Lucimar Moreira Bueno(Lucia) - www.lucimarbueno.blogspot.com

domingo, 15 de fevereiro de 2009

Leigos e leigas na perspectiva da Conferência de Aparecida

*Cesar Augusto Kuzma

Durante a V Conferência em Aparecida, realizada em maio de 2007 com a presença do papa Bento XVI, evidenciou-se muito entre bispos e assessores-as do CELAM o fato de que o real futuro da Igreja passa pelo viés dos-as leigos e leigas. Tirando algumas barreiras clericais que houve durante o evento e, que podemos encontrar também refletidas em alguns artigos do documento, valorizamos que isso foi quase que um consenso. O que, em primeiro lugar, não significa que tal temática foi um destaque absoluto dentro da conferência, sua abordagem ainda continua meio as margens. Em segundo lugar, não se quis, com isso, instigar que o clero não atende mais as necessidades emergenciais da sociedade atual, ao contrário, destacou-se a rica e frutuosa ação pastoral já existente em várias comunidades, originada entre clero e leigos-as (cf. 99).

No entanto, devido à complexidade em que vivemos na nossa sociedade moderna e pós-moderna, a atual atividade missionária da Igreja não se pode dar ao luxo de dispensar um número expressivo e importante que tem nas mãos e que possui imensa vontade de contribuir, como o laicato. O documento de Aparecida (cf. 213) chama a atenção para o "ser" e "fazer" de leigos e leigas, nos quais evidencia-se o caráter particular e especial que caracteriza a sua missão. Leigos e leigas não querem ocupar um lugar que não lhes pertence, querem, sobretudo, ocupar o seu lugar, com jeitos e atitudes próprios de quem deseja ardentemente contribuir para a construção efetiva do Reino de Deus.

No intuito de responder a isso, em Aparecida, leigos e leigas aparecem com destaque especial na questão missionária, sendo chamados de "Luz do Mundo" (cf. 209-215). Fomenta-se que devem participar nesta missão primeiramente com testemunho concreto de fé e vida o que exige coerência e autenticidade (cf. 210); depois este testemunho desencadeará em ações efetivas na evangelização, na liturgia e em atividades locais de sua comunidade (cf. 211). Para que esta ação ocorra de maneira eficaz e objetiva, em vários artigos se menciona que os bispos entendam a sua missão e que abram espaço para a sua ação pastoral. Isso só será possível encontrando meios de oferecer uma devida formação teológica para que possam agir na perspectiva do diálogo e da possível transformação da sociedade, através de ações sociais e políticas organizadas (cf. 283).

Em seu aspecto missionário, outro ponto significativo é com relação a sua participação na formação de novos-as agentes de pastoral e de comunidades, pela qual sua presença e participação podem trazer uma riqueza original. Diz o documento: "através de suas experiências e competências, eles oferecem critérios, conteúdos e testemunhos valiosos para aqueles que estão se formando" (281). Para isso devem-se respeitar os seus carismas e sua originalidade (cf. 313).

Fala-se também, como nas Conferências anteriores, de uma espiritualidade própria, condizente com a sua realidade e seu contexto. Pede para que as diversas comunidades eclesiais, muitas delas dirigidas e animadas por leigos e leigas tenham uma permanente conversão pastoral (cf. 366), devendo estar sempre em torno do bispo. Na questão organizacional, sua participação deve subir degraus mais altos dentro da Igreja, participando, a nível pastoral, do discernimento, da tomada de decisões, do planejamento e da execução dos projetos (cf. 371).

Contudo, algumas questões urgentes não apresentaram uma resposta considerável. Sobretudo no que diz respeito à carência de sacerdotes em lugares afastados, no qual se pedia uma possível e, talvez maior valorização de um ministério leigo, devidamente confiado pela Igreja, no intuito de atender uma deficiência da mesma. Pontos assim ficaram aquém da situação. Muitas dessas comunidades já possuem uma liderança leiga, mas ainda dependem excessivamente de ministros ordenados, cuja passagem por esses lugares fica muito remota.

Todavia, concluímos este momento com destaque a importância destes-as, que são confirmados pelo CELAM como discípulos-as e missionários-as na esfera da vida pública, local específico de sua vocação cristã:

"Os leigos de nosso continente, conscientes de sua chamada à santidade em virtude de sua vocação batismal, são os que têm de atual à maneira de fermento na massa para construir uma sociedade temporal que esteja de acordo com o projeto de Deus" (505).

*Doutorando em Teologia pela PUC-Rio e Professor de Teologia Sistemática e Pastoral da PUCPR. As referências no presente artigo encontram-se no texto conclusivo de Aparecida: CELAM. Documento de Aparecida. São Paulo: Paulinas, Paulus, 2007.