Lucimar Moreira Bueno(Lucia) - www.lucimarbueno.blogspot.com

terça-feira, 1 de julho de 2008

ANO PAULINO – EXPECTATIVAS

Por: Dom Orlando Brandes (Arcebispo de Londrina-PR)
O Ano Paulino chegou em hora oportuna. Poderá projetar a “primavera da Igreja” neste inicio de milênio. Reforçará o Ano Catequético, iluminará o sínodo sobre a Palavra de Deus na vida e missão da Igreja, impulsionará a recepção do Documento de Aparecida. Vejamos então algumas expectativas referentes ao Ano Paulino.

1. Um convite à conversão. Paulo faz uma experiência viva, decisiva e persuasiva de encontro com Cristo. Sua conversão emerge da fascinação por Cristo experimentada na estrada de Damasco. O perseguidor passa agora a ser perseguido. Deus já o perseguia há tempo. Saulo, judeu de Tarso, fiel praticante do farisaísmo converte-se em discípulo apaixonado de Jesus Cristo seu “bem supremo”. Ele foi “conquistado por Jesus” (Fl 3, 12) e de agora em diante dirá: “É Cristo que vive em mim” (Gl 2,21). Paulo é vaso de eleição, doutor da graça, apóstolo por ordem de Deus, que o vinha perseguindo, até rendê-lo pela “forte luz do céu”. Ano Paulino é ano de conversão.

2. Um salto missionário. A Igreja precisa de uma “forte comoção”, de um salto, uma reviravolta, diz o Documento de Aparecida. O Ano Paulino nos oferece essa chance. Paulo, missionário itinerante, incansável, cheio de audácia, criatividade e ímpeto evangelizador, prega a Palavra e insiste, tanto nos centros urbanos como nas periferias. Vai além fronteiras, é apostolo dos gentios e das nações. Paulo tem coração ardente, inteligência lúcida, é um pedagogo e estrategista, um operário intrépido e valente. Nem as doenças, nem as cadeias entravam sua audácia missionária. O Ano Paulino é um ano que vem dar impulso, motivação e um “salto missionário” para a Igreja em estado permanente de missão.
3. Uma oportunidade para a Lectio Divina. Não há melhor caminho para conhecermos a mensagem paulina que uma forte experiência, um real ensino da Leitura Orante dos textos paulinos. Sem a Lectio Divina, o Ano Paulino será mais uma teoria, uma doutrina, do que um encontro, um acontecimento, uma experiência. A Lectio Divina nos enriquecerá com a alegria, a gratidão, o amor, até às dores de parto que marcaram a personalidade de Paulo. Agora é a hora de sermos as “cartas vivas” como também “o perfume de Cristo”, graças à Leitura Orante das cartas paulinas e dos Atos dos Apóstolos. O Ano Paulino para ser verdadeiro e eficaz, deve nos levar a Leitura Orante da Bíblia.

4. Um relançamento da Iniciação Cristã. A vida de Paulo é uma trajetória que contem todos os elementos da iniciação cristã: encontro com Cristo, conversão que brota da fascinação do encontro, inserção na vida da comunidade, conhecimento bíblico e doutrinal sempre em processo de crescimento e decisão pela vida missionária. Paulo é um fundador de comunidades, verdadeiro protetor dos grupos de reflexão, da Igreja nas casas. Ele mesmo fez a trajetória da iniciação cristã a partir da qual o que vale é a “nova criatura” (Gl 6,15) e a missão com desassombro (cf. At 9,26). O Ano Paulino ajudará para um relançamento da iniciação cristã na catequese e na vida da Igreja.
5. Um reavivamento da ética cristã. A ética cristã em Paulo é uma resposta ao amor fiel, eterno e imensurável do Pai, revelado em Jesus. É a ética do seguimento de Jesus, ética do discipulado, da vida no Espírito e não na carne. Temos em Paulo uma decidida ética sexual, matrimonial, familiar e social. “A fé sem obras é morta” (Tg 2,20) e “É para a liberdade que Cristo nos libertou” (Gl 5,1) Nossa cultura voltou ao paganismo pela idolatria, imoralidade, consumismo e individualismo. O Ano Paulino é um reavivamento da ética cristã.

6. Um aprofundamento da teologia da Cruz. Paulo completa em seu sofrimento o que falta à cruz de Cristo (cf. Cl 1,24). A “ciência da cruz” tem em Paulo um discípulo fiel. Apedrejado, flagelado, prisioneiro, marcado para morrer, doente, com lágrimas nos olhos e as marcas de Cristo em seu corpo, Paulo, sofre com o espinho na carne. È perseguido e fugitivo. Escapa escondido num cesto (cf. At 9, 25). Passa por perigos no mar, nos rios, no deserto, nos naufrágios, além de ser incompreendido pelos irmãos de raça, pelos pagãos e pelos falsos irmãos.
Todo esse sofrimento se transforma em vigor, entusiasmo, desassombro e ímpeto missionário. Paulo é uma personalidade invejável que tem energia indomável, obstinação missionária, vontade férrea, ternura de mãe, calor humano, mística e oração. Os sofrimentos fizeram dele um mestre da teologia da cruz. O Ano Paulino tem tudo para fortalecer-nos na espiritualidade e mística da dor em favor da salvação dos irmãos, da glória de Deus, do testemunho dos mártires, da intrepidez missionária. Em Paulo quanto maior é o sofrimento, maior será a glória.

7. Uma chance para a catequese. Paulo é catequista, pregador, teólogo, pedagogo, estrategista. Catequiza nas cidades e periferias, nos templos e nas casas, prepara catequistas e pregadores, sabe inculturar a mensagem, sofre pela fidelidade à sã doutrina, corrige os erros, anima os catequistas, trabalha com seus colaboradores e ganha o pão com suas mãos. Muitas pessoas marcaram a vida catequética de Paulo: Estêvão, Ananias, Barnabé, Eunice, Loide, Timóteo, Febe, Pedro, Tiago, João, Áquila, Priscila, Lídia e tantas outras. Paulo catequiza com sua vida, sofrimentos, escritos e na cadeia escreve livros de catequese. É um catequista convertido, discípulo, perseguido, prisioneiro, viajante, sofredor, orante, místico, teólogo. Enfrenta o paganismo e o judaísmo para implantar o cristianismo. Faz-se tudo para todos. O Ano Paulino consolidará o Ano Catequético e toda a catequese que é o sangue do Corpo de Cristo, a Igreja.