Lucimar Moreira Bueno(Lucia) - www.lucimarbueno.blogspot.com

terça-feira, 21 de abril de 2009

OBAMA, CUBA E A AMÉRICA LATINA

JORNAL DO BRASIL, Domingo,19 de abril de 2009
COISAS DA POLÍTICA
O POVO NORTE-AMERICANO não conheceu os dissabores do colonialismo como os conhecemos.
O povoamento do território começara pouco antes do confronto que, na Ingalterra, opusera os Comuns e os Stuart, e manteria a tensão política na Grã Bretanha até a Glorious Revolution de 1688, não deixando tempo para as outras preocupações. No século 18, com a expansão imperial inglesa na África e na Asia, Londres tampouco se preocupou com a América: ali só havia bons ingleses,conservadores de sua cultura e de suas crenças. Não havia por que temê-los, nem por que os tratar com arrogância.

As tensões internas nos Estados Unidos só se iniciaram com a expansão ao Oeste a ao Sul, que levou a dizimar povos autócnes, a comprar territórios como do Vale do Mississipi (incluindo a Luisiania),da França, e o Alasca , da Russia, e a invadir estados soberanos, como fizeram contra o México, no qual se apoderaram de 1,3 milhão de km2. Pensando como europeus, os norte-americanos deles herdaram a idéia de supremacia sobre os vizinhos. Sentiam-se no direito de estender a "civilização",substituindo os espanhóis na exploração dos bárbaros do Sul. É de se lembrar que "humanistas" da Europa aplaudiram a guerra contra os mexicanos, ocorrida entre 1846 e 1848.

Essa visão preconceituosa, aliada à ganância de lucro dos homens de negócio, separou a Anérica do Norte dos povos latino-americanos. Os países que mais sofreram foram os menores, como os da América Central, que se transformaram em repúbliquetas bananeiras, exploradas pelas companhias norte-americanas, entre elas a famigerada United Fruit. Os países meridionais, ainda que distanciados, também sofreram e ainda sofrem seu domínio político e econômico. Há ainda a registrar sua frequente intervenção nos assuntos internos
latino-americanos, como na Guerra do Chaco, entre o Paraguai e a Bolívia, e a promoção de sangrentos golpes de Estado, entre eles os do Chile, da Argentina e do Brasil.

Há um passivo difícil de ser liquidado. Ele é ainda maior no caso de Cuba. O governo Eisenhower não conseguiu entender o objetivo real da Revolução Cubana, que era além de melhorar a vida de seu povo, o de derrubar Batista e impor a moralidade burguesa aos costumes de Havana, com o fechamento dos bordéis e o controle dos cassinos, explorados pela máfia de Chicago.

Poucos dos revolucionários ( o Che entre eles ) imaginavam ser possível um regime socialista na ilha. A pressão dos poderes de fato dos Estados Unidos levou o governo de Washington a iniciar sua hostilidade contra os revolucionários, hostilidade que cresceu no governo do presidente Kennedy, tão louvado pelos que não conhecem bem a raiz quadrada da História.

Castigados primeiro pela ocupação direta dos Estados Unidos, amputado o seu território com o enclave na Baía de Guantanamo, que perdura em suas costas como bócio incurável; submetido ao bloqueio econômico, os cubanos buscaram o apoio soviético. E foi esse apoio aliado à posição de alguns governos latino-americanos da época, entre eles, de forma firme, o Brasil, que impediu Kennedy e seus sucessores de arrasarem o país e seu povo.

Raúl Castro aceitou negociar com os Estados Unidos, de "igual para igual". Se isso vier a ocorrer, será a primeira vez. Desde que os americanos intervieram na guerra de independência de Cuba, vencendo a Espanha, ocuparam a ilha, os cubanos são tratados com desdém.

Qualquer seja a opinião que tenhamos de seu regime e de seus dirigentes, é admirável sua resistência ao longo de quase meio século. Raúl não se opõe a mandar para os Estados Unidos os dissidentes do regime que se encontram presos e suas famílias, e só exige que cinco cubanos, prisioneiros na Flórida, sob acusação de espionagem ,sejam devolvidos à pátria. Diante disso, será difícil continuar o bloqueio contra a ilha.


De qualquer forma é estranho que os Estados Unidos, que mantém a prisão de Guantanamo, uma afronta aos princípios elementares de justiça: que confessadamente sequestram e torturam cidadãos estrangeiros; que invadiram o Iraque e patrocinaram a farsa do julgamento e a oprobriosa execusão de Saddam Hussein, falem de respeito aos ditreitos humanos em Cuba.

Resta saber se eles, sob Obama, estão decididos a respeitar a soberania de Cuba, nas negociações que se articulam, ou desejam simplesmente restaurar a 'democracia' dos tempos de Geraldo Machado e de Fulgêncio Batista, seus fiéis vassalos."

MAURO SANTAYAN