A reportagem é de Amanda Breuer, publicada no sítio Le Monde des Religions, 16-03-2011. A tradução é de Moisés Sbardelotto.
Mas esse livrinho não se limite a constatar e a denunciar. Ele também propõe. A primeira medida apresentada: um reforço da corresponsabilidade, notavelmente entre as empresas, os políticos, a mídia e a sociedade civil, mas também a criação de uma instância supranacional subsidiária, que esteja ao serviço do interesse geral.
O autor do relatório, o arcebispo de Rouen, Dom Jean-Charles Descubes, explica: "As organizações internacionais do pós-guerra precisam de uma 'transcendência' a fim de permitir um certo destaque. Uma organização política gerida unicamente por políticos pode derivar ao totalitarismo. Da mesma forma, uma organização econômica, quando é regulamentada apenas por meios econômicos, pode tornar-se perigosa".
No plano econômico, a obra defende uma regulação ética das empresas e do mercado. Os bispos desejam que os códigos de boa conduta tornem-se obrigatórios para que não se penalize as sociedades que os aplicam. Moralizar as empresas consistiria em levá-las a estabelecer uma justiça social em seu interior, a contribuir ao desenvolvimento socioeconômico local, a realizar políticas de gestão dos danos diretos e colaterais ao ambiente natural e humana, a lutar contra os conflitos de interesse e a corrupção, a se recusar a ser cúmplice das violações dos direitos humanos em sua esfera de influência.
Mas os bispos gostariam de ir além com relação ao setor bancário e financeiro: obrigá-los aos crédito responsável, a proporcionar exigências de controle aos riscos corridos pela coletividade, a assegurar a transparência dos ganhos com relação ao fisco e a reduzir o recurso à evasão fiscal: essas são algumas das exigências manifestadas. Embora Grandir dans la Crise critique os excessos das altas finanças, ele não a trata como bode expiatório: "As finanças são essenciais para a economia. Queremos somente colocar o homem entre as duas", resume o arcebispo de Rouen.
Politicamente, uma instância supranacional deveria ser capaz, segundo os próprios bispos, de impedir que certos países privilegiem seus interesses específicos com relação aos de toda a humanidade. Mas eles desconfiam também, e justamente, do populismo ainda muito vivo na Europa: "Não basta condenar as ideologias que especulam sobre os medos que a mundialização suscita, sobre o aumento da diversidade cultural ou religiosa tanto dentro do nosso país como em muitos outros países europeus".
Esses medos são alimentados, a seu ver, por uma negligência das exigências fundamentais próprias da ordem política democrática, por uma injustiça social flagrante, pela falta de equidade na redistribuição das riquezas, pela evasão fiscal ou por certas formas de discriminação.
Face a esses desvios, a Conferência se dirige também à mídia. Ela deplora uma corrida aos índices de audiência e à rentabilidade, a despeito da formação de uma consciência cidadã e da abertura da palavra para todos. Diante do "triunfo do tempo real" e do politicamente correto, os bispos apelam para que haja um retorno à reflexão dentro da mídia. Eles aprovam, porém, o desenvolvimento da blogosfera, portadora "de um pluralismo de opiniões e que permite um intercâmbio bilateral".
Enfim, a participação cidadã (por meio de associações, ONGs ou pela assunção de responsabilidades políticas) seria, a seu ver, a pedra angular de um melhor "viver juntos". Eles lembram a necessidade de cumprir seus deveres de cidadãos, particularmente o de votar, pois, "se o cidadão não é vigilante, o poder será confiscado pelos interesses privados", mas também de pagar os impostos, "que permitem que o Estado e as coletividades locais estejam ao serviço do bem de todos".
Por fim, a obra defende um humanismo cristão tolerante face ao crescimento dos extremismos políticos. A Conferência dos Bispos da França assina um "Indignai-vos!" cristão [referência ao livro-manifesto Indignez-vous!, de Stéphane Hessel].
Lucimar Moreira Bueno(Lucia) - www.lucimarbueno.blogspot.com