Mídia mostra o MST,porém, com distorçãoInteressada em mostrar apenas o factual, a imprensa deixa de lado a realidade vivida pelos trabalhadores sem terra.
Fonte: Rodrigo Basniak
O MST (Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra) foi fundado em um congresso realizado em Cascavel (PR), em janeiro de 1984, e, em 2004 já contava com 1.649 assentamentos e 105.466 famílias assentadas, segundo informações extraídas do portal do movimento (www.mst.org.br). Quase 25 anos depois da fundação, os trabalhadores rurais do movimento ainda sofrem constantemente com um problema: a discriminação.
O preconceito para com integrantes do MST é facilmente percebido. Diversos fatores influenciam para que isso ocorra. A mídia vende uma imagem estereotipada do movimento, as pessoas já envolvidas pelo sistema capitalista têm dificuldade de entender o sistema e os métodos socialistas usados pelo MST. A falta capacidade crítica das pessoas de questionarem o que vêem na televisão também contribui para que se forme uma imagem no mínimo falsa do movimento.
Não se pode ser hipócrita o suficiente para dizer que não existem dentro do movimento condutas que destoam da causa socialista e da reforma agrária. Existem sim, especuladores que depois de assentados vendem a terra e, mais tarde, retornam à fila daqueles que ainda tentam conquistar o seu pedaço de chão. Mas a maior das hipocrisias seria dizer que o Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra é constituído de vagabundos, arruaceiros, que invadem terras desrespeitando os fazendeiros, que supostamente trabalharam muito para conseguir tal terra. É importante saber que o MST não invade qualquer terra.
Uma das poucas vezes que se observou o MST sendo defendido pela imprensa foi no episódio do massacre em Eldorado dos Carajás, no Pará em 1996, onde 19 sem-terras foram mortos pela Polícia Militar do Estado do Pará.
A mídia transmite uma imagem muito diferente da realidade, pois está interessada em mostrar apenas o factual, no caso, a invasão de fazendas pelos sem-terra, ou, então, a desapropriação de terras. Na verdade, os veículos de comunicação de massa não se interessam em mostrar a realidade dos assentamentos, a vida e ideologia de um sem-terra, fato de extrema importância para que se possa entender o movimento.
Há algumas semanas, estudantes do curso de jornalismo do Cesumar (Centro Universitário de Maringá) resolveram conhecer um desses assentamentos. Partiram para o “8 de Março", na cidade de Terra Rica (distante 130 km de Maringá), para buscar a realidade em que os sem-terra vivem. A organização dos assentados surpreende – dizer que o movimento é desorganizado é contestável, principalmente vindo de quem não conhece um assentamento. Assentados há um ano e oito meses, os sem-terra do 8 de Março já plantam e colhem feijão, milho, amendoim e mandioca. Também há um pomar, onde são plantados abacaxi, melancia e banana.
No assentamento, depois da ocupação, constantes ataques por parte de pistoleiros foram feitos. Nas paredes de barracões do assentamento, marcas de projéteis de alto calibre (de acordo com eles AR-15, Winchester e 12). Aos assentados, resta usar táticas para se proteger. Ao redor do barracão eles instalaram chapas de concreto que amenizam o impacto do projétil e, nas lavouras, de onde partem os ataques dos pistoleiros, o milho e a mandioca, por crescerem muito e atrapalharem a visão dos assentados, foram substituídos pelo amendoim e o feijão.
O que se vê no assentamento é um respeito mútuo. Percebe-se que a principal luta é para que o socialismo não morra. Prejudicados pelos estragos da chuva, vários assentados reuniram-se e começaram a arrumar os barracos de lona onde moram e também o barracão do assentamento, que foi destelhado. As cenas lembram muito a vida em comunidade pregada pelo sistema socialista, a igualdade social, a ajuda coletiva.
Já as crianças conhecem grande parte história de grandes ídolos socialistas, como Che Guevara e Antonio Conselheiro. Imagine uma garota de 8 anos de idade discursando contra o capitalismo. As crianças cantam o hino do movimento em coro e possuem vários “gritos de guerra” exaltando o “Che”, ensinados na escola, construída dentro do assentamento.
O “8 de Março” é um exemplo a ser seguido por outros assentamentos do MST. Além de conquistar a terra e utiliza-la, plantando e colhendo, eles também preparam seus filhos, os “sem-terrinhas”, como eles mesmos se intitulam, para o futuro.