Lucimar Moreira Bueno(Lucia) - www.lucimarbueno.blogspot.com

sexta-feira, 21 de outubro de 2011

Síntese do encontro – II Sulão das Comunidades Eclesiais de Base

Tema: Justiça e Profecia no Campo e na cidade


Síntese do encontro – II Sulão das Comunidades Eclesiais de Base


Participação dos estados do Paraná, São Paulo, Santa Catarina e Rio Grande do Sul


Realizado de 14 a 16 de outubro de 2011

Local: cidade de Londrina no Paraná


Segue abaixo síntese da fala do:- Assessor das CEBs da Ampliada Nacional: Pe Benedito Ferraro- Assessor da Comissão do Laicato das CNBB – Setor CEBs: Sérgio Ricardo Coutinho

Meu abraço fraterno

Lucimar Moreira Bueno (LUCIA)
Coordenadora das CEBs na Província Eclesiástica de Maringá

Fala do Assessor Pe Benedito Ferraro

“Ceb’s o modo normal da Igreja ser...” Dom Pedro Casaldáliga


“Nada que é humano fica alheio ao coração do cristão da cristã”(Gaudium et Spes, 1).



1º ponto – O texto contido no Documento da CNBB, 92: “Mensagem ao povo de Deus sobre as comunidades eclesiais de base” é um contraponto a tudo o que acontece no mundo em relação ao individualismo e ao consumismo. A partir do Vaticano II e, sobretudo com a Encíclica de Paulo VI – Evangelii Nuntiandi – A Evangelização no Mundo Contemporâneo, se insiste que nossas comunidades eclesiais de base devem ser missionárias. Leonardo Boff já dizia, no 1º Sulão, em Registro-SP, em julho de 2003, que as CEBs deveriam ser comunidades eclesiais e ecológicas de base. Outra grande preocupação em relação à missão das CEBs está relacionada com o diálogo ecumênico e inter-religioso. Por isso, diante da pergunta do Ferraro: “Quem de nós tem parentes mais próximos em outra Igreja e religião? – a maioria se manifestou positivamente. Temos que buscar outra forma de nos relacionar com os parentes, pois a realidade de hoje nos coloca o budista vivendo ao nosso lado; o islâmico está do nosso lado, o jovem entra na internet e está em contato com o mundo pluralista, multicultural e inter-religioso, devido às migrações, casamentos entre várias etnias, mundo virtual.


2º ponto - Estamos num novo contexto latino americano e caribenho por causa dos governos populares da América latina. O Brasil, a Argentina, o Uruguai, o Paraguai (seria bom lembrar que o atual presidente do Paraguai foi Bispo da Igreja Católica. Outro dado novo é a presença da mulher na sociedade latino-americana: no Chile, no mandato anterior a presidenta era mulher; na Argentina a atual presidenta é mulher; e no Brasil, elegemos a primeira presidenta. Entretanto, a nossa igreja continua extremamente patriarcal-machista. Embora nossas comunidades eclesiais de base têm 70% de presença de mulheres, a relação de desigualdade ainda continua entre os homens e as mulheres. A mulher vai se tornando um novo sujeito social e tem que ir se tornando também um novo sujeito eclesial.

Hoje assistimos também a uma nova crise do capitalismo neoliberal. Presenciamos as dificuldades da Grécia, Itália, Espanha, Portugal. Notamos a Primavera Árabe que se iniciou com o suicídio de um jovem, que, na Tunísia, impedido de vender seus produtos transportados numa carriola, para poder. A “primavera Árabe” está nos Estados Unidos com o questionando por parte dos jovens do capitalismo financeiro.

Hoje, nos encontramos numa sociedade líquida, de amores líquidos, de sentimentos líquidos, sem firmeza, sem solidez nas relações. Na juventude o problema é de ficar, não se tem solidez. Os jovens estão sendo mortos, as crianças na rua, os idosos não estão sendo cuidados. Esta realidade demonstra a crise da família, da/s igreja/s e das instituições. A saúde está mal, pois o SUS não funciona, deveria ser bem melhor. Existe também uma crise dos partidos políticos. Tudo isso significa uma mudança na perspectiva do crer.É nesse contexto que as Cebs devem pensar sua atuação.


