Na vida pública, nos caminhos da Palestina, o Mestre pergunta a Pedro: "Tu me amas mais do que estes?" Diante desta pergunta o discípulo responde: "sim, eu te amo". Porém o Mestre insiste pela segunda e pela terceira vez. "Pedro, tu me amas mais do que estes?" Chateado ele responde: "Tu sabes tudo; tu sabes que te amo (Jo 21,16-18).
Por que o Mestre insiste em perguntar três vezes? Ele não queria saber, e sim ter certeza de que aquele que seria escolhido como cabeça do grupo, tivesse uma única qualidade: amar mais. Não precisava de mais nada.
Mesmo tendo traído no palácio de Pilatos, o que importava agora era ser capaz de amar, ou seja, dar tudo, até a própria vida.
Como distinguir este amor daquele que hoje circula, como por exemplo, no dia dos namorados, na discussão da união civil entre pessoas do mesmo sexo, nos casamentos em cartórios e nas igrejas, em que muitos juram amar por toda a vida?
O amor exigido pelo Mestre ao discípulo Pedro tem o mesmo sentido que hoje circula em nosso convívio social e até religioso? Como tudo seria diferente se hoje prevalecesse a mesma conotação que o Senhor desafiou o Apóstolo.
Como seria diferente as relações de amizade e de compromisso em amar para sempre se o amor fosse carregado de AMOR. Como seria diferente a vida social e religiosa se o amor fosse, de fato, um mandamento da Lei de Deus e não parte dos caprichos meramente humanos.
Um coração que ama mais sabe que os limites humanos não são empecilhos, que os afetos originais de cada homem e mulher fazem parte das relações do cotidiano e sustentam a disposição de amar mais, assumindo o compromisso de dar a vida, além do simples prazer. O "amar mais" vai além dos defeitos pessoais, vai além do querer tirar vantagem, vai além das carências afetivas, vai além dos preconceitos.
O "amar mais" nos leva mergulhar no texto de Paulo e dizer: O amor tudo crê, tudo suporta, tudo espera. O amor é paciente, o amor é compassivo; não é invejoso, não se ostenta, não se incha de orgulho. Não se alegra com a injustiça, mas regozija com a verdade. Ainda que eu falasse todas as línguas, as dos homens e as dos anjos, se eu não tivesse o amor, seria como o sino ruidoso... (1Cor. 13,1-13).
O ser humano está sedento de corações que saibam amar e amar mais. Milhares de famílias destruídas porque não foram capazes de ir mais além, de olhar mais alto, de buscar mais ajuda, de orar mais do que os rituais da própria fé.
Milhares de jovens queimados pelos vícios e costumes da vida social, matando-se aos poucos, destruindo os ideais, perdendo o gosto de viver porque foram incapazes de olhar para si próprios e reconhecer ali um ser capaz de "amar mais", além de ser digno de receber amor.
Milhares de crianças estão nos orfanatos e casas lar, curtindo sonhos e frustrações, porque alguém não foi capaz de "amar mais". Milhares de homens e mulheres nos asilos ou casas dia, recebendo o conforto de pessoas contratadas porque alguém rompeu com o contrato de honrar pai e mãe e "amar mais" mesmo quando as consequências da velhice parecem pesar. Com certeza o mundo será diferente se cada coração humano souber "amar mais".
Dom Anuar Battisti
Arcebispo de Maringá
Lucimar Moreira Bueno(Lucia) - www.lucimarbueno.blogspot.com