Lucimar Moreira Bueno(Lucia) - www.lucimarbueno.blogspot.com

sábado, 25 de abril de 2009

Dimensão missionária e ecológica das CEBs

A Igreja prepara-se para a realização do XII encontro Interecesial das Cebs( Comunidades Eclesiaisl de Base) que ocorre neste ano, de 21 a 25 de julho, em Porto Velho(RO), reinindo os 17 regionais da CNBB(Conferência Nacional dos Bispos do Brasil). O Intereclesial é memória viva da caminhada da Igreja peregrina e comunhão de amor, seguidora de Cristo e servidora da humanidade. E é um convite pra aprofundarmos nossa fé e participarmos mais plenamente da vida da Igreja, recordando que pelo batismo somos chamados a ser discípulos missionários em Jesus Cristo.

O XII Intereclesial tem como tema CEBs, ecologia e missão, e como lema, "Do ventre da terra, o grito que vem da Amazônia", o texto-base apresenta a proposta de um aprofundamento da dimensão missionária e ecológica das CEBs. Padre Valdecir Cordeiro, organizador do texto-base, inicia afirmando que "o cuidado com a vida constitui-se no maior desafio para a humanidade em todos os tempos, tanto mais hoje que ela se encontra ameaçada em escala planetária. Não caminhamos rumo ao desequilíbrio, mas já sofremos as conseqüências provocadas por um modelo de desenvolvimento e um estilo de vida, agressivos com a natureza. A terra grita juntamente com os povos, de modo especial os pobres, e todas as espécies de seres vivos".

Para as nossas CEBs, portadoras do sonho de Jesus de Nazaré, nosso irmão e Senhor, este grito ecoa como um desafio que chama para a ação, que desaloja, questiona e aguça a criatividade, pois, não obstante os aspectos cinzentos da realidade - o mal que parece tomar conta de tudo -, a vida insiste em brotar como um dom de Deus, alento e esperança na caminhada. Quando falamos de ecologia nos ligamos, sobretudo, a uma maneira harmônica e integrada de pensar e viver a realidade em todas as suas dimensões. Trata-se de compreender que "no desígnio maravilhoso de Deus, o homem e a mulher são convocados a viver em comunhão com Ele, em comunhão entre si e com toda a criação".

Em favor da vida - Essa perspectiva adotada pelos bispos da America Latina tem ressonância bíblica, pois Deus confiou ao ser humano o cuidado e o cultivo de sua obra criadora, conforme se lê em Gênesis 1,15. Jesus mesmo tinha essa sensibilidade para com a beleza das criaturas (cf. Lc 12,27) e percebia ai o dom do Pai que cuida de toda a sua criação(cf. Lc 12,24). E ensinou os discípulos e às multidões os valores do Reino, no qual todas as formas de agressão à vida devem ser superadas. Assim também as primeiras comunidades entenderam que é preciso enfrentar o dragão que quer se colocar no lugar de Deus, para que homem e mulher, vivendo na dinâmica do Reino da Vida, possam ver e viver "um novo céu e uma nova terra" (Ap21,1), o ideal da terra "sem males", cultivados pelos indígenas latino- americanos. Também os povos ameríndios têm aguçada sensibilidade ecológica. Precisamos aprender com eles a ler as mensagens implícit as na natureza. Por outro lado, quando falamos em missão, nos remetemos à própria vida de nossas comunidades. Chamadas a uma vida em Cristo, elas são desafiadas a realizar isto concretamente numa atitude de abertura para o outro, em favor da vida. Dessa forma, CEBs, ecologia e missão se articulam num todo coerente. Se quisermos ser conseqüentes com nosso discurso sobre ecologia e a missão, devemos enraizá-lo na história de nosso povo, pois é neste chão que as alternativas e as ações em favor do resgate do equilíbrio da vida são geradas. As CEBs são células de vida, formam o corpo de Cristo, prolongam sua ação no mundo: "Eu vim para que todos tenham vida" (Jo 10,10).

Ver, julgar e agir - O texto-base está estruturado em três partes, seguidas o método Ver-julgar-agir. A primeira, "O grito da terra e dos povos amazônicos", descreve a realidade num olhar amplo e atento. Apenas para citar alguns textos, irmão Sebastião Ferrarini NOS ajuda a entender que o que chamamos de Amazônia é uma realidade multifacetada do ponto de vista do espaço- abrange vários países-, da paisagem, dos recursos naturais, das culturas e dos interesses que pairam sobre a região. Gunter Kroemer traz dados sobre a riqueza das culturas indígenas na Amazônia. Faz também uma ligação entre experiência dos indígenas e a das CEBs. Nanci Cardoso Pereira fala sobre a presença e a contribuição da mulher na cultura amazônica e padre Raimundo Possidônio escreve sobre a Igreja com rosto amazônico que nasce, sobretudo, no encontro de Santarém(1972), no Pará.

A segunda parte, "A Igreja que vive na Amazônia proclama o evangelho da vida", é de cunho mais interpretativo. Nesta parte, entre outros autores, Leonardo Boff nos faz compreender que já estamos imersos numa situação de grave desequilíbrio da vida no planeta e que tal realidade nos desafia a encontrar caminhos para cuidar da terra e garantir o futuro da vida e da fé cristã. Tea Frigério nos apresenta chaves de compreensão par leitura amazônica da Biblia e Cláudio Ribeiro fala a importância do ecumenismo e da busca da unidade na fé e na caridade.

A terceira parte, "Clamor por justiça, partilha e paz",é mais positiva. Antonio Cechin resgata a história da renovação da catequese no Brasil, seu caráter libertador configurado no método Ver-julgar-agir, pela opção pelos pobres e pela experiência das CEBs. Três experiências ecológicas alternativas são apresentadas, mostrando a possibilidade de intervir na natureza de maneira sustentável. Luis Ceppi descreve a experiência de manejo Florestal Comunitário, projeto gerado e implantado em Xapuri (AC).Dom Sergio Castriani apresenta a experiência de recuperação e prersevação dos lagos em Tefé (AM), fruto fundamentalmente do engajamento das CEBs. E a indígena professora Eva Canoé, da etnia Canoé, de Guajará- Mirim(RO), apresenta a experiência alternativa de comercialização de produtos produzidos em Sagarana (RO)

Fonte:Família cristã (enfoque)
Diácono Leolino