Toda a história do povo no Antigo Testamento foi feita por comunidades de fé, agindo na defesa da vida e na luta contra a injustiça. Estas comunidades, além de muito respeito pela vida de todos, também respeitavam a natureza. Isto porque tinha como referência para sua visão do mundo Deus como o criador de tudo, do cosmos, da terra, das águas e dos seres vivos - aves, peixes, animais e humanos.
As famílias e clãs dos camponeses que resistiram e lutaram contra a opressão das cidades-estado de Canaã e formaram as Tribos de Javé já vivia o espírito das comunidades eclesiais de base. Os grupos que saíram do Egito em busca de libertação também. Na caminhada pelo deserto e nas montanhas de Canaã as comunidades construíram, sob inspiração de Deus, uma sociedade justa e igualitária, o sonho das CEBs de hoje.
Com Jesus de Nazaré a história das comunidades teve continuidade. Ele não quis ser só, formou uma comunidade com os doze, sua mãe, as mulheres que o seguiam e outros discípulos e discípulas (cf. Lc 8,1-3; 23,49.55; Mc 15,40-41; Mt 27,55-56, cf. Lc 10,1). E os seus seguidores saíram pelo mundo formando comunidades: paulinas, petrinas, joaninas, marcanas, lucanas, mateanas. Todas cristãs, todas comprometidas com a defesa da vida de todos e todas e com as lutas contra a injustiça.
Elas nos ensinaram algumas outras características das comunidades cristãs, além da defesa da vida. As comunidades são, e as CEBs devem ser o lugar da manifestação do Espírito de Deus. O livro dos Atos dos Apóstolos mostra que Pentecostes só acontece onde há uma comunidade reunida, cf. At 2,1-13; 4,31; 8,14-17; 10,44-47; 19,1-7.
Com a boa noticia que Jesus Ressuscitou os seguidores e seguidoras de Jesus se uniram e reuniram em pequenas comunidades para testemunhar a vida nova que Jesus trouxe. Assim nos diz o livro dos Atos dos Apóstolos.
Em todo o Novo Testamento, a “casa” aparece como espaço importante de encontro da família e da comunidade-Igreja, de realização das pessoas e de defesa da vida, aberta aos vizinhos, amigos, irmãos, onde todos procuram conhecer-se mais e melhor, dividir os problemas e dificuldades à luz da Palavra, para encontrar caminhos que ajudem a transformar o sonho do Reino de Deus em realidade vivida por todos.
Por isso logo as comunidades cristãs foram se envolvendo com os grandes desafios sociais, econômicos, políticos, culturais, religiosos etc., misturando-se em todas as situações e realidades, para fermentar a massa com o fermento bom e transformador do Evangelho (cf. Mt 13,33).
Nasceu uma linda caminhada, onde não faltaram problemas e, todos eles, muito parecidos com os nossos. Conflitos internos que provocavam divisão e desunião no seio das próprias comunidades com incompreensões, calúnias, ciúmes, inveja, intrigas, disputa de poder, preconceitos etc. E conflitos externos, marcados, sobretudo pela perseguição do império romano que condenava, na ação dos cristãos, o projeto de Jesus de uma sociedade justa, fraterna e igualitária (cf. Lc 9,46-50; 21,12-19; Ap 6. O livro dos Atos dos Apóstolos pode ser lido como um grande manual de conflitos internos e externos, cf. At 6,1.8-14; 8,1; 12,1-4; 13,49-50; 14,1-6; 15, 16,16-23; 17,5-9; 18,12-17; 19,23-30; 21,27-36).
A partir do século IV depois de Cristo, com o imperador Constantino, esta Igreja, que antes se reunia nas casas ou mesmo nas catacumbas para escapar à perseguição do império romano, cede lugar agora à Igreja massificada, dos grandes templos e das liturgias pomposas, mais afastadas da vida e da realidade do povo e mais ligadas ao poder e ao luxo do império. Um tempo de “escuridão”, de muitas dificuldades e problemas, de traição do projeto original de Jesus por parte de muitos que se diziam seus seguidores. No meio dessa escuridão, surgem muitas vozes santas, proféticas e fiéis: irmãs e irmãos que como São Francisco de Assis e Santa Clara no século XIII, Bartolomeu de Las Casas no século XVI e tantos outros e outras, se sentem chamados a reconstruir a Igreja dos pobres e com os pobres. Este período irá até o século XX, com a convocação, do Papa João XXIII, para o Concílio Ecumênico Vaticano II (1962-1965).
