Lucimar Moreira Bueno(Lucia) - www.lucimarbueno.blogspot.com

sexta-feira, 22 de maio de 2009

Qual é o tamanho das riquezas?

Professor da USP defende a imediata mensuração da camada pré-sal
de Guararema (SP)

O professor da USP e ex-Diretor de Gás e Energia da Petrobras, Ildo Sauer, denunciou na 3ª Plenária da Campanha do Petróleo, em Guararema (SP), que as reservas da camada pré-sal não estão quantificadas. Mesmo assim, essas riquezas vêm sendo exploradas por transnacionais e colocadas em leilão. Ao todo, foram feitos 16 furos, mas ainda não está investigado se fazem parte de uma mesma reserva ou são várias fragmentadas, na região estendida de Santa Catarina ao Espírito Santo. “A Exxon furou e encontrou petróleo também. É importante dizer o quanto temos, para as reservas não ficarem com quem enfiar o primeiro buraco”, explica Sauer.
Para tanto, a Petrobras deve ser a empresa contratada pelo governo para prestar o serviço: “Para saber quanto tem e aonde está. Depois discutimos politicamente o quanto temos e o que vamos fazer com isso”, defende. A proposta transformou-se numa das bandeiras da campanha.
“Nós já somos autossuficientes, não precisamos buscar petróleo a toque de caixa”, declarou Emanuel Cancella, da Federação Nacional dos Petroleiros (FNP). Ele defende o papel da Petrobras no processo em meio a uma conjuntura de ataques contra a empresa (veja matéria correlata ao lado). “A Petrobras passou 30 anos pesquisando a questão do pré-sal, um furo custou 250 milhões de dólares, quem iria correr esse risco?”, questiona.

Matriz energética
A campanha “O Petróleo tem que ser nosso” nasce carregada do debate sobre a mudança do hidrocarboneto como matriz energética. Uma das bandeiras da campanha é o uso dos recursos da camada pré-sal para o investimento em pesquisa de nova matriz energética. “A matriz energética calcada nos recursos fósseis causa impacto no planeta. Temos que discutir que tipo de desenvolvimento queremos exercer, que preserve a vida do planeta”, defende Anderson Mancuso, da Intersindical e do Sindicato dos Petroleiros do litoral paulista.
Na leitura do Movimento dos Atingidos por Barragens (MAB) e da Assembleia Popular, a crítica deve ser focada no modelo e nos seus pilares centrais. A questão energética é exemplar. “Três questões são fundamentais hoje: petróleo, agrocombustíveis e hidreletricidade, que estão fora dos países centrais. Setenta por cento da energia consumida no mundo está nos países centrais. Sempre achávamos que a matriz era o problema central; mas não, é um dos problemas, o problema central é o modelo como um todo, energia para que e para quem?”, explana Gilberto Cervinski, do MAB. No Brasil, 665 grandes empresas consomem 30% da
energia produzida.

Delicada geopolítica
O jornalista Igor Fuser, autor do livro Petróleo e poder: O envolvimento militar dos Estados Unidos no Golfo Pérsico, explica que, na geopolítica atual, a África é uma nova região produtora de petróleo, e a Rússia está se reerguendo e redefinindo o seu papel, a partir da estatização de petróleo e gás, pela estatal Gazprom.
De acordo com dados apontados no debate, hoje somente 3% do petróleo mundial está nas mãos das sete irmãs (maiores transnacionais petroleiras), os grandes produtores hoje são estatais (65%). Uma redefinição de papéis. “Os Estados Unidos, até final da década de 1950, eram o maior explorador de petróleo do mundo. Hoje, 60% de petróleo estadunidense vem de fora. Por que se fala tanto do Oriente Médio? Dois terços do petróleo estão concentrados em sete ou oito países”, coloca Fuser.
É consensual a análise de que o principal ator em cena na geopolítica atual é o Brasil. As organizações presentes na 3ª plenária construíram um quadro claro com os elementos: crise econômica e civilizatória, necessidade de expansão do imperialismo e escassez de reservas energéticas para sustentar esse modelo. O tempo está correndo para as elites. Hoje, os Estados Unidos possuem reserva de 29 bilhões de barris e gastam 10 bilhões por ano, aparte os dispêndios com a guerra, segundo dados da Associação dos Engenheiros da Petrobras (Aepet). (PC)