Lucimar Moreira Bueno(Lucia) - www.lucimarbueno.blogspot.com

quinta-feira, 13 de janeiro de 2011

Aposentado morre após espera por vaga



Irmã e esposa de Raimundo seguram a fotos dele; família está revoltada

A família de Raimundo Teodoro Gomes Filho, 63 anos, está inconformada com a morte dele, ocorrida no Hospital Metropolitano de Sarandi, na última segunda-feira. O aposentado pode ter sido vítima da demora para se obter uma vaga nos hospitais de Maringá e região para a realização de cirurgia.

O aposentado, que sofria de diabete, só conseguiu fazer a amputação de uma das pernas depois de ficar quase 20 dias internado. Muito debilitado, não resistiu e morreu. A família acredita que a morte poderia ser evitada se a cirurgia tivesse sido mais rápida.

Segundo a irmã do paciente, Eunice Teodoro dos Santos, o aposentado foi internado no dia 15 de dezembro no Hospital Municipal. "Ele já tinha amputado uma parte do pé por causa das complicações da diabete, mas estava bem", afirma.

Na véspera do Natal, o paciente foi transferido para o Hospital Santa Rita com o objetivo de amputar a perna, também comprometida pela doença.

"Ali meu irmão já ficou em uma maca aguardando no corredor, antes de ser mandado de volta ao Hospital Municipal". De acordo com Eunice, o hospital não aceitou internar o paciente, alegando falta de vaga.

De volta à ambulância, Raimundo ainda teria percorrido vários locais, inclusive para deixar outros pacientes em hospitais. "No Municipal não queriam aceitar meu irmão de volta. Ficamos nesse jogo, sem solução, até que saiu a vaga em Sarandi."

Encaminhado para o Hospital Metropolitano no dia 3 de janeiro pela Central de Regulação de Leitos, o paciente foi operado no dia 7 e veio a óbito na madrugada de 10 de janeiro. "Acho que houve negligência por parte dos hospitais que não queriam atender meu irmão. Ele estava bem e foi piorando depois de internado. Pediam papel o tempo todo, não queriam aceitar a internação. Papel era o de menos para nós. Depois a gente corria atrás se precisasse", revolta-se a irmã. O aposentado era o mais velho de uma família de 11 irmãos. Ele deixou esposa e dois filhos.

Explicações
O chefe da Unidade de Regulação de Leitos Macronoroeste – Maringá, Adelson Gonçalves dos Santos, só recebeu a solicitação de transferência no dia 3 e não considera que o paciente tenha morrido na fila de espera.

"Tivermos a solicitação de transferência do paciente e conseguimos fazer a remoção para o Metropolitano no mesmo dia. O óbito só aconteceu no dia 10, depois da cirurgia.

Ele estava sendo atendido."

Santos ressaltou as dificuldades para disponibilizar leitos em função da grande demanda de pacientes que necessitam dos atendimentos nos hospitais de referência da cidade.
"Tem dia que temos cinco pacientes precisando de UTI. Outros dias, 25. Tem dia que temos cinco leitos disponíveis. Outros dias 15 ou nenhum. Trabalhamos com a disponibilização de leitos. A Unidade Reguladora não fabrica leitos. Ou tem ou não tem vaga".

Hoje, o número de leitos disponíveis pelo Sistema Único de Saúde (SUS) em Maringá é de 769. De acordo com a responsável pela direção da 15ª Regional de Saúde, Lúcia Toshico Shinazaki, o déficit hoje em Maringá é de 120 leitos. "A procura é muito grande, mas o número de leitos de UTI não é suficiente."

O Conselho Municipal de Saúde informou que se houver denúncia no caso do aposentado, o assunto será encaminhado para a Comissão de Assistência, que vai apurar o fato. A avaliação final é discutida em reunião mensal do conselho.

Hospitais dão suas versões sobre a morte de aposentado

De acordo com o assessor técnico do Hospital Santa Rita, Alvo Orlando Vizzotto Junior, o aposentado Raimundo Teodoro Gomes Filho, morto na segunda-feira (10) após 20 dias esperando por uma cirurgia para amputar uma perna, teria sido encaminhado ao hospital no dia 29 de dezembro sem contato prévio da Central de Leitos da Secretaria Municipal de Saúde, o que foge à regra de sistemática de distribuição de pacientes.

"Ele chegou ao pronto-socorro e retornou à origem, não permaneceu no Santa Rita", afirma o assessor técnico. "O paciente não ficou no corredor."

A solicitação de transferência para cirurgias a serem realizadas pelo hospital, segundo o assessor técnico, passa pela central de leitos, por meio de um relatório aos médicos da área e à direção técnica para avaliação, para depois receber a autorização.

"No dia 3 de janeiro, quando comunicamos à central que a vaga para cirurgia no Santa Rita foi autorizada pelo processo formal adequado, fomos informados de que o paciente havia sido encaminhado ao hospital metropolitano", afirma Vizzotto Junior.

Segundo a assessoria de imprensa da Prefeitura, o Hospital Municipal não faz cirurgia de amputação, mas encaminha os pacientes para os estabelecimentos cadastrados que fazem o procedimento. O hospital também nega os maus-tratos ao paciente.

Já o Hospital Metropolitano informa que tudo que estava ao alcance foi realizado, mas Gomes teria chegado à instituição muito debilitado.