Lucimar Moreira Bueno(Lucia) - www.lucimarbueno.blogspot.com

terça-feira, 3 de julho de 2012

Censo 2010 é uma boa oportunidade para a Igreja Católica


 "O Censo 2010 é mais um sinal que confirma a convocação feita pelos bispos latino-americanos em 2007, na Conferência de Aparecida, para a necessária “conversão pastoral” em vista de uma Igreja verdadeiramente missionária. Como também vai de encontro à uma das “urgências” da Ação Evangelizadora da Igreja no Brasil: por uma “Igreja: comunidade de comunidades”. De fato, o CERIS não tem nenhum levantamento para a quantificação da criação de Comunidades Eclesiais de Base (CEBs), mas fica evidente a falta de vontade política do episcopado brasileiro e a demora em sua “conversão pastoral” para sair da pastoral de mera conservação, que definitivamente não atende mais a realidade atual, para uma verdadeira pastoral missionária." escreve Sérgio Ricardo Coutinho, professor do curso de pós-graduação em História do Cristianismo Antigo na UnB e de História da Igreja no Instituto São Boaventura, de Brasília, e presidente do Centro de Estudos em História da Igreja na América Latina (Cehila-Brasil).
Para ele "O que os dados indicam é que existe sim uma saída, e a Igreja Católica no Brasil já a tinha experimentado com um investimento forte no passado, e que nos parece ser de muita atualidade: a criação de mais e mais comunidades eclesiais de base (CEBs) coordenadas por leigos e leigas."
Eis o artigo.
Os dados confirmam o que sociólogos, teólogos e cientistas da religião já suspeitavam: a continuidade do processo de declínio católico e do crescimento evangélico. Parece-nos ser momento oportuno para uma breve reflexão sobre as opções adotadas pela Igreja nestes anos em vista de estancar a sangria, como também momento oportuno para rever opções em vista daquilo que o Documento de Aparecida chamou da necessária “conversão pastoral”.
Conforme analistas, as regiões onde o Catolicismo mais decresceu foram naquelas de “recepção de migrantes”, seja nas fronteiras agro-minerais do Norte e do Centro-oeste, seja nas periferias dos grandes centros urbanos do    Sudeste brasileiro. Segundo eles, nestas regiões, formaram-se grandes “bolsões de pessoas socialmente deslocadas” e carentes de um senso de comunidade e foi justamente junto destes que os evangélicos pentecostais atuaram com vigor. Enquanto isso, as regiões Nordeste Sul, doadoras de migrantes para aquelas regiões, sofreram perdas bem menores nos números de católicos. Como a Igreja Católica atuou para acompanhar tanto a mobilidade territorial e, principalmente, a mobilidade religiosa?
O sociólogo da religião, Ricardo Mariano, é categórico ao afirmar que a estratégia adotada pela Igreja nestes últimos anos visando deter o avanço evangélico falhou: “Liderada pela Renovação Carismática e apoiada na criação de redes de TV e no evangelismo midiático, a reação católica à expansão pentecostal fracassou”. Mas, além de investir nesta estratégia, a Igreja continuou com outra prática ainda de épocas de Cristandade: a centralidade das estruturas jurídico-canônicas.
Segundo dados do Centro de Estatísticas Religiosas e Investigações Sociais (CERIS), organismo ligado à CNBB, em 20 anos (1990-2010) a Igreja investiu fortemente na criação de novas paróquias e registrando um crescimento na ordem de 43%; concomitantemente, investiu muito na criação de novos ministros ordenados (presbíteros e diáconos). O número de padres teve um crescimento de 55% no período, enquanto que os diáconos tiveram um verdadeiro boom neste mesmo período chegando ao percentual de 329% (!).
Além destes números, não podemos esquecer que o episcopado brasileiro tornou-se o maior numericamente em toda a Igreja Católica nos últimos anos e, em função disto, também investiu na criação de novas dioceses, saltando de 255 em 1990 para 276 em 2010 (crescimento de 8%).
Segundo ainda os dados do CERIS, podemos prestar a atenção na localização destes “investimentos” e suas incongruências. Nas Regiões Norte Centro-oeste, onde o evangelismo pentecostal cresceu muito entre os migrantes, a proporção de aumento de padres foi de 3% e 9%, respectivamente. Já a região Sudeste, por outro lado, teve um crescimento de 45% (!) no número de presbíteros. Este número é acompanhado pelo aumento de paróquias. Nos regionais Leste 2 (Minas Gerais) e Sul 1 (São Paulo) da CNBB, regionais de maior número de dioceses no Brasil, o crescimento de paróquias, entre 1994 e 2010, chegou a quase 36% e 47%, respectivamente.
O que se pode inferir destes dados é que as opções pastorais da Igreja Católica não criaram o “senso de comunidade” entre as “pessoas socialmente deslocadas”. Percebe-se este mesmo fenômeno em relação à  Igreja Universal do Reino de Deus (IURD) que experimentou um decréscimo no número de seus adeptos em 10%. A explicação dada pelos analistas é que seus mega-templos e redes de TV desfavorecem uma sociabilidade fraterna e comunitária, daí o crescimento de “pequenas igrejas” formadas por até 30 pessoas.
O Censo 2010 é mais um sinal que confirma a convocação feita pelos bispos latino-americanos em 2007, na Conferência de Aparecida, para a necessária “conversão pastoral” em vista de uma Igreja verdadeiramente missionária. Como também vai de encontro à uma das “urgências” da Ação Evangelizadora da Igreja no Brasil: por uma “Igreja: comunidade de comunidades”. De fato, o CERIS não tem nenhum levantamento para a quantificação da criação de Comunidades Eclesiais de Base (CEBs), mas fica evidente a falta de vontade política do episcopado brasileiro e a demora em sua “conversão pastoral” para sair da pastoral de mera conservação, que definitivamente não atende mais a realidade atual, para uma verdadeira pastoral missionária.
O que os dados indicam é que existe sim uma saída, e a Igreja Católica no Brasil já a tinha experimentado com um investimento forte no passado, e que nos parece ser de muita atualidade: a criação de mais e mais comunidades eclesiais de base (CEBs) coordenadas por leigos e leigas.