3º ponto - A sociedade de hoje exige outra forma de valores fundamentais. Estamos em uma sociedade que se define pelo consumo. A identidade da pessoa se dá não mais pela cédula de identidade, mas pelo cartão de crédito. Quem não tem cartão de crédito, não é ninguém! O consumo é marca fundamental das sociedades de hoje juntamente com o individualismo e o consumismo. Afirma-se que é preciso parar de consumir. Mas quem é que tem que parar? Na periferia tem que se consumir, pois não se tem o necessário para uma vida digna: moradia, saúde, saneamento básico, escolas, espaço para a cultura e diversão para os jovens. Quem consome demais é que tem que parar!

Na religião criou-se o turismo da alma, criou-se a manipulação do religioso em favor do consumo, como um supermercado de bens simbólicos. A revista Isto É, trouxe, em uma de suas entrevistas, os 7 pecados capitais da Igreja que apontam para a perda de sua identidade: entre estes pecados há o autoritarismo dos padres e bispos, a perda da identidade social da igreja por falta de profetismo, a falta de abertura para as mulheres em sua cidadania plena no interior da Igreja e o escândalo da pedofilia, não só no Brasil mas na Europa, criando uma séria na igreja.

Outra realidade é presente em nosso meio é a vivência subjetiva e emocional da fé: a fé dura enquanto dura a emoção, criando assim uma igreja de eventos. O desafio e o esforço que temos que realizar é a constituição de comunidades conseqüentes com a prática de Jesus de Nazaré. As comunidades devem retomar os laços primários, não dá para fazer comunidade numa paróquia de mil pessoas. Em nossos dias, a dimensão social do evangelho precisa ser revigorada. Esta dimensão social da fé, tantas vezes explicitadas pelos documentos de Medellín, Puebla, é reforçada pelo Papa Bento XVI, na sua Encíclica Deus é Amor, como também na sua outra Encíclica A Caridade na Verdade, e no seu discurso inaugural da Conferência de Aparecida, onde ele afirma que “a ordem justa da sociedade e do Estado é tarefa principal da política” (Aparecida, 385). Por isso, nossas comunidades eclesiais de base precisam continuar sendo são sementeiras de novas lideranças. Lideranças não só para a política partidária, mas para todas as lutas relacionadas com a plena cidadania. Neste ponto, seria importante que todas as nossas comunidades eclesiais de base discutissem o Documento 91 da CNBB: “Por uma reforma do Estado com participação democrática”. Nos dias 29 e 30 de outubro de 2011, vai haver o 8º. Encontro de Fé e Política: “Em busca da Sociedade do BEM VIVER”, onde encontraremos as militantes, que em sua maioria, saídos/as das comunidades eclesiais de base.

4º ponto - Tivemos uma mudança no Brasil: mais de 30 milhões de pessoas saíram da linha da pobreza. Estas pessoas vão exigir melhores condições de saúde, mais formação religiosa, aprofundamento da bíblia na história. Esta realidade nos aponta para a importância do tema do XIII Intereclesial das CEBs: Justiça e Profecia a Serviço da Vida. A justiça na Bíblia é um Dom de Deus que deve ser interiorizado pela pessoa e visibilizado na sociedade. Isto nos leva a assumir todos os problemas relacionados com a vida real das pessoas e seu relacionamento com a Mãe Natureza. Este é o sentido da ligação fé e vida. Tudo que o ser humano produz deve ser para o bem de todos e todas. No Brasil existem segundo os últimos dados do IBGE, 16 milhões de indigentes que vivem com 70,00 reais mensais. O mundo está cheio de alimentos, e há uma contradição enorme. Se não conseguirmos como classe trabalhadora definir estas quatro perguntas – “Para quem produzir? Para que produzir? O que produzir? Como produzir? – certamente não encontraremos o caminho de um futuro feliz para a humanidade e caminharemos para a “explosão” do nosso planeta, como nos alertam os cientistas.

Do ponto de vista religioso, não podemos dulcificar a cruz! A cruz é sinal de violência contra Jesus, contra o povo, a cruz. Por há tantos presos, crianças, adolescentes, jovens, idosos que não estão sendo bem cuidados? É exatamente por que estamos negando nossa vivência de Cristãos/ãs. Como pessoas, não respeitamos o outro. Do ponto de vista da sociedade pluricultural e com o pluralismo religioso, necessitamos retomar uma relação de maior carinho para com todas as pessoas que não têm a mesma fé nossa e que participam de outras religiões. Respeitar a liberdade religiosa, como já afirmava o Vaticano II, nos Documentos Nostra Aetate e Liberdade Religiosa, pois todos fazemos parte da mesma família humana.

Neste sentido, podemos retomar a questão da Justiça nos Profetas. O exegeta Milton Schwantes afirma que “a dor do profeta é o reinado”. Os profetas e profetisas estão sempre brigando contra os reis, assumindo as lutas dos camponeses. A profecia tem que ser concretizada. Por isso, não podemos deixar o Jesus da história de lado. Como os antigos profetas, Jesus assumiu também as dores e as lutas de seu povo. Neste sentido, ele deve ser nosso mestre e nosso modelo de vida. Sempre se pergunta: “De que lado estaria eu, se estivesse vivendo no tempo de Jesus?”. Os exegetas costumam responder que “Estaríamos do mesmo lado em que estamos hoje”!

Quando da Marcha Mundial das Mulheres, as mulheres que estavam na Marcha entre Campinas e São Paulo, afirmavam que há mulheres que atacam as próprias mulheres que estão lutando pela sua libertação. E muitas se dizem cristãs, que vão à missa, mas que não tem a mínima noção de seus direitos como mulher! As empregadas doméstica, hoje, estão reivindicando melhores condições de trabalho e de salário. No entanto, há muitas mulheres que as criticam. Neste sentido, é mulher contra mulher! Como poderíamos exercer a profecia hoje: “De que forma podemos ser profetas e profetisas hoje? Uma das formas é lutando pela cidadania... Devemos gerar lideranças na política partidária. Como afirma o Doc. 91 da CNBB: “Por uma reforma do Estado com participação popular”, temos que refundar o Estado e colocá-lo a serviço dos pobres. No Documento de Aparecida, especialmente nos nºs. 392-393, afirma-se que a opção pelos pobres está implícita na fé cristã. Esta afirmação retoma a defesa dos pobres presentes em todas as tradições religiosas e que está presente também na raiz da tradição judaico-cristãs: “Eu vi a aflição do povo, eu escutei o clamor do povo e desci para tirá-lo da terra da escravidão e levá-lo para a terra onde jorra leite e mel” (Êx 3,7-10). Ou como nos diz o próprio Jesus: “Tudo o que fizerdes ao menor dos meus irmãos, é a mim que o fazeis” (Mt 25,40). Bartolomeu de Las Casas, na época da Conquista, defende os indígenas e denuncia a guerra que se fazia contra os povos indígenas. Deste modo, a partir da vida dos profetas e profetisas, a partir de Jesus de Nazaré, a partir do profeta Bartolomeu de las Casas e de tantos outros e outras que lutam defendendo os pobres e excluídos, compreendemos que a Evangelização é a luta pela vida. Jesus veio ao mundo para que todos tenham vida e a tenham em abundância (cf. Jo 10,10). Devemos retomar a busca da terra sem males, que os índios já buscavam, a busca de uma sociedade sem classes, justa e fraterna, respeitadora da natureza, pois como já nos dizia o índio pele vermelha:” Ensina a teus filhos o que temos ensinado aos nossos: que a Terra é nossa mãe. Tudo o que fere a Terra, fere os filhos e filhas da Terra. Se os homens cospem no chão, cospem sobre eles mesmos”! Os povos indígenas estão sendo protagonistas da mudança, de uma nova sociedade (Boaventura Santos). Estamos entrando numa época popular, como nos afirma Milton Santos: os pobres vão fazer a mudança.



Fala do Assessor Sérgio Ricardo Coutinho

JUSTIÇA E PROFECIA
  • A Justiça social é uma das preocupações fundamentais dos profetas.
  • O famoso binômio “direito-justiça”, o mais usado pelos profetas, confirma que para eles é muito importante uma sociedade constituída na base dos direitos fundamentais.
  • De modo especial podemos lembrar o profeta Amós.
  • Este foi definido pelos exegetas como o “profeta da justiça” porque prega uma religião encarnada que possa fazer desabrochar justiça e direito.
  • A fé, para ele, deve traduzir-se em justiça social; a justiça social brota de uma relação perfeita com Deus.


