Lucimar Moreira Bueno(Lucia) - www.lucimarbueno.blogspot.com

quinta-feira, 17 de julho de 2008

A prostituta vai à Missa

R. Sul. II » Artigos Enviados

Não importa onde você parou, em que momento da vida você cansou, o que importa é que sempre é possível e necessário “recomeçar”. Recomeçar é dar uma nova chance a si mesmo. É renovar as esperanças na vida e o mais importante: acreditar em você de novo.Jesus Cristo enquanto andou, neste mundo, esteve acompanhado de cobradores de impostos, ladrões, prostitutas e tantos outros pecadores. Questionado sobre isto, Ele mesmo respondeu que os sãos não necessitam de médicos (Mt 9,12). Como o Cristo é o sacramento, o sinal do Pai, assim, a Igreja é o sacramento de Cristo. Sendo Jesus Cristo, verdadeiramente Deus e verdadeiramente homem, sem ser dois, também a Igreja tem sua face divina e humana, à maneira de um corpo vivificado pelo Espírito Santo. Esta, olhos, braços, pés e, especialmente, o coração do Deus-homem, arrebanha pessoas muito santas, como também, prostitutas, alcoólatras, bandidos, desequilibrados sexualmente, adúlteros e tantos outros pecadores. Se a Igreja não acolhesse os perdidos, seria ela de Jesus Cristo? Exerci o meu ministério presbiteral numa paróquia, predominantemente, rural. Naquela cidadezinha, naquela comunidade, onde todo padre sonha um dia ser pároco, todo mundo conhece todo mundo. Não existem as mesmas dificuldades de uma cidade maior. Eu estava presidindo a missa das 19:30h, num domingo, com a igreja repleta de fiéis. No ato penitencial, percebi um clima estranho com a entrada de uma mulher. Com certeza, eles a conheciam pela fama. Aquela mulher era a proprietária da casa de prostituição que atendia a região. Não havia mais espaço, porém ela se encostou perto do último banco da fileira do corredor central, o qual ficou vazio e assim ocupado por ela. Acho que foi o assunto quente da semana. O povo aguardava uma reação minha. Até ela, talvez. Todavia, a mesma continuou indo à missa, às novenas e às primeiras sextas feiras do mês também. Até aí, eu só ouvia coisas e a via ocupar um banco, na igreja, para participar do ato litúrgico.Um grupinho me aconselhou a tomar cuidado, pois aquela mulher iria estragar a comunidade. “Padre, esta mulher destruiu muitos lares”, lamentou uma senhora. “Isto é uma vergonha para a nossa Igreja, padre! Significa que aqueles que nos criticam têm razão”, argumentou um outro. “Padre Pedrinho, sou descontente, às vezes, com certos posicionamentos da Igreja, mas vendo esta mulher participando, tenho vontade de entregar o meu cargo”, ameaçou uma outra. Como ser um bom pastor? Ser simplesmente um bom padre, na paróquia, quando dava impressão que algumas pessoas boas, estavam descontentes? Passei a orar mais. “O que Jesus faria agora se estivesse no meu lugar?”, me interrogava constantemente. Mas, as coisas pioraram, quando a mulher resolveu conversar comigo. Ela tinha um sonho: “fazer o Cursilho”. Porque eu falava tanto do Cursilho, nas missas, que ela gostaria de prová-lo. Enrolei o tanto quanto pude, por causa dos critérios existentes para poder mandar alguém. Após a missa do 4º. Domingo da Páscoa, domingo do Bom Pastor (Jo 10, 1ss), escapei pela sacristia para não encontrá-la. Não adiantou nada. Como o portão da casa não tinha tranca, logo bateu a campainha. “Pe. Pedrinho, a bíblia não fala que o bom pastor não larga as noventa e nove ovelhas e vai atrás daquela que se perdeu?”, me interrogou ela. “Sim”, respondi. “Pe. Pedrinho, eu sou a ovelha perdida e desejo ir para o Cursilho”, afirmou ela. Diante desta situação, a encaminhei naquela semana para o Cursilho. Aquela mulher, agora, é uma senhora feliz, respeitada e estimada por todos, naquela cidadezinha. Ela nasceu de novo e como que para reparar o seu passado, é totalmente disponível seja para Igreja, creche, asilo ou para arrecadar coisas aos carentes e doentes. Hoje, em qualquer reunião de uma associação ou outra entidade, esta senhora é a primeira ser convocada. E, se eu a tivesse expulsado da Igreja, com toda certeza ela teria voltado para a casa de prostituição e eu ocuparia o seu lugar no inferno (Mt 23,13).
*Assessor Diocesano da Pastoral da Comunicação
Pároco da Paróquia Cristo Rei de Apucarana – Pr.