Lucimar Moreira Bueno(Lucia) - www.lucimarbueno.blogspot.com

terça-feira, 9 de dezembro de 2008

Em Arapongas, MST dá exemplo de reforma agrária


Waldyr Pugliesi

No último final de semana estive no assentamento Dorcelina Folador organizado pelo MST (Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem-Terra) lá na minha cidade de Arapongas. Me senti muito reconfortado pelo que presenciei naquele pedaço de terra onde estão presentes as bandeiras do movimento e aquele povo onde pode-se ver a esperança estampada no rosto. Mas o que mais impressiona é o modelo de reforma agrária implantado no local.
Impressiona porque num assentamento, com mais ou menos 90 famílias em um território de 300 alqueires, todos convivem em completa harmonia com o meio ambiente. Em todos é de fácil percepção o respeito à mata ciliar, o amor às nascentes dos rios, sem contar os produtos retirados da terra, fruto do trabalho das mãos dos agricultores.
No assentamento vi a construção dos cidadãos para uma pátria livre, que só será possível com uma reforma agrária ampla e verdadeira, como durante toda minha vida defendi. E naquele pedaço vi a reforma agrária alcançar sucesso, dar resultados e mostrar, em contraponto ao agronegócio, que este mundo, se quiserem, tem solução sim.
Os agricultores do assentamento Dorcelina Folador têm consciência da necessidade do manejo sustentável do solo como alternativa para evitar tragédias como as recentes cheias em Santa Catarina, resultado da falta de uma política pública clara e objetiva. Ali, naquele território pequeno de 300 alqueires, a racionalidade está imposta e os problemas são resolvidos diante da humildade que está ao alcance deles.
A reforma agrária que estou defendendo tem que ser baseada nesta ocupação racional dos assentados do MST de Arapongas. Em Santa Catarina, por exemplo, o sofrimento de milhares poderia ser evitado se houvesse uma política pública para impedir a construção de casas em cima dos morros ou na beira das encostas. Estes locais representam, na maioria dos casos, o último refúgio para os miseráveis construírem uma residência.
Agora uma pergunta, porque é que não tem favelado em Arapongas? Porque quando as coisas caminhavam nesse sentido eu, prefeito em três oportunidades, não permiti que elas aparecessem, porque buscamos as soluções dos problemas. O direito de propriedade tem que ser revisto urgentemente dentro das nossas áreas urbanas e rurais.
Hoje, a politicagem é responsável direta por permitir que alguém no desespero, na ânsia de poder abrigar a família, vá fazer a sua casa em área de risco ou na beira de um rio assoreado por aqueles que muitas vezes, em sua ignorância, não são impedidos de fazer a destruição das matas ciliares. O exemplo do assentamento deve ser externado por todos e até deixo uma sugestão, formar uma comissão de deputados para ir até o assentamento por um período e ver como se respeita a vida, a terra, o ar e a água no local.
Algum dia teremos uma pátria livre na acepção da palavra, uma construção necessária para darmos resposta a esse modelo de desenvolvimento capitalista. Vejam lá se tem alguma coisa de veneno, de agrotóxico. Nada! O ser humano ali tem respeito pela natureza. E pergunto para vocês, qual a política de uso do solo urbano que temos hoje? Só investimentos para enriquecer meia dúzia através do uso das potencialidades da terra carreadas para uma elite que mais concentra e mais enriquece.
O que existe muitas vezes é falta de pulso forte dos governantes proibirem aquilo que precisa ser proibido e não ficarem fazendo média em busca de votos. Não é assim. A culpa da tragédia em Santa Catarina não é tão somente do aquecimento global, como querem fazer entender, é reflexo do descontrole e o abuso na remoção da vegetação nativa dos morros e encostas.
Não posso deixar de falar que a esperança existe. O que quero dizer é que precisamos, em todos os cantos, termos políticas públicas claras, bem definidas e que não sejam medrosas, acovardadas para sairmos desse atoleiro em que a extrema direita e esse capitalismo selvagem nos colocaram em todo o mundo.
05/12/2008 - Fonte/Autor: Ronildo Pimentel Foto: Nani Góis