuários!” Nós(eu): “Não! Nós estamos lutando contra o estigma! Vamos pegar também uai! Num é pra separar louco de não louco, e quem falou que nós(eu) não somos usuários?!” E lá vamos nós! Buscamos o boné!!! E daí cantamos juntos e distribuímos estandartes, e fizemos contatos (um desses doloroso mas também possível!!! A grande roda de mais de 70 estudantes Antimanicomiais! E meu coração ficava louco, surtado! Siderado! Uma proposta!!! Uma proposta dos estudantes de Belo Horizonte, MG pra fazer o 1º Encontro Nacional de Estudantes Antimanicomiais! A dureza da discussão, nossa imaturidade, alguns impropérios, mas dia 02 de novembro de 2009 (nesse ano) a primeira proposta de nos reunirmos!!!!) e falamos de nossa experiência, pequena, de logo ali...ali aonde o nariz aponta e onde enfiamos onde não somos (não somos?) chamados! Mas ouviram nossas vozes!
Foi assim com uma multidão! Até hoje não sei quantos! Quantos Loucos em Brasília! Cidade feia! Feia sim! Artificial como diria o Zambelli! Grande demais como diria o Júnior: “Olha quanta terra, será quantas Ocupações Dandaras não caberiam aqui?!” Eu diria que é o lugar de maior especulação imobiliária que já vi em toda a minha vida de 27 e alguma coisa de anos!!!! Um lugar construído pra não ter gente! É uai! Não tem gente, e as poucas que tem, não tem faixa de pedestre e se perdem o ônibus tem que pegar outro porque as pernas ficam queimando do tanto que tem de andar! E haja andar hein: Davidson, Rosa, Mariana e Junior, em busca de protocolar papéis! Numa cidade feita pra morar a BUROCRACIA!
Entretanto um lugar que ocupamos durante um dia! Um dia de Trem Tan Tan que eu nunca tinha ouvido! Um dia de Baianos que cantam de axé a rap, e não se cansam! Nunca!!! Eu deitada, mortinha, eles na roda de capoeira! Lugar com gente do Pará! Pernambuco, com a Dona Vera militante do MST, 26 anos de Brasília!!! 4 anos de militância e já entende pra que (pra quem) foi feita aquela cidade! Como meu pai hoje cedo quando chego em casa: “Brasília não nasceu minha filha! Foi projetada!” Credo!!!
Que nos livrem e guardem de uma cidade não nascida! E dos hospícios e da reforma que não é antimanicomial! Porque como tá no estandarte: “Os loucos sempre dizem a verdade!” Frase descoberta por mim numa biografia do Che, ele mesmo dizendo de si louco! E aquele tantão de louco dizendo (imprimindo a nova linguagem! A invenção antimanicomial!) em várias reuniões em vários ministérios diferentes, o que eles querem, o que puderam fazer em todos esses anos de busca de liberdade! E não abrem mão dela: “Tire a mão do meu direito”!
Eles, os não loucos (não??) dos prédios dos Ministérios podem preferir o mais fácil: mimeografar o passado, nós loucos de pedra, de verdade, varridos queremos imprimir um futuro onde os loucos, os presos, os e as todos sem problema de língua ou de lugar não estejam onde foram colocados pela linguagem da ordem, ordem de uns que se acharam não loucos dominantes!
Pela extinção de manicômios e prisões!
Pela extinção de toda forma de opressão causada por qualquer tipo de língua ou linguagem!!!
[1] Mais de 3.500 manifestantes que, em Brasília, dia 30/09/2009, foram recebidos por mais de 20 ministérios e pelo assessor Especial do Presidente Lula, Gilberto Carvalho.
Começo por dizer que lá na Marcha dos Usuários por uma Reforma Psiquiátrica Antimanicomial[1] (e aqui o engraçado...a língua, se antes ela era manicomial, é claro que desde quando fizeram a reforma deveria ser anti...mas não! Ainda conseguiram reforçar a não possibilidade do prefixo pra fazer impossível o que é visivelmente claro) foi lá que nós, estudantes começamos a falar um não, um não pra uma bobagem, que pode causar riso, mas quando disseram: “Os bonés são somente para os usuários!” Nós(eu): “Não! Nós estamos lutando contra o estigma! Vamos pegar também uai! Num é pra separar louco de não louco, e quem falou que nós(eu) não somos usuários?!” E lá vamos nós! Buscamos o boné!!! E daí cantamos juntos e distribuímos estandartes, e fizemos contatos (um desses doloroso mas também possível!!! A grande roda de mais de 70 estudantes Antimanicomiais! E meu coração ficava louco, surtado! Siderado! Uma proposta!!! Uma proposta dos estudantes de Belo Horizonte, MG pra fazer o 1º Encontro Nacional de Estudantes Antimanicomiais! A dureza da discussão, nossa imaturidade, alguns impropérios, mas dia 02 de novembro de 2009 (nesse ano) a primeira proposta de nos reunirmos!!!!) e falamos de nossa experiência, pequena, de logo ali...ali aonde o nariz aponta e onde enfiamos onde não somos (não somos?) chamados! Mas ouviram nossas vozes!
Foi assim com uma multidão! Até hoje não sei quantos! Quantos Loucos em Brasília! Cidade feia! Feia sim! Artificial como diria o Zambelli! Grande demais como diria o Júnior: “Olha quanta terra, será quantas Ocupações Dandaras não caberiam aqui?!” Eu diria que é o lugar de maior especulação imobiliária que já vi em toda a minha vida de 27 e alguma coisa de anos!!!! Um lugar construído pra não ter gente! É uai! Não tem gente, e as poucas que tem, não tem faixa de pedestre e se perdem o ônibus tem que pegar outro porque as pernas ficam queimando do tanto que tem de andar! E haja andar hein: Davidson, Rosa, Mariana e Junior, em busca de protocolar papéis! Numa cidade feita pra morar a BUROCRACIA!
Entretanto um lugar que ocupamos durante um dia! Um dia de Trem Tan Tan que eu nunca tinha ouvido! Um dia de Baianos que cantam de axé a rap, e não se cansam! Nunca!!! Eu deitada, mortinha, eles na roda de capoeira! Lugar com gente do Pará! Pernambuco, com a Dona Vera militante do MST, 26 anos de Brasília!!! 4 anos de militância e já entende pra que (pra quem) foi feita aquela cidade! Como meu pai hoje cedo quando chego em casa: “Brasília não nasceu minha filha! Foi projetada!” Credo!!!
Que nos livrem e guardem de uma cidade não nascida! E dos hospícios e da reforma que não é antimanicomial! Porque como tá no estandarte: “Os loucos sempre dizem a verdade!” Frase descoberta por mim numa biografia do Che, ele mesmo dizendo de si louco! E aquele tantão de louco dizendo (imprimindo a nova linguagem! A invenção antimanicomial!) em várias reuniões em vários ministérios diferentes, o que eles querem, o que puderam fazer em todos esses anos de busca de liberdade! E não abrem mão dela: “Tire a mão do meu direito”!
Eles, os não loucos (não??) dos prédios dos Ministérios podem preferir o mais fácil: mimeografar o passado, nós loucos de pedra, de verdade, varridos queremos imprimir um futuro onde os loucos, os presos, os e as todos sem problema de língua ou de lugar não estejam onde foram colocados pela linguagem da ordem, ordem de uns que se acharam não loucos dominantes!
Pela extinção de manicômios e prisões!
Pela extinção de toda forma de opressão causada por qualquer tipo de língua ou linguagem!!!
[1] Mais de 3.500 manifestantes que, em Brasília, dia 30/09/2009, foram recebidos por mais de 20 ministérios e pelo assessor Especial do Presidente Lula, Gilberto Carvalho.
[1] Formanda em Letras pela UFMG
