Lucimar Moreira Bueno(Lucia) - www.lucimarbueno.blogspot.com

terça-feira, 23 de junho de 2009

Entrevista com o vereador Humberto Henrique (PT)

1 - Como foi o processo que o levou a ser vereador?
R. No início de 2004, havia dois grupos de pessoas da comunidade discutindo o processo eleitoral que aconteceria naquele ano. Um na Paróquia Nossa Senhora da Liberdade e outro na então Capela Nossa Senhora do Rosário, Cj. Requião, esse último com o apoio do Padre Adacílio.

Os dois grupos decidiram se juntar e criaram o GEAP – Grupo de Estudo e Ação Política com o objetivo de fazer formações tendo como base o documento 67 da CNBB, que tratava do papel do Cristão na Política.

Depois de vários encontros e reuniões, o grupo decidiu lançar um nome para disputar uma vaga na Câmara de vereadores, entendendo que era o momento certo, com o propósito de, sendo eleito, mostrar que era possível fazer política no seu verdadeiro sentido, ou seja, promover o bem comum. Assim, depois da indicação de alguns nomes, eu fui o escolhido para representar este projeto. A partir daí, foram várias reuniões na comunidade, onde foi elaborada e apresentada a proposta que teve um grande apoio. E desta forma conseguimos ganhar a eleição com 2.112 votos.

2 - Baseado em quê o senhor denomina o seu mandato como um “mandato participativo”?
R. O Mandato já surgiu participativo, pois a forma utilizada para decidir sobre o projeto e quem seria o representante foi um grande exemplo de participação popular. Eu entendo que devemos sempre viver em comunidade, e quando ela se organiza consegue superar vários obstáculos e alcançar seus objetivos.

Nosso Mandato é participativo pela forma que surgiu e como se propôs atuar, criando mecanismos de interação com a comunidade, através de reuniões, debates, formações, prestação de contas, informativos impressos e pela Internet, participação nas reuniões dos conselhos municipais e locais, envolvimento com associações de moradores, e sindicatos. Enfim, o Mandato passa a ser participativo quando ele abre espaço para que a população e as entidades representativas da sociedade façam parte dele, e isso tem sido feito pelo nosso Mandato.

3 - Para o senhor é importante o envolvimento dos cidadãos e cidadãs nas decisões sociais e políticas? Como participar e acompanhar?
R. Infelizmente a maior parte da população entende que quando elege uma pessoa, transferiu para ela toda a responsabilidade de resolver seus problemas. O envolvimento dos cidadãos e cidadãs na construção de uma sociedade mais justa e igualitária vai além do voto, deve haver um compromisso de co-responsabilidade entre a população e o eleito. Ela deve acompanhar como seus representantes estão atuando, cobrar para que haja mais espaços de participação, como audiências públicas e debates dos problemas locais, regionais e nacionais, pois tudo que é votado pelos legisladores municipais, estaduais e federais tem impacto direto no dia a dia do cidadão e da cidadã. Em Maringá, por exemplo, é possível acompanhar as sessões da Câmara pessoalmente, nas terças e quintas-feiras a partir das 16 horas, ou através da Internet, na página da Câmara, http://www.cmm.pr.gov.br/. E no caso do nosso Mandato, temos vários instrumentos de participação e acompanhamento que colocamos a disposição de quem se interessar.

4 - Os recursos do município estão sendo bem aplicados, priorizando as necessidades mais gritantes do povo?
R. Do ponto de vista da gestão fiscal, o município vem cumprindo com as determinações impostas pela Lei de Responsabilidade Fiscal, ou seja, vem gastando menos do que recebe. Do ponto de vista da aplicação do dinheiro em políticas públicas que possam resultar na inclusão social da população mais carente, entendo que há muito que avançar. Embora o município venha atendendo o dispositivo constitucional que prevê a aplicação de 15% da receita corrente líquida em Saúde e 25% em Educação, essas duas áreas merecem uma atenção ainda maior. Na área da saúde temos aproximadamente 15.000 pessoas esperando uma consulta especializada, além de 5.000 na fila de exames e cirurgias. Na área da Educação existem ainda muitas crianças fora dos centros de educação infantil, e se faz urgente implantar no município a Educação Integral, onde o aluno estuda um período e no outro tenha a opção de outras atividades na área cultural, esportiva e de qualificação. Poderia citar também a falta de incentivo para as cooperativas de materiais recicláveis organizadas que estão agonizando, e que não precisariam de muitos recursos para se manter e continuar prestando um grande serviço para o município na área ambiental e claro também na área social, pois elas geram trabalho e renda sem a necessidade de grandes investimentos.

