Vivemos em tempos de morte de jovens. Além das mortes violentas, frutos da injustiça social, de um modelo público com falta de segurança e coerência, há mortes premeditadas, há mortes decididas em reuniões, há mortes institucionais, há mortes pastorais, há mortes com dia e hora marcadas para acontecer. Causando tudo isso, estão os “Herodes” que usando de seu poder de forma autoritária e opressora outorgam-se títulos divinos de decidir o que deve viver e o que deve morrer sem respeitar processo ou construção alguma, sem respeitar a vida.
Herodes, conforme narrou Mateus, reinava sobre a Palestina no tempo do nascimento de Jesus em Belém. O poderoso ficou sabendo da notícia sobre o nascimento do “recém-nascido rei dos judeus” (2,2) através dos magos do oriente. Ao saber disso, mexidos os brios do poder, o rei ficou alarmado com a notícia. A perplexidade aumentou quando os sábios de Jerusalém recordam a ele que segundo o profeta Miqueias o “Messias nasceria em Belém, a menor das cidades” (2,6). Diante disso, pede informações sobre o Menino. Quer que os magos voltem para lhes contar Dele. No entanto, esperou em vão notícias do Menino, pois os magos preferiram voltar à sua pátria por outro caminho, evitando Jerusalém, avisados em sonho dos planos matadores de Herodes. Vendo a falência de seu projeto, o rei decidiu pôr fim, de uma vez por todas, àquela “provável” ameaça. Destacou para Belém um pelotão de soldados com ordem de matar todos os meninos com menos de dois anos de idade.
Porém, Aquele que os assassinos procuravam já estava longe da cidade, pois a pequena família da Galileia fugiu para o Egito, avisada pelo anjo da ameaça e do perigo que corriam (2, 13-14). É o poder triunfal com medo do poder de um Menino. Os grandes que temem a força dos pequenos.
A história conta que houve pelo menos cinco Herodes. Esse que trouxemos acima é conhecido como Herodes, o grande (Mateus 2, 1.16). Outros são: Herodes Arquelau, que reinava na Judéia (Mateus 2,22). Herodes Antipas, que mandou prender e matar João Batista a pedido de Herodíades no banquete da morte (Mateus 14, 1.3 – Lucas 3, 1.19 – 23.7). Herodes Agripa, aquele que matou o Apóstolo Tiago, irmão de João (Atos 12, 1. 20-23). Herodes Agripa II (Atos 25, 13-26,32). É uma sucessão de opressores do povo, todos chamados Herodes.
Hoje são muitos os Herodes que tramam e que matam a juventude. Isso tudo se valendo de um direito que não existe. É como se a pena de morte existisse, mesmo ela não existindo. Temos pena de morte de fato e não de direito. Os poderosos e opressores não ligam para a vida. Em nome do poder, do acúmulo e do se manter nessa esfera, continuam fazendo como que Herodes, matando a juventude, matando sonhos, matando vidas...
Naquela época, os pais de Jesus foram avisados e eles fugiram para o Egito, salvando assim o Menino (teologicamente é uma atitude que quer fazer de Jesus um novo Moisés!). Hoje os/as jovens, tantas vezes, não são avisados ou têm suas vidas defendidas e, com isso, a morte ceifa milhares. Poucas pessoas e pouquíssimas instituições gastam suas vidas na defesa da vida da juventude.
São pouquíssimas as ações em defesa da vida. Diminui cada vez mais o número de pessoas que se arriscam a “fugir” junto com os/as jovens para salvá-los, para defender a vida. Igualmente são poucas as pessoas que não se deixam levar pelo sistema. Da mesma forma, aquelas que têm a mesma atitude dos Magos, mudam a sua rota de caminho para ajudarem na defesa da vida.
Essa triste realidade de mortes pensadas pelos poderosos não pode, porém, nos impedir de seguir na luta pela vida. Não pode nos impedir de fugir com os/as jovens, não fugindo da luta, mas fugindo da morte. Não pode nos impedir de mudar o caminho e ir na contramão do sistema, na defesa da vida. Sigamos, na defesa da vida da juventude, guiados pela Estrela.
Luis Duarte – PJ de Jataí/GO (ICAR)
Maicon André Malacarne – Assessor da PJ de Erechim/RS (ICAR)
Fonte: Casa da Juventude (CAJU)