Vejamos este trecho:

“Porque esmagam o fraco, cobrando dele imposto do trigo, eles poderão construir casas de pedras lavradas, mas nela jamais irão morar, poderão plantar vinhas de ótima qualidade, mas do seu vinho não beberão. Pois eu sei como são numerosos os seus crimes e graves os seus pecados: exploram o justo, aceitam subornos e enganam os necessitados no tribunal!” (Am 5, 11-12)

  • Os profetas estão preocupados, quanto à justiça, não pelo fato de que não se respeitam as leis, mas sobretudo porque se prejudica e se massacra a vida do outro.
  • Ou seja, a preocupação profética é com os impactos sociais que provoca o fato de se não respeitar a justiça.
  • Condena-se o ato de injustiça não porque se violou a lei, mas sim porque se prejudicou uma pessoa.


“Ai daqueles que, deitados na cama, ficam planejando a injustiça e tramando o mal! É só o dia amanhecer, já o executam, porque têm o poder em suas mãos. Cobiçam campos, e os roubam; querem uma casa, e a tomam. Assim oprimem ao homem e sua família, ao proprietário e à sua herança”. (Mq 2, 1-2)



JUSTIÇA E PROFECIA NO CAMPO
  • A realidade do campo com suas diversas realidades e desafios
  • Explorar um destes muitos desafios: política agrícola e agrotóxicos
  • Em 2008 o Brasil conquistou o título de campeão mundial no uso de agrotóxicos!!!
  • O elevado e alarmante consumo de agrotóxicos no Brasil é resultado de um conjunto de opções políticas adotadas aqui que remontam aos anos 1960.
  • Foi nesta época que se difundiu: monoculturas com sementes melhoradas, forte mecanização,adubação química e agrotóxicos.
  • Teve papel central neste processo a criação, em 1965, do Sistema Nacional de Crédito Rural;
  • Este vinculava a obtenção de crédito agrícola e a obrigatoriedade da compra de insumos químicos pelos agricultores;
  • Outro elemento neste processo: em 1975 do Programa Nacional de Defensivos Agrícolas;
  • Proporcionou recursos financeiros para a criação de empresas nacionais e a instalação de subsidiárias de empresas transnacionais de insumos agrícolas.
  • Outro elemento: as isenções fiscais e tributárias concedidas para o comércio de agrotóxicos.
  • 60% da alíquota de cobrança do ICMS a todos os agrotóxicos
  • Mais recentemente, a difusão das lavouras transgênicas no país também contribuiu para o crescimento deste mercado.
  • A soja transgênica tolerante à aplicação do herbicida glifosato representa mais da metade de todos os transgênicos plantados no mundo.Mais de 75% das lavouras transgênicas no Brasil são de soja da MONSANTO;
  • O consumo de glisofato no Brasil saltou de 57,6 mil ton. (2003) para 300 mil ton (2009) (dados da ANVISA)
  • Outra informação: o aumento recente da importação de agrotóxicos de países como a China;
  • Tentativa de fugir da proibição de certos produtos buscou-se em outros países;
  • Por fim: ineficiência da fiscalização pelos órgãos oficiais.
  • Não há possibilidade de uso de agrotóxicos sem a contaminação do meio no qual a lavoura se encontra.
  • Em média apenas a metade do que é pulverizado atinge o alvo (as plantas a serem “tratadas”).
  • O resto escorre para o solo, contaminando águas subterrâneas, ou segue pelo ar para contaminar outras áreas.
  • O Brasil vem investindo de maneira estratégica neste modelo de agricultura produtora de commodities para exportação;
  • Há interesses muito grandes envolvidos aí;
  • Há também uma reação muito forte capitaneada, sobretudo, pela bancada ruralista, que busca bloquear qualquer tipo de mudança que implique em restrições ao uso de venenos.
  • Por outro lado, há muita falta de informação por parte da população e mesmo dos agricultores.
  • Este assunto é considerado por muitos, demasiado técnico, difícil.
  • Daí ser importante a divulgação e a popularização do conhecimento a esse respeito.
  • Contrariando a tese de que dependeríamos dos agrotóxicos para alimentar uma população crescente, existem muitas experiências que mostram ao contrário...
  • Ou seja, é possível alcançar boas produtividades a baixíssimo custo através de sistemas ecológicos de produção.
  • São sistemas diversificados, de baixo impacto ambiental, capazes de produzir alimentos saudáveis e contribuir para a promoção da segurança alimentar e nutricional.
  • Os sistemas agroecológicos são adaptados à realidade da agricultura familiar..
  • E reforçam a proposta de outro modelo de desenvolvimento para o campo.