5 - Logo após os resultados da urna, em outubro do ano passado, com a não reeleição de uma maioria e a eleição de alguns novatos criou-se um clima de expectativa de mudanças na Câmara. Mas hoje percebemos a existência de cidadãos e cidadãs, como eu, decepcionados com a atuação da maioria dos vereadores. Qual sua opinião sobre essa situação e a forma como a Câmara vem cumprindo sua função?
R. Tivemos uma renovação de mais de 50%, oito novos vereadores assumiram e isso criou uma expectativa na sociedade de que a Câmara pudesse resgatar a sua imagem, tão desgastada na última legislatura, no sentido de fazer as mudanças necessárias para que o Legislativo pudesse cumprir com sua função de fiscalização da correta aplicação do dinheiro público e de legislar, criando e votando leis que fato possam contribuir para melhorar a vida das pessoas. Infelizmente as mudanças ainda não ocorreram como esperado, e isso se deve ao fato de que muitos vereadores que fazem parte da chamada “base aliada” do prefeito, acabam votando sem analisar profundamente as conseqüências que determinada lei pode trazer para a população. Eu acredito que a Câmara não pode agir como um braço da administração, como se fosse mais uma secretaria, e muitas vezes isso acontece. Na verdade, para se votar uma lei é necessário que os princípios da legalidade, impessoalidade, moralidade e publicidade, muito bem definidos no artigo 37 da Constituição Federal, sejam respeitados, mas isso infelizmente ainda não acontece em nossa Câmara. Temos que avançar muito ainda para que de fato ela seja boa e possa atender os anseios da sociedade.

6 - Como o senhor analisa a atual realidade social e política do nosso país?
R. Do ponto de vista da inclusão social temos avançado muito, principalmente a partir do ano de 2003 quando o presidente Lula assumiu o país. Vários são os indicadores de que a vida da população mais carente melhorou, e isso se deve aos programas sociais implantados, aliado às medidas econômicas implantadas pelo Governo Federal, que resultaram num grande desenvolvimento do nosso país e na geração de mais de dez milhões de empregos neste período, melhorando assim a distribuição de renda entre as classes menos favorecidas.

Do ponto de vista Político, se faz necessária uma reforma política urgente, já que o modelo atual está ultrapassado e desacreditado. Muitas são as denuncias de corrupção e isso acontece exatamente pela falta de um sistema mais eficaz e que evite fazer da política uma profissão.

A má aplicação do dinheiro público, através de estruturas administrativas inchadas e do superfaturamento de obras e serviços, é fruto de um sistema político que prioriza a manutenção do poder e a permanência nele a qualquer custo, e isso é prejudicial à população tendo em vista que todas as decisões sobre as leis que regem o nosso país e que devem se cumpridas por não são decididas exatamente por essas pessoas.

7 - Deixe uma mensagem para os/as visitantes deste blog.
R. Primeiro quero parabenizar o blog pela contribuição que vem dando no debate dos problemas de nossa cidade, além de servir também como um meio de informação e espaço de debate Cristão, mostrando que fé, política e cidadania podem e devem caminhar juntas.

Segundo, me dirigir a todos/as visitantes do blog, para falar da importância de continuar valorizando os blogs, principalmente aqueles que demonstram compromisso em colaborar na construção da cidadania, como é o caso deste blog, pois os blogs têm se tornado um instrumento importante e valioso para transmitir as informações que muitas vezes não são publicadas nos grandes veículos de comunicação.

Portanto, continuem prestigiando e contribuindo com suas idéias, pois os blogs também são um meio de participação popular.