IHU On-Line - No primeiro turno, alguns bispos aconselharam a sociedade a não votar na candidata do PT, Dilma Rousseff. Qual a postura da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil - CNBB nessa questão?
Luiz Demétrio Valentini - Esse é um assunto sério e merece muita atenção. Penso que a credibilidade da CNBB Está sendo colocada
Outra falácia mais séria e difícil de ser compreendida foi o fato de lançar a condição de abortistas a todos aqueles que propõem políticas sociais que levem em conta a situação do aborto para melhorar a legislação e as providências para favorecer a vida e evitar situações de aborto. Foi montada uma acusação, a qual foi vinculada o voto dizendo que quem é católico não pode votar em quem é abortista . Quem disse que determinada pessoa é abortista? O próprio acusador se vê no direito de estabelecer alguém como abortista, sem levar em conta as ponderações que ele faz.
Luiz Demétrio Valentini - Enviei um apelo à CNBB. Estou aguardando um pronunciamento da presidência da CNBB. Fiz questão de ressaltar a Dom Geraldo Lyrio Rocha, presidente da CNBB, que se fazia necessária uma clara tomada de decisão da presidência, esclarecendo que ela não tem posição partidária, não tem restrições a nenhum dos dois candidatos, de modo que se torna urgente enfatizar a posição de neutralidade em termos de opções partidárias e eleitorais. Espero que esse pronunciamento seja feito ainda hoje (6-10-2010) e coloque com muita evidência que a posição da presidência do Regional Sul I da CNBB foi fruto de um equívoco, que, me parece, deveria ser esclarecido pelos próprios autores que elaboraram a declaração.
IHU On-Line - Como percebe o posicionamento de Dilma em relação ao aborto? Ela está tratando o tema de maneira diferente no segundo turno?
Luiz Demétrio Valentini - Penso que ela demorou a se dar conta da gravidade das acusações que eram feitas contra ela e da complexidade do assunto. Percebo que ela tem convicção de que o aborto é um problema de saúde e que não se reduz a isso. Então, deveria ter manifestado de maneira mais enfática o reconhecimento da defesa da vida desde a sua fecundação, como a Igreja afirma. Ela precisava perceber melhor a causa que está
IHU On-Line - O que diferencia o posicionamento de Dilma e Serra em relação ao aborto?
Luiz Demétrio Valentini - Serra, como Ministro da Saúde, referendou medidas concretas de prática do aborto. De modo que, aqueles que de maneira tão enfática acusam a Dilma de abortista, deveriam se dar conta de que o outro candidato também teve um posicionamento, o qual pode ser, de acordo com o rigor dos acusadores, acusado de abortista.
Luiz Demétrio Valentini - Não é mais a grande imprensa que conduz o processo político. Alguns jornais armaram um esquema de denúncias para inviabilizar uma candidatura, de modo que tentaram, mas obtiveram resultados. Não foi por obra da grande imprensa que a candidatura Dilma diminuiu seu percentual. Dá para sentir que o povo brasileiro começa a formar a sua opinião a partir de fatos próximos e concretos que ele vivência. Quem está a favor da vida? Não são os que gritam contra o aborto e, sim, os que implementam políticas sociais que acabam beneficiando e trazendo mais dignidade para a vida das pessoas. Em termos econômicos, sociais e culturais, o povo está aprendendo a discernir a partir das realidades que ele percebe. Esse é um fato promissor.
Independente do resultado dessas eleições, penso que está indicado um trabalho de cidadania promissor: incentivar o povo a formar a sua opinião a partir, não do que dizem os grandes jornais, mas, a partir de experiências concretas que o povo experimenta e o onde ele se sente sujeito e, não mais, objeto de manobra política.
Luiz Demétrio Valentini - Sem dúvida esse caso ainda conseguiu influenciar a candidatura de Dilma, sobretudo, a partir de situações concretas, visuais. Evidente, o jornal que denunciou tinha "boas intenções" e queria desestabilizar uma candidatura. A grande imprensa ainda é atora. Não sou contra a imprensa, pelo contrário, quanto mais se difunde a possibilidade de comunicação, mais ela está ao alcance da participação popular. A grande imprensa ainda tem a sua parcela de influência, mas não é mais a mesma que forma a opinião pública
Luiz Demétrio Valentini - São instrumentos importantes e indispensáveis, contanto que sejam feitos sem tendências. Foi clara a tentativa de, ao longo do processo eleitoral, apresentar estatísticas que favoreciam mais um candidato do que outro. Houve tentativa de distorcer o resultado das pesquisas, ainda mais quando há institutos de pesquisas que estão comprometidos com uma posição eleitoral.
Luiz Demétrio Valentini - Penso que a presença da internet é um fator que não estava na contabilidade de ninguém, mas que está emergindo e traz sérias preocupações. Somente o exercício esclarecido da cidadania pode enfrentar os problemas suscitados por esse novo meio de comunicação que possibilita difundir largamente denúncias injustas. Não se trata de coibir, mas de neutralizar a informação com a apresentação de conteúdos verdadeiros, