Lucimar Moreira Bueno(Lucia) - www.lucimarbueno.blogspot.com

segunda-feira, 19 de novembro de 2012

Rio receberá 2,5 milhões de jovens

A cidade do Rio de Janeiro, em julho do ano que vem vai passar por um teste mais que olímpico e testará a infraestrutura para receber os eventos esportivos de 2014 e 2016. Cerca de 2,5 milhões de jovens católicos vão se reunir num encontro com o Papa Bento XVI, na 27ª Jornada Mundial da Juventude. A Copa do Mundo na Alemanha, por exemplo, reuniu 3,3 milhões de pessoas distribuídas nas 12 cidades-sede. Uma Olimpíada reúne por volta de 400 mil, mas Londres teve um público menor.
A reportagem é de Paola de Moura e publicada pelo jornal Valor, 19-11-2012.


Ao contrário dos grandes eventos, a maioria desse público não ficará em hotéis ou em navios. A hospedagem é oferecida pelos anfitriões, que no caso carioca, será articulada pela Arquidiocese. Mas para receber tanta gente será necessária a ajuda de moradores da cidade, instituições, escolas, e clubes. Até agora, há cadastradas residências suficientes para receber 10 mil peregrinos e espaços amplos para mais 150 mil. No próximo mês, será iniciada uma campanha para incentivar os moradores do Rio. Participarão da publicidade artistas como Cristiane Torloni, os irmãos Danielle Diego Hypólito, e Elba Ramalho.



"O objetivo é conseguir alojamento para pelo menos um milhão de pessoas", diz o bispo auxiliar do Rio, dom Paulo Cezar Costa. "Haverá também aqueles quer vão preferir ficar em hotéis", afirma o bispo. No Copacabana Palace, por exemplo, 80 dos 243 quartos já estão reservados entre os dias 23 e 28 de julho, data em que será realizada a Jornada.



Além do Rio, a campanha também vai atingir a região metropolitana. Vários dos peregrinos ficarão hospedados em cidades adjacentes, como Niterói, Duque de Caxias, Nova Iguaçu ou Itaguaí. São esperados também cerca de 20 mil ônibus, que não entrarão na capital fluminense. Será necessário conseguir espaço para estacionar essa frota. "Muitos deles virão em duplas porque as distâncias são longas. Só de Lima são 1.200 ônibus", diz dom Paulo.


Assim como os comitês organizadores da Copa e da Olimpíada possuem suas empresas próprias, também foi montada uma instituição sem fins lucrativos para gerenciar o evento, o Comitê Organizador. Ao todo são 108 funcionários de diversos países. "Muitos já trabalharam em jornadas anteriores", afirma o bispo.



Dom Paulo conta também que esteve reunido com organizadores das edições passadas. "Fomos a Sidney, na Austrália, a Toronto, no Canadá, e a Colônia, na Alemanha. Buscamos as informações e agora desenvolvemos nosso projeto de acordo com as particularidades do Rio", diz ele, para depois avaliar que a Jornada será um teste para a capacidade de organização da cidade para os próximos eventos.



"Será um grande balão de ensaio, mas com uma vantagem: o público peregrino é menos exigente. O jovem católico também é mais ordeiro, alegre", afirma o bispo, que esteve em três jornadas.



Entre os dias 23 e 24, serão realizados eventos de catequeses em igrejas e escolas. No dia seguinte, quinta-feira, o papa chega e será recebido pela presidente Dilma Rousseff. Na sexta-feira, ele realiza sua primeira missa na Praia de Copacabana, junto com a representação da Via Sacra. No sábado, inicia uma vigília com os jovens. E no domingo, missa campal do encontro na mesma área. A previsão é que os 2,5 milhões de participantes se reúnam nesse dia.



A organização do evento recairá sobre os 50 mil voluntários esperados, que vão cuidar da logística de transporte, alimentação, organização e produção de eventos e o recebimento dos 5 mil jornalistas cadastrados.



Quem terá que treinar os voluntários será a Dream Factory, empresa contratada pela Arquidiocese para organizar a Jornada e que tem no currículo o Rock In Rio e o carnaval de rua carioca. A empresa terá um orçamento de R$ 430 milhões para organizar o evento. Desse montante, R$ 300 milhões serão pagos pelos peregrinos ao se inscreverem na Jornada, que tem taxa de inscrição que varia entre R$ 150 e R$ 600.



Já os R$ 130 milhões restantes são os custos de organização de produção do evento. Para isso, a Dream Factorybusca patrocinadores, distribuídos em três categorias de apoio: a cota máster, que deve ser negociada a R$ 15 milhões; o patrocínio, por R$ 7 milhões, e o apoio, por R$ 2 milhões. "São preços de referência. Cada negociação é um valor", afirma Duda Azevedo, diretor-geral da empresa.



A cota pode ser paga em parte com serviços. O Banco Santander, por exemplo, montou o sistema de inscrição similar o que já tinha feito em Madri, no ano passado. O evento na capital espanhola contou com 2 milhões de fiéis. Além do SantanderItaú Bradesco estão entre os patrocinadores.



Os logotipos dos patrocinadores aparecerão em placas, faixas de indicação e torres de vídeo. Também será possível criar áreas de relacionamento dos clientes e de funcionários em locais do evento. "Os patrocinadores master serão recebidos pelo próprio papa. No início do ano, representantes das empresas vão a Roma encontrá-lo pessoalmente", afirma dom Paulo.



Os peregrinos participarão de eventos em 400 diferentes pontos do Rio de Janeiro, que verá ser armado 27 palcos para apresentações de teatro e bandas brasileiras.



Em Madri, a Jornada teve mais de cem patrocinadores, entre eles o banco Santander, a Coca-Cola, a Telefónica, aFord e o El Corte Inglés. Por lá estiveram fiéis de 193 países. Dos 2 milhões de católicos participantes, 130 mil permaneceram na cidade depois do evento. A média de estadia por pessoa foi de seis dias, com um gasto diário de € 52. A estimativa é que a Jornada tenha gerado € 354,6 milhões para a economia madrilenha. Além disso, 89,6% dos estrangeiros levaram uma boa impressão de Madri e tiveram a intenção de voltar.



Dream Factory vem fazendo propostas de patrocínio para montadoras, grandes empresas varejistas, companhias telefônicas, planos de assistência médica e redes hospitalares, seguradoras, empresas mineradoras e de óleo e gás. "Estamos prospectando principalmente no mercado do Rio e de São Paulo", diz Duda Azevedo. Também está previsto o licenciamento da marca JMJ (Jornada Mundial da Juventude) para serem exploradas em copos, camisetas, santinhos e estátuas do Cristo Redentor.



O evento terá ainda uma semana de pré-jornada, batizada de Semana Missionária. Os peregrinos vão a diferentes cidades do país para realizar trabalhos missionários. Ao todo são 159 dioceses envolvidas, 60% brasileiras, abrangendo cerca de 3.340 municípios do país. Volta Redonda, no Rio, por exemplo, receberá 10 mil franceses. JáFortaleza receberá americanos.

Área para missa campal ainda não está definida


Patrocínios para arrecadar R$ 130 milhões, transporte e alojamento para 2 milhões e meio de pessoas e a segurança para o Papa Bento XVI. De tantos gargalos para resolver, o que mais está tirando o sono dos bispos da Arquidiocese do Rio e dos funcionários da Dream Factory é o local onde será realizada a missa campal, que deve reunirá os fiéis e ainda não tem local definido.



A última vez em que algo do tipo aconteceu foi em 1997. O papa da época, João Paulo II, rezou missa no Aterro do Flamengo para 2 milhões de pessoas. Hoje o local não é mais viável porque a missa destruiu os canteiros de Burle Max e criou uma série de problemas na cidade.



Oito locais prévios haviam sido selecionados, com preferência para a base áerea de Santa Cruz. "Em Madri, a missa campal foi feita na base de Quatro Ventos", diz dom Paulo, que acrescenta que a própria presidente Dilma Rousseffhavia autorizado o local.



No entanto, no mês passado, verificou-se que o deslocamento das aeronaves e a mudança da rotina na base teria um custo alto.



A comissão organizadora agora estuda novos locais. Uma das opções seria uma área ainda não explorada emGuaratiba, na zona Oeste carioca, que pertence em parte à Prefeitura e a construtores locais. "A base de Santa Cruz ainda não está totalmente descartada. Mas procuramos alternativas", afirma dom Paulo.