É aqui que renascem as CEBs – novo/velho modo de ser Igreja– como resposta ao sonho do Papa João e aos ideais do Concílio. Sobretudo graças à Constituição Lumen Gentium, que recupera e reconhece o lugar do Povo de Deus, não mais apenas como “destinatário passivo” da evangelização, mas como “sujeito eclesial” e “protagonista da ação evangelizadora de toda a Igreja”.
Que linda caminhada foi realizada nestes anos! Vale a pena ler o que os Bispos latino-americanos reunidos em Aparecida acabam de escrever: “Na experiência eclesial de algumas Igrejas da América Latina e do Caribe, as Comunidades Eclesiais de Base têm sido escolas que tem ajudado a formar cristãos comprometidos com sua fé, discípulos e missionários do Senhor, como o testemunha a entrega generosa, até derramar o sangue, de muitos de seus membros. Elas abraçam a experiência das primeiras comunidades, como estão descritas nos Atos dos Apóstolos (At 2,42-47). (...) Demonstram seu compromisso evangelizador e missionário entre os mais simples e afastados e são expressão visível da opção preferencial pelos pobres. São fonte e semente de variados serviços e ministérios a favor da vida na sociedade e na Igreja. Mantendo-se em comunhão com seu Bispo e inserindo-se no projeto da pastoral diocesana, as CEBs se convertem em sinal de vitalidade na Igreja particular.
Interpretar a Bíblia a partir da vida e interpretar a vida a partir da Bíblia sempre foi o objetivo fundante e profético da ação das Comunidades Eclesiais de Base (CEBs). Um lema que parte de um olhar lúcido e corajoso sobre a realidade e faz da leitura da Palavra de Deus uma busca pela iluminação da prática cotidiana dos cristãos, como faziam as primeiras comunidades (cf. At 4,23-31; Lc 24,13-35).
Hoje as relações entre os seres viventes são muito desgastadas. Olhando para o mundo com os olhos de Deus, as CEBs vão descobrindo como o atual modelo de desenvolvimento nega o princípio básico primeiro da espiritualidade cristã, que é a defesa da vida em abundância para todos os seres.
Muitas pessoas passam fome. A fome pode servir como pretexto para repensar o Brasil, a Igreja, as CEBs, a nossa espiritualidade e a nossa prática pastoral.
Para discernir por onde devem andar as CEBs nos dias de hoje, é preciso olhar para trás, fazer memória das experiências comunitárias na história humana e na história do Povo da Bíblia.
Está na hora, (cf. Jo 4,23) de fazermos como o povo no exílio. Assumirmos a nossa culpa. As águas estão envenenadas por culpa nossa. As matas foram e estão sendo devastadas por culpa nossa, por causa da nossa omissão. Sobretudo diante do projeto do agronegócio que está tomando conta das nossas terras. Os lixões não param de aumentar por culpa nossa. A violência contra as pessoas cresce sem parar por culpa nossa. Nós estamos destruindo a nossa casa, mas ela não é só nossa, estamos destruindo a casa e a vida das aves, dos seres aquáticos, e dos animais. Não cuidamos do jardim que Deus nos deu para administrar e cultivar. É a nossa única casa e cuidamos tão mal dela. A culpa é nossa, por ação ou por omissão. Mas, ainda é tempo (cf. Ecle 13,1-8). Se nos arrependermos e pararmos com os nossos mal-feitos, o nosso Pai plantará de novo o seu jardim.
Está na hora, (cf. Rm 13,11), de reaprender com as primeiras comunidades. Perseverando no modo de vida próprio dos seguidores de Jesus, as primeiras comunidades cristãs mudaram o mundo no seu tempo. E o que faziam era simples: partilhavam as refeições com os mais pobres, junto com a memória do sacrifício de Jesus. Nós podemos mudar o nosso mundo se formos de fato seguidores de Jesus (cf. Mc 6,37-43; Mc 8,2-8; Mt 14,16-21; Lc 9,13-21; Jo 6,9-13).
As primeiras comunidades eram também missionárias, por que não dá para mudar o mundo sozinho. Foi o que percebeu a comunidade de Antioquia, reunida em oração, quando o Espírito Santo chamou Paulo e Barnabé para a missão (cf. At 13,1-3).
As Comunidades Eclesiais de Base (CEBs) é um jeito de organizar a Igreja (paróquia), próxima do povo, acolhedora, aberta ao dialogo, participativa, partilha do ser e do ter a serviço de todos, articula-se para falar e agir encarnada na realidade do povo, espiritualidade libertadora que encontra na Palavra de Deus a luz para transformar as realidades socio-políticas e econconômicas, união de fé e vida, comprometidas na luta contra tudo o que oprime e exclui, fidelidade ao Projeto de Deus, uma consideração e carinho especial pelos pobres e excluídos, conserva viva a memória dos mártires.
