Lucimar Moreira Bueno(Lucia) - www.lucimarbueno.blogspot.com

quinta-feira, 20 de agosto de 2009

Uma Silva sucessora de um Silva?

Leonardo Boff
Teólogo

Intervenção de padre João Caruana


Não estou ligado a nenhum partido, pois para mim partido é parte. Eu como intelectual me interesso pelo todo embora, concretamente, saiba que o todo passa pela parte. Tal posição me confere a liberdade de emitir opiniões pessoais e descompromissadas com os partidos.


De forma antecipada se lançou a disputa: Quem será o sucessor do carismático presidente Luiz Inácio Lula da Silva?


De antemão afirmo que a eleição de Lula é uma conquista do povo brasileiro, principalmente daqueles que foram sempre colocados à margem do poder. Ele introduziu uma ruptura histórica como novo sujeito político e isso parece ser sem retorno. Não conseguiu escapar da lógica macro-econômica que privilegia o capital e mantém as bases que permitem a acumulação das classes opulentas. Mas introduziu uma transição de um estado privatista e neoliberal para um governo republicano e social que confere centralidade à coisa pública (res publica), o que tem beneficiado vários milhões de pessoas. Tarefa primeira de um governante é cuidar da vida de seu povo e isso Lula o fez sem nunca trair suas origens de sobrevivente da grande tribulação brasileira.


Pe João
Eu me pergunto Professor: Então se Lula nunca traiu suas origens de sobrevivente da grande tribulação brasileira, porque nos vamos nos afastar, não faz tudo como nós pensávamos? Aceitando que a política é roda e fogo se distanciando publicamente com quem "introduziu uma ruptura histórica como novo sujeito político, e isso parece sem retorno" - não tem muito sentindo, não!!


Depois de oito anos de governo se lança à questão que seguramente interessa à cidadania e não só ao PT: quem será seu sucessor? Para responder a esta questão precisamos ganhar altura e dar-nos conta das mudanças ocorridas no Brasil e no mundo. Em oito anos muita coisa mudou. O PT foi submetido a duras provas e importa reconhecer que nem sempre esteve à altura do momento e às bases que o sustentam. Estamos ainda esperando uma vigorosa autocrítica interna a propósito de presumido “mensalação”. Nós cidadãos não perdoamos esta falta de transparência e de coragem cívica e ética.


Pe João
“““ “““ Mais outra vez, me pergunto Professor: quem na historia da humanidade, qual instituição, “foi submetida a duras provas” e sempre esteve” á altura do momento”?
Será que o partido não fez "uma vigorosa autocrítica interna"? Será? Será mesmo? Compare como se comportou o PT e como se comportam outros partidos que se envolveram na mesma polemica! Eu penso assim: um partido mostra ética não só não errando - que seria o ideal - mas com o seu comportamento caso as suas lideranças venham a errar! Não acha? E nesse sentido sim, o partido foi muito ético! Sim Senhor!
E eu não vi nenhum "corporativismo" no partido naquele momento. Ao contrário, a liderança do partido mudou - o partidário foi dado voz e vez votando. Não só, o País perdeu no governo dois ministros que estavam trabalhando muito bem à toa, como o tempo está mostrando - segundo a minha humilde opinião. E os petistas, ligados formalmente ao partido ou não repararam isto: o partido não fracassou na eleição de 2006 como muitos "profetizaram" que ia acontecer! Não progrediu - por causa da crise, mas não fracassou!


Em grande parte, o PT virou um partido eleitoreiro, interessado em ganhar eleições em todos os níveis. Para isso se obrigou a fazer coligações muito questionáveis, em alguns casos, com a parte mais podre dos partidos, em nome da governabilidade que, não raro, se colocou acima da ética e dos propósitos fundadores do PT.


Há uma ilusão que o PT deve romper: imaginar-se a realização do sonho e da utopia do povo brasileiro. Seria rebaixar o povo, pois este não se contenta com pequenos sonhos e utopias de horizonte tacanho. Eu que circulo, em função de meu trabalho, pelas bases da sociedade vejo que se esvaziou a discussão sobre “que Brasil queremos”, discussão que animou por decênios o imaginário popular. Houve uma inegável despolitização em razão de o PT ter ocupado o poder. Fez o que pôde quando podia ter feito mais, especialmente com referência à reforma agrária e à inclusão estratégica (e não meramente pontual) da ecologia


Quer dizer, o sucessor não pode se contentar de fazer mais do mesmo. Importa introduzir mudanças. E a grande mudança na realidade e na consciência da humanidade é o fato de que a Terra já mudou. A roda do aquecimento global não pode mais ser parada, apenas retardada em sua velocidade. A partir de 23 de setembro de 2008 sabemos que a Terra como conjunto de ecosissitemas com seus recursos e serviços já se tornou insustentável porque o consumo humano, especialmente dos ricos que esbanjam, já psssou em 40% de sua capacidade de reposição.


Esta conjuntura que, se não for tomada a sério, pode levar nos próximos decênios a uma tragédia ecológicohumanitária de proporções inimagináveis e, até pelo final do século, ao desaparecimento da espécie humana. Cabe reconhecer que o PT não incorporou a dimensão ecológica no cerne de seu projeto político. E o Brasil será decisivo para o equilíbrio do planeta e para o futuro da vida.

Qual é a pessoa com carisma, com base popular, ligada aos fundamentos do PT e que se fez ícone da causa ecológica? É uma mulher, seringueira, da Igreja da libertação e amazônica. Ela também é uma Silva, como Lula. Seu nome é Marina Osmarina Silva.


Pe João
Concluindo: eu não tenho nada contra a Senadora Marina - imagina! - como nunca tinha nada contra a Senadora Helena. Na época eu escrevi para ela dizendo para cuidar, para ir mais devagar, para que não seja apressado como o Presidente mesmo estava alertando, porque os semitas dizem "que a gata apressada cria gatas cegas" ou algo semelhante. E não deu outro: Alagoas colocou Collor de novo no Senado e Heloisa vereadora, se eu entendi bem do ultimo programa do PSOL! E para a Senadora Marina e para quem está apoiando ela como o nosso querido Teólogo digo, que um das manchetes na imprensa inglesa após as ultimas eleições europeas, onde por causa da crise econômica, tudo mundo estava esperando que a direita perde e esquerda progride, algo que como tudo mundo sabe não aconteceu, um dos manchete era:
"O eleitor castiga as esquerdas. Porque gostam se dividir"!
Obrigado e me desculpe alguma coisa!



Nota:
Padre João Caruana da ilha de Malta, há 25 anos no Brasil, por 24 anos trabalhou em Sarandi na periferia de Maringá no Paraná, e agora aos 68 anos, mudei para Guajará-mirim em Rondônia para fazer uma outra experiência na minha vida, está vez nas Amazonas, antes de "pendurar as minhas botas pastorais"!

Leonardo Boff é autor do livro Que Brasil queremos? Vozes 2000.
Petrópolis, 15 de agosto de 2009.