JUSTIÇA E PROFECIA NA CIDADE
  • A cidade também apresenta muitos desafios.
  • Queremos problematizar o seguinte: reforma urbana e direito à cidade.
  • Para quem não sabe existem também conflitos fundiários no mundo urbano!!
  • A verdade nua e crua é a seguinte: faltam 7 milhões de moradias no Brasil enquanto 5 milhões de moradias estão desocupadas.
  • Isto significa que milhões de brasileiros não têm onde morar ou moram em condições inadequadas.
  • A solução que muitos têm encontrado: a desobediência civil, ou seja, ocupar prédios e casas abandonados.
  • Mas as ocupações de prédios sem uso são vistas como crime.
  • Isso é contra a Constituição, pois ela define que, quando alguém ocupa para fins de moradia a ocupação é legalmente protegida.
  • Isto é o que chamamos de “função social da propriedade”.
  • Este é um princípio pelo qual toda propriedade privada deve ter uma destinação social, seja habitacional, ambiental, cultural e econômica.
  • Não se pode manter um imóvel vazio para especulação e valorização imobiliária!!
  • Toda ocupação de imóvel sem uso, seja público ou privado, urbano ou rural, é legítima porque atende o direito à moradia de quem não tem casa.
  • Muita gente não sabe: as prefeituras têm obrigação de definir quais áreas da cidade devem ser usadas para habitação popular, numa lei chamada de Plano Diretor.
  • Invariavelmente, as ocupações são combatidas pelos proprietários dos imóveis.
  • O proprietário entra na Justiça pedindo a reintegração de posse e aí vem o uso da força pelas forças de segurança pública.
  • Tudo para garantir o direito à propriedade de alguém que não usa seu imóvel.
  • Os despejos são, em sua maioria, efetivados com base em decisões judiciais fundamentadas em legislação nacional incompatível com os padrões internacionais de direitos humanos.
  • Para acabar com o drama dos despejos no Brasil, é necessário investir em moradia, mas de um modo diferente.
  • Não se trata de erguer mais prédios só para a classe média.
  • É preciso dar um uso a áreas e imóveis vazios, e penalizar os proprietários que não cumprem a função social da propriedade.
  • As áreas públicas devem ser destinadas sobretudo para moradia popular.
  • Carta de Recife (Seminário Nacional de Direitos Humanos e Prevenção contra despejos forçados, 2006) e seus Princípios:
  • O respeito a dignidade da pessoa humana;
  • O direito à terra e à moradia como um direito humano fundamental;
  • O cumprimento da função social da terra e da propriedade;
  • A prevalência dos direitos humanos sobre os direitos patrimoniais;
  • A relevância das necessidades reais das comunidades envolvidas (estado de necessidade social) nos conflitos fundiários;
  • O respeito e reconhecimento da cultura e dos territórios tradicionais e étnicos-raciais.


CEBs e:“PEQUENAS COMUNIDADES”IDENTIDADE E DIFERENÇAA questão da identidade das CEBs
  • O “ser” brota do “fazer”;
  • “A árvore se conhece pelos frutos”;
  • Toda a construção de identidades está intimamente vinculada com as ações, com as práticas;
  • O mesmo acontece com a Igreja: o “ser” da Igreja nasce do “fazer” da Igreja.
  • E isto também se aplica às nossas comunidades de base: o “ser” das CEBs brota do “fazer” das CEBs.

As novas DGAE (2011-2015) da CNBB
  • O problema que temos visto hoje é a tentativa de reunir todas as experiências comunitárias na Igreja e agrupá-las chamando-as por um único nome: “pequenas comunidades”.
  • Por isso, encontramos no §56 da 1ª versão das DGAE o seguinte: “A busca sincera por Jesus Cristo faz, então, surgir a correspondente busca por novas formas de vida comunitária, todas comumente chamadas de pequenas comunidades”.


Algumas questões sobre a identidade
  • Haveria alguma diferença entre uma “comunidade eclesial de base” e, por exemplo, o “Terço dos Homens”?
  • Uma “Nova Comunidade” é a mesma coisa que o “Apostolado da Oração” ou o “Grupo de Oração” na linha da Renovação Carismática Católica?
  • Um grupo de pessoas que se reúne na Capela para fazer a Novena de Natal é a mesma coisa que a comunidade reunida no domingo, na mesma Capela, para a Celebração da Palavra?
  • Mesmo que possuam carismas e serviços diferentes, todas elas são “pequenas comunidades”?
  • No § 96 da mesma 1ª versão das DGAE cita o nº 180 do Documento de Aparecida alargando o conceito de pequenas comunidades quando diz: “Junto com as CEBs, existem outras formas válidas de pequenas comunidades, e inclusive redes de comunidades, de movimentos, de grupos de vida, de oração e de reflexão da Palavra de Deus”.


Afinal, o que SÃO as CEBs ?

  • Não se pode confundir CEBs com “GRUPOS ECLESIAIS” (que seriam as tais “pequenas comunidades”);
  • As CEBs não são “pastorais”, nem “movimentos” e muito menos “grupos eclesiais”...
  • As CEBs são “estrutura de Igreja”;
  • Igreja “na base”; “células de estruturação eclesial” (Medellín 15, 10; DA 178).
  • “...É como um homem prudente que construiu sua casa sobre a rocha.” (Mt 7,24)


A Igreja é uma “casa”: a metáfora do GalpãoVisão sistêmica-estruturalistaLevar em conta a dinâmica histórica

AS DIFERENÇAS ENTRE COMUNIDADES E GRUPOS

1. permanente

1. transitório

2. Pluralista – diferentes gêneros, idades, culturas

2. Pode ser homogêneo, quanto à idade, gênero etc

3. Todos os elementos essenciais para ser Igreja

3. Específico (só para a catequese...)

4. Pode compor-se de grupos

4. É um só grupo... e não é comunidade

5. Reconhecimento como nível eclesial

5. Representa uma especialidade

6. Instância eclesial como a paróquia

6. Especializado e não é instância eclesial

7. Ação ligada ao ministro ordinário

7. Coordenação ligada ao secretariado do grupo ou movimento

8. Entrar na CEB é entrar na Igreja

8. Entrar em um grupo não significa entrar automaticamente na Igreja como tal

9. Todo o batizado deve pertencer a uma comunidade de base

9. O Batismo não é o rito de entrada em um movimento

10. A base da Igreja não pode desaparecer

10. Os membros de diferentes grupos e movimentos devem pertencer a uma CEB. Por causa do Batismo, a fidelidade última é à Igreja e não ao movimento.



A identidade das CEBs
  • Elas são Comunidades:
  • Como afirma o Doc. 92 da CNBB é na comunidade que se experimenta a sociabilidade básica das relações fundadas na reciprocidade e na gratuidade: “O cultivo da reciprocidade tem como espaço primeiro aquele onde a vizinhança territorial é importante para a vida cotidiana, como em áreas rurais, bairros de periferia e favelas. É a solidariedade entre vizinhos – melhor dizendo, entre vizinhas – que assegura o cuidado com crianças, idosos e doentes, por exemplo”.
  • São Eclesiais: porque lá estão presentes o elementos essenciais para uma comunidade ser considerada “Igreja”:
  • A Fé, o Anúncio, a Celebração, a Comunhão e a Missão;
  • São de Base:
  • Porque são formadas pela base social da Igreja, os batizados – homens, mulheres, crianças, idosos, negros, indígenas, pobres – enfim, o povo de Deus;
  • E também porque são a “base estruturante” da Igreja. Sem comunidade não há Igreja.


Como podemos identificar uma Comunidade de Base?

  • São os "5 C's das CEBs". São elementos que deveriam ser estruturantes:

a) No âmbito do Testemunho de Fé (martyria): a) Círculos Bíblicos ou Grupos de Reflexão Bíblica;
b) No âmbito do Anúncio (kerygma):
b) Catequese ou grupos de catequistas na comunidade;
c) No âmbito dos Sacramentos (leiturghia):
c) Celebração semanal da Palavra (com ou sem distribuição da Eucaristia) e equipe de liturgia (ministros do Batismo, da Eucaristia, da Palavra, autorizados do Matrimônio...);
d) No âmbito da Comunhão (koinonia):
d) Conselho Pastoral Comunitário e equipe de coordenação;
e) No âmbito da Missão-serviço (diakonia):
e) Compromisso sócio-transformador por meio das diversas pastorais sociais (da Terra, da Criança...) e das ações em favor dos mais pobres e excluídos (grupo dos Vicentinos, por exemplo).