As famílias e clãs dos camponeses que resistiram e lutaram contra a opressão das cidades-estado de Canaã e formaram as Tribos de Javé já vivia o espírito das comunidades eclesiais de base. Os grupos que saíram do Egito em busca de libertação também. Na caminhada pelo deserto e nas montanhas de Canaã as comunidades construíram, sob inspiração de Deus, uma sociedade justa e igualitária, o sonho das CEBs de hoje.
Com Jesus de Nazaré a história das comunidades teve continuidade. Ele não quis ser só, formou uma comunidade com os doze, sua mãe, as mulheres que o seguiam e outros discípulos e discípulas (cf. Lc 8,1-3; 23,49.55; Mc 15,40-41; Mt 27,55-56, cf. Lc 10,1). E os seus seguidores saíram pelo mundo formando comunidades: paulinas, petrinas, joaninas, marcanas, lucanas, mateanas. Todas cristãs, todas comprometidas com a defesa da vida de todos e todas e com as lutas contra a injustiça.
Elas nos ensinaram algumas outras características das comunidades cristãs, além da defesa da vida. As comunidades são, e as CEBs devem ser o lugar da manifestação do Espírito de Deus. O livro dos Atos dos Apóstolos mostra que Pentecostes só acontece onde há uma comunidade reunida, cf. At 2,1-13; 4,31; 8,14-17; 10,44-47; 19,1-7.
Com a boa noticia que Jesus Ressuscitou os seguidores e seguidoras de Jesus se uniram e reuniram em pequenas comunidades para testemunhar a vida nova que Jesus trouxe. Assim nos diz o livro dos Atos dos Apóstolos.
Em todo o Novo Testamento, a “casa” aparece como espaço importante de encontro da família e da comunidade-Igreja, de realização das pessoas e de defesa da vida, aberta aos vizinhos, amigos, irmãos, onde todos procuram conhecer-se mais e melhor, dividir os problemas e dificuldades à luz da Palavra, para encontrar caminhos que ajudem a transformar o sonho do Reino de Deus em realidade vivida por todos.
Por isso logo as comunidades cristãs foram se envolvendo com os grandes desafios sociais, econômicos, políticos, culturais, religiosos etc., misturando-se em todas as situações e realidades, para fermentar a massa com o fermento bom e transformador do Evangelho (cf. Mt 13,33).
Nasceu uma linda caminhada, onde não faltaram problemas e, todos eles, muito parecidos com os nossos. Conflitos internos que provocavam divisão e desunião no seio das próprias comunidades com incompreensões, calúnias, ciúmes, inveja, intrigas, disputa de poder, preconceitos etc. E conflitos externos, marcados, sobretudo pela perseguição do império romano que condenava, na ação dos cristãos, o projeto de Jesus de uma sociedade justa, fraterna e igualitária (cf. Lc 9,46-50; 21,12-19; Ap 6. O livro dos Atos dos Apóstolos pode ser lido como um grande manual de conflitos internos e externos, cf. At 6,1.8-14; 8,1; 12,1-4; 13,49-50; 14,1-6; 15, 16,16-23; 17,5-9; 18,12-17; 19,23-30; 21,27-36).
A partir do século IV depois de Cristo, com o imperador Constantino, esta Igreja, que antes se reunia nas casas ou mesmo nas catacumbas para escapar à perseguição do império romano, cede lugar agora à Igreja massificada, dos grandes templos e das liturgias pomposas, mais afastadas da vida e da realidade do povo e mais ligadas ao poder e ao luxo do império. Um tempo de “escuridão”, de muitas dificuldades e problemas, de traição do projeto original de Jesus por parte de muitos que se diziam seus seguidores. No meio dessa escuridão, surgem muitas vozes santas, proféticas e fiéis: irmãs e irmãos que como São Francisco de Assis e Santa Clara no século XIII, Bartolomeu de Las Casas no século XVI e tantos outros e outras, se sentem chamados a reconstruir a Igreja dos pobres e com os pobres. Este período irá até o século XX, com a convocação, do Papa João XXIII, para o Concílio Ecumênico Vaticano II (1962-1965).
É aqui que renascem as CEBs – novo/velho modo de ser Igreja– como resposta ao sonho do Papa João e aos ideais do Concílio. Sobretudo graças à Constituição Lumen Gentium, que recupera e reconhece o lugar do Povo de Deus, não mais apenas como “destinatário passivo” da evangelização, mas como “sujeito eclesial” e “protagonista da ação evangelizadora de toda a Igreja”.
Que linda caminhada foi realizada nestes anos! Vale a pena ler o que os Bispos latino-americanos reunidos em Aparecida acabam de escrever: “Na experiência eclesial de algumas Igrejas da América Latina e do Caribe, as Comunidades Eclesiais de Base têm sido escolas que tem ajudado a formar cristãos comprometidos com sua fé, discípulos e missionários do Senhor, como o testemunha a entrega generosa, até derramar o sangue, de muitos de seus membros. Elas abraçam a experiência das primeiras comunidades, como estão descritas nos Atos dos Apóstolos (At 2,42-47). (...) Demonstram seu compromisso evangelizador e missionário entre os mais simples e afastados e são expressão visível da opção preferencial pelos pobres. São fonte e semente de variados serviços e ministérios a favor da vida na sociedade e na Igreja. Mantendo-se em comunhão com seu Bispo e inserindo-se no projeto da pastoral diocesana, as CEBs se convertem em sinal de vitalidade na Igreja particular.
Interpretar a Bíblia a partir da vida e interpretar a vida a partir da Bíblia sempre foi o objetivo fundante e profético da ação das Comunidades Eclesiais de Base (CEBs). Um lema que parte de um olhar lúcido e corajoso sobre a realidade e faz da leitura da Palavra de Deus uma busca pela iluminação da prática cotidiana dos cristãos, como faziam as primeiras comunidades (cf. At 4,23-31; Lc 24,13-35).
Hoje as relações entre os seres viventes são muito desgastadas. Olhando para o mundo com os olhos de Deus, as CEBs vão descobrindo como o atual modelo de desenvolvimento nega o princípio básico primeiro da espiritualidade cristã, que é a defesa da vida em abundância para todos os seres.
Muitas pessoas passam fome. A fome pode servir como pretexto para repensar o Brasil, a Igreja, as CEBs, a nossa espiritualidade e a nossa prática pastoral.
Para discernir por onde devem andar as CEBs nos dias de hoje, é preciso olhar para trás, fazer memória das experiências comunitárias na história humana e na história do Povo da Bíblia.
Está na hora, (cf. Jo 4,23) de fazermos como o povo no exílio. Assumirmos a nossa culpa. As águas estão envenenadas por culpa nossa. As matas foram e estão sendo devastadas por culpa nossa, por causa da nossa omissão. Sobretudo diante do projeto do agronegócio que está tomando conta das nossas terras. Os lixões não param de aumentar por culpa nossa. A violência contra as pessoas cresce sem parar por culpa nossa. Nós estamos destruindo a nossa casa, mas ela não é só nossa, estamos destruindo a casa e a vida das aves, dos seres aquáticos, e dos animais. Não cuidamos do jardim que Deus nos deu para administrar e cultivar. É a nossa única casa e cuidamos tão mal dela. A culpa é nossa, por ação ou por omissão. Mas, ainda é tempo (cf. Ecle 13,1-8). Se nos arrependermos e pararmos com os nossos mal-feitos, o nosso Pai plantará de novo o seu jardim.
Está na hora, (cf. Rm 13,11), de reaprender com as primeiras comunidades. Perseverando no modo de vida próprio dos seguidores de Jesus, as primeiras comunidades cristãs mudaram o mundo no seu tempo. E o que faziam era simples: partilhavam as refeições com os mais pobres, junto com a memória do sacrifício de Jesus. Nós podemos mudar o nosso mundo se formos de fato seguidores de Jesus (cf. Mc 6,37-43; Mc 8,2-8; Mt 14,16-21; Lc 9,13-21; Jo 6,9-13).
As primeiras comunidades eram também missionárias, por que não dá para mudar o mundo sozinho. Foi o que percebeu a comunidade de Antioquia, reunida em oração, quando o Espírito Santo chamou Paulo e Barnabé para a missão (cf. At 13,1-3).
As Comunidades Eclesiais de Base (CEBs) é um jeito de organizar a Igreja (paróquia), próxima do povo, acolhedora, aberta ao dialogo, participativa, partilha do ser e do ter a serviço de todos, articula-se para falar e agir encarnada na realidade do povo, espiritualidade libertadora que encontra na Palavra de Deus a luz para transformar as realidades socio-políticas e econconômicas, união de fé e vida, comprometidas na luta contra tudo o que oprime e exclui, fidelidade ao Projeto de Deus, uma consideração e carinho especial pelos pobres e excluídos, conserva viva a memória dos mártires.
Lucimar Moreira Bueno (Lucia)