No último dia dois de março, iniciou oficialmente o corte de cana que vai até dezembro deste ano. È uma data que marca a volta de milhares de cortadores de cana, que ansiosamente esperam recomeçar, a fim de garantir o sustento e o bem estar da família. Nesse dia, fui convidado a participar desta data emblemática, acompanhando os cortadores de cana nos canaviais e poder conhecer de perto o que significa ser um cortador de cana. Acompanhado pelo gerente geral da Usina Vale do Ivaí e do Padre Zenildo Megiatto, o pároco da Paróquia de São Pedro do Ivaí, chegamos às 9h30 no canavial, onde quatro grandes grupos, organizados por fileiras, cortavam, com garra, as canas cujas palhas foram queimadas na noite anterior, para facilitar o corte.
Logo que chegamos, fomos ao lugar onde estavam trabalhando. Um senhor e a sua senhora ficaram surpresos pela inesperada visita. Pedi que me desse o facão, pois queria fazer a experiência de cortador de cana. Sem duvidar da minha vontade, ela gentilmente ofereceu o cortante instrumento de trabalho e debaixo daquele sol escaldante, consegui cortar algumas canas. O facão não tão pesado, mas devidamente afiado, e que todos manuseavam com uma destreza impressionante, deixou em minhas mãos a marca das cinzas e a experiência inesquecível.
Ás 10h todos pararam para o almoço, na sombra do ônibus, ou no toldo já preparado com mesa e banquetas e até na sombra de guarda chuva. Cada um com sua marmita restabeleciam as forças, para seguir até às 17h. Ao cumprimentar a cada um enquanto almoçavam, percebia alguns envergonhados, outros escondendo a marmita, outros curiosos para saber quem estava chegando àquela hora. Entre alguns sorrisos e olhares desconfiados, nos acolheram com alegria, pediram a benção e que rezássemos para que diminuísse o calor do sol.
Todos contam com o suporte técnico e humano que a empresa oferece desde os equipamentos de segurança pessoal, acompanhamento médico, dentário, assistência social, a garrafinha de suco com sais minerais e vitaminas, necessárias para o organismo exposto ao sol e ao trabalho pesado. Enfim, é um trabalho que exige participação de todos, principalmente de quem necessita desta mão de obra e de quem necessita ganhar o pão de cada dia. Visitando os diversos departamentos da empresa e a própria usina, que estava pronta para recomeçar a moagem, senti que todos, independentemente da função, estavam externando satisfação, alegria e estranheza em receber uma visita em plena segunda-feira.
Almoçamos no refeitório, onde todos os funcionários se alimentam diariamente. Tudo muito simples, higiênico e gostoso. O momento mais importante, dessa visita, foi a celebração da Eucaristia, no galpão do açúcar, com todos os funcionários e amigos que vieram participar deste momento na vida da empresa e da cidade. Com a presença de alguns Pastores Evangélicos, que no final da celebração, bem preparada pela equipe, animada por um ótimo grupo de música, dirigiram a palavra. Realmente marcou uma etapa significativa no caminho da empresa e na vida de todos, desde os cortadores até os funcionários dos diversos departamentos. Como diz o Salmo: “Se Deus não construir a casa, em vão trabalham os seus construtores”. Rendo graças a Deus, por mais uma experiência de vida, na minha vida de Pastor do Rebanho que está na Arquidiocese de Maringá.
*Dom Anuar Battisti, arcebispo de Maringá