Lucimar Moreira Bueno(Lucia) - www.lucimarbueno.blogspot.com

quinta-feira, 30 de outubro de 2008

E ELE CHOROU*

Com os sentimentos não se brinca. Sentir algo por alguém ou por alguma coisa é o que de mais genuíno temos em nós. Saber respeitar o sentimento do outro é dar o valor que ele merece. Os sentimentos fazem parte integrante da vida humana. Em nenhum momento, temos o direito de reprimir ou negar os sentimentos e sim saber o que fazer com eles. Na vida tudo é marcado por algum sentimento, que vai desde a satisfação até a indignação. Somos completos quando soubermos aceitar e direcionar o nosso sentir sem criar drama ou desespero.

Na vida de Jesus um fato marcante e profundamente humano, que não diminuiu a grandeza do Homem Deus, e sim o elevou à mais alta dignidade, foi o fato de saber da morte de seu amigo Lázaro e ver Maria Madalena como amiga, triste e preocupada, chorando a partida do irmão. Ela não esconde a tristeza da separação e Jesus não nega a sua sincera amizade e chora por alguém que ele ama. Chorar por alguém é manifestar o mais nobre sentimento de carinho e apreço. Ninguém chora por qualquer coisa.

A vida é marcada por momentos que movem em nós todo tipo de reação; que se manifesta em nós em sentimentos que quando externados, fazem um bem enorme, e quando guardados provocam danos sem medida. Saber sentir, acolher os nossos sentimentos e encaminhá-los para o destino certo, produz equilíbrio humano e espiritual. Dar valor aos sentimentos é sinal de maturidade física e psicológica. Não é proibido sentir, é proibido deixar-se levar por eles como uma enxurrada incontrolável, que só provoca danos e às vezes danos irrecuperáveis.

Ao aproximar o dia de finados, quando prestaremos a nossa homenagem aos que partiram, certamente o sentimento mais forte é a saudade. Que coisa inexplicável essa tal de saudade. Ao mesmo tempo, ela é externada pela visita ao cemitério, recordando os momentos bonitos da vida, levando flores, elevando preces, orando e confiando na vida que não morre. O nosso destino é a eternidade, onde a ressurreição é o troféu que vamos receber por ter vivido de acordo com os princípios do evangelho. Como ele ressuscitou, nós também ressuscitaremos com ele para a vida eterna.

O sentir-se filho amado e com capacidade de amar, cuja herança é uma eternidade feliz, descarta qualquer doutrina sobre a reencarnação, não seremos espíritos vagantes, buscando alguém para repousar. A nossa morada é a Casa do Pai. Jesus afirma: “Eu vou para o meu Pai e vosso Pai. Vou preparar um lugar para que onde eu estiver, vós também estejais comigo”.(Jo 14, 2-3) O lugar já está preparado; depende de nós. Por isso, a vida é feita de tantos altos e baixos, de quedas e de soerguimento, nada pode manter-nos no chão da vida. Sempre estaremos dispostos a levantar e recomeçar o caminho. “O navio no estaleiro está seguro. Mas não foi feito para isto”(William Shed).

Como pessoas humanas, pessoas com coração movido por todo tipo de sentimentos, queremos fazer destes, um trampolim para conquistar uma melhor qualidade de vida. Por isso sentir-se humano, e não super homem, ou super mulher, é condição para uma existência equilibrada entre o que somos e o que gostaríamos de ser. Topar com meus sentimentos e não se assustar com eles nem deixar-se levar por eles, faz com os integremos de forma simples e tranqüila. Ele chorou, porque eu não?

*Dom Anuar Battisti - arcebispo metropolitano de Maringá - PR