O artigo foi publicado na revista Témoignage Chétien, nº 3349, 21-05-2009, A tradução é de Moisés Sbardelotto.
Eis o artigo.
Há alguma coisa depois da morte? A alma entra logo no ovócito fecundado ou um mês depois? Em qual momento o embrião se torna um feto?... Temo que a pergunta sobre a "pessoa embrionária" desemboque, como as precedentes, em uma das respostas cujo fundamento é sobretudo o de uma cultura, religiosa ou não, que resolve antecipadamente os dilemas. As argumentações chovem de todas as partes, esquecendo talvez o essencial: que, à força de definir o estatuto do embrião, acaba-se por se esquecer a sua relação com o mundo, uma busca ontológica que descarta naturalmente a sua relação com o mundo vivo.
Pergunta vã
"É ou não uma pessoa?". Se o é, então estaria em relação, como qualquer outra pessoa. Se não é, desapareceria do nosso olhar. É por isso que a pergunta sobre o estatuto do embrião me parece sempre uma pergunta vã. A sua vanidade está, de fato, em relação com o inalcançável suscitado pela pergunta. Não pode haver um raciocínio de natureza científica. Ou todo raciocínio científico proposto também seria patético. Não é porque as mitocôndrias, herdadas da mãe graças ao seu ovócito, limitam a importância da herança genética que pode se tirar a conclusão de um papel maior de uma parte talvez divina na filiação de origem materna. É evidente que a importância específica da mãe é tão destacada, mas a ciência nunca nos dirá nada sobre o mistério do embrião, não mais do que o discurso eclesial. Ainda mais que desde sempre as diversas tentativas sempre terminaram em respostas contraditórias no tempo e no espaço. Portanto, eu não busco uma resposta.
Pelo contrário, me interessa ao máximo o olhar com o qual uma sociedade olha para o embrião: nem sacralização absoluta, nem indiferença. O embrião, com efeito, é o que algum de nós foi em um certo momento e que teve a sorte de ser acolhido. A sua acolhida testemunha a nossa responsabilidade no que se refere a ele. Porque ninguém nunca será mais precário, mais vulnerável do que ele. Nesse sentido, ele é uma pessoa... De fato, havia pouquíssimas, infinitamente poucas chances, para que essa ou aquela pessoa existissem assim como são. Por que exatamente aquele espermatozóide entre os bilhões de espermatozóides justamente naquele dia? Por que esse resultado de um casamento cromossômico que misturam as suas formas em uma dança que não se renovará nunca de uma maneira idêntica? Por que essa fraqueza ou essa sobrecarga hormonal naquele momento preciso que impedirá ou favorecerá o embrião para que ele se agarre ao seu destino? Por que esse gene sofreu uma mutação, dado que o gene vizinho era recessivo ou dominante? etc.
É esse caráter único e improvável que deve nos tornar humildes diante dessas unicidades múltiplas e infinitas. O importante então é assumir a nossa responsabilidade com relação aos embriões. Não é porque não os reconhecemos que somos livres com relação ao seu destino. Senão isso significaria que somos indiferentes àquilo que permitiu a nossa existência. Nunca ter existido é uma situação mais terrível do que a morte? Ou a morte é mais inaceitável do que o fato de nunca ter existido? Não pode haver respostas simples, mas o preço a ser pago, por causa da morte como sanção da existência, me parece bem modesto.
Perplexidade
Responsabilidade significa que a criação utilitarista de embriões humanos para a pesquisa é insuportável, já que corresponde a desprezar a nós mesmos. Não é porque o destino de um embrião é muito frequentemente a morte (90%) – que, no fim, faz parte da vida – que se pode começar a brincar de aprendizes de feiticeiro nessa aventura estranhamente única... um ovócito graças à penetração, sob o controle do microscópio, de um único espermatozóide nega a riqueza do caso.
A eficácia de um método não pode nos libertar de uma certa perplexidade. Congelar os embriões para a comodidade posterior de uma fecundação in vitro programada mais tarde com a ideia subentendida de que poderiam sempre "servir" continua sendo, apesar da banalidade, chocante. Fazer uma escolha pré-implantatória de um embrião para não obrigar os pais cientemente a aceitar uma doença cruel é justo e absolutamente compreensível. Mas com má consciência, não com boa consciência, com a consciência má de reduzir uma existência àquilo que a medicina diz sobre ela. Há 30 anos, a escolha de uma vida é confiada à nossa solicitude. Antes, ela nos era desconhecida, ou confiada à nossa recusa voluntária de uma existência inaceitável. Com efeito, sem acolhida, o embrião não existe.
O respeito por um embrião é independente, estranho à sua ontologia. Não é manipulável totalmente – é manipulável muito menos pelo fato do que o é à nossa vontade. É o paradigma da extrema vulnerabilidade, que nos interroga sem descanso sobre a nossa cegueira, sobre a nossa exigência de radicalidade, mas que seja uma pessoa ou não pouco importa!
Eis o artigo.
Há alguma coisa depois da morte? A alma entra logo no ovócito fecundado ou um mês depois? Em qual momento o embrião se torna um feto?... Temo que a pergunta sobre a "pessoa embrionária" desemboque, como as precedentes, em uma das respostas cujo fundamento é sobretudo o de uma cultura, religiosa ou não, que resolve antecipadamente os dilemas. As argumentações chovem de todas as partes, esquecendo talvez o essencial: que, à força de definir o estatuto do embrião, acaba-se por se esquecer a sua relação com o mundo, uma busca ontológica que descarta naturalmente a sua relação com o mundo vivo.
Pergunta vã
"É ou não uma pessoa?". Se o é, então estaria em relação, como qualquer outra pessoa. Se não é, desapareceria do nosso olhar. É por isso que a pergunta sobre o estatuto do embrião me parece sempre uma pergunta vã. A sua vanidade está, de fato, em relação com o inalcançável suscitado pela pergunta. Não pode haver um raciocínio de natureza científica. Ou todo raciocínio científico proposto também seria patético. Não é porque as mitocôndrias, herdadas da mãe graças ao seu ovócito, limitam a importância da herança genética que pode se tirar a conclusão de um papel maior de uma parte talvez divina na filiação de origem materna. É evidente que a importância específica da mãe é tão destacada, mas a ciência nunca nos dirá nada sobre o mistério do embrião, não mais do que o discurso eclesial. Ainda mais que desde sempre as diversas tentativas sempre terminaram em respostas contraditórias no tempo e no espaço. Portanto, eu não busco uma resposta.
Pelo contrário, me interessa ao máximo o olhar com o qual uma sociedade olha para o embrião: nem sacralização absoluta, nem indiferença. O embrião, com efeito, é o que algum de nós foi em um certo momento e que teve a sorte de ser acolhido. A sua acolhida testemunha a nossa responsabilidade no que se refere a ele. Porque ninguém nunca será mais precário, mais vulnerável do que ele. Nesse sentido, ele é uma pessoa... De fato, havia pouquíssimas, infinitamente poucas chances, para que essa ou aquela pessoa existissem assim como são. Por que exatamente aquele espermatozóide entre os bilhões de espermatozóides justamente naquele dia? Por que esse resultado de um casamento cromossômico que misturam as suas formas em uma dança que não se renovará nunca de uma maneira idêntica? Por que essa fraqueza ou essa sobrecarga hormonal naquele momento preciso que impedirá ou favorecerá o embrião para que ele se agarre ao seu destino? Por que esse gene sofreu uma mutação, dado que o gene vizinho era recessivo ou dominante? etc.
É esse caráter único e improvável que deve nos tornar humildes diante dessas unicidades múltiplas e infinitas. O importante então é assumir a nossa responsabilidade com relação aos embriões. Não é porque não os reconhecemos que somos livres com relação ao seu destino. Senão isso significaria que somos indiferentes àquilo que permitiu a nossa existência. Nunca ter existido é uma situação mais terrível do que a morte? Ou a morte é mais inaceitável do que o fato de nunca ter existido? Não pode haver respostas simples, mas o preço a ser pago, por causa da morte como sanção da existência, me parece bem modesto.
Perplexidade
Responsabilidade significa que a criação utilitarista de embriões humanos para a pesquisa é insuportável, já que corresponde a desprezar a nós mesmos. Não é porque o destino de um embrião é muito frequentemente a morte (90%) – que, no fim, faz parte da vida – que se pode começar a brincar de aprendizes de feiticeiro nessa aventura estranhamente única... um ovócito graças à penetração, sob o controle do microscópio, de um único espermatozóide nega a riqueza do caso.
A eficácia de um método não pode nos libertar de uma certa perplexidade. Congelar os embriões para a comodidade posterior de uma fecundação in vitro programada mais tarde com a ideia subentendida de que poderiam sempre "servir" continua sendo, apesar da banalidade, chocante. Fazer uma escolha pré-implantatória de um embrião para não obrigar os pais cientemente a aceitar uma doença cruel é justo e absolutamente compreensível. Mas com má consciência, não com boa consciência, com a consciência má de reduzir uma existência àquilo que a medicina diz sobre ela. Há 30 anos, a escolha de uma vida é confiada à nossa solicitude. Antes, ela nos era desconhecida, ou confiada à nossa recusa voluntária de uma existência inaceitável. Com efeito, sem acolhida, o embrião não existe.
O respeito por um embrião é independente, estranho à sua ontologia. Não é manipulável totalmente – é manipulável muito menos pelo fato do que o é à nossa vontade. É o paradigma da extrema vulnerabilidade, que nos interroga sem descanso sobre a nossa cegueira, sobre a nossa exigência de radicalidade, mas que seja uma pessoa ou não pouco importa!