Lucimar Moreira Bueno(Lucia) - www.lucimarbueno.blogspot.com

quinta-feira, 23 de outubro de 2008

Famintos num mundo que desperdiça comida

O noticiário Zenit do dia 16 de outubro divulgou dados fornecidos pela Cáritas Espanha por ocasião do dia Mundial da alimentação, a qual lançou a Campanha «Direito à alimentação. Urgente» denuncia que 923 milhões de pessoas passam fome e desnutrição em todo o mundo. São 75 milhões a mais que no ano passado, apesar de que o mundo é mais rico que nunca e que as colheitas de 2007 bateram recordes, segundo denuncia a Cáritas Espanha. O número de pessoas famintas passou, no último ano, de 854 milhões a 923 milhões, explica o informe. Por trás deste aumento está a subida do preço dos alimentos, que foi, em média, de 52% entre 2007 e 2008. Alguns produtos básicos como o arroz sofreram um aumento de mais de 200%.

A causa do aumento de preços, não está na redução das colheitas, pois em 2007 bateram recordes, a causa deve ser buscada nas políticas agrárias das últimas décadas, centradas na rentabilidade comercial dos alimentos, ao invés de garantir o direito à alimentação, e na especulação financeira em mercados de futuro e fundos de investimento com os produtos alimentícios, afirma a Cáritas. Graças às receitas das instituições financeiras como o Banco Mundial ou o Fundo Monetário Internacional, nos anos 80 a agricultura deixou de ser uma prioridade para a maioria dos países em desenvolvimento, que abandonaram os cultivos orientados à alimentação da população visando a produção destinada à exportação, explica a instituição de caridade católica.

Nos últimos anos, a instabilidade financeira das Bolsas internacionais dirigiu os investimentos de novo para as matérias-primas, que se converteram em valores seguros com os quais especular. Para protegê-los, foram colocadas em andamento medidas como a restrição das exportações, e o produto circulante se reduziu cada vez mais, diante da mesma demanda e, portanto, os preços aumentaram, explica a Cáritas.

«Quando três de cada quatro pessoas que passam fome, 75% dos famintos, são trabalhadores do mundo rural, ou seja, produtores de alimentos, e geram alimentos para o dobro de habitantes que atualmente há no planeta, evidencia-se que a violação do direito à alimentação é um problema de acesso aos produtos e recursos suficientes e adequados para satisfazer as necessidades alimentares de todos os habitantes do planeta.»

A Campanha «Direito à alimentação. Urgente», apoiada pela Cáritas, faz estas recomendações: Países com crescimento econômico sustentável não conseguiram melhorar seus dados de desnutrição porque lutar contra a pobreza não implica necessariamente lutar contra a fome. Enfrentar a violação do direito humano fundamental à alimentação requer medidas específicas, que devem ser tomadas no âmbito jurídico e político dos direitos humanos.

A crise alimentar deve ser vista como uma oportunidade para examinar a situação alimentar mundial, fazer um diagnóstico em um contexto de mudança climática e crescimento demográfico importante e, a partir daí, estabelecer um «mapa» desde a soberania alimentar, que inclua as dimensões social, política, ambiental e nutricional da alimentação. Ainda que a FAO identifique a bioenergia e a mudança climática como os principais desafios que a segurança alimentar mundial enfrenta, o desafio está em decidir o que, para que, para quem e como se quer produzir. O resto são circunstâncias a enfrentar, como foram outras no passado. www.derechoalimentacion.org

(Fonte www.zenit.org, outubro 2008)

Por dom Anuar Battisti, arcebispo de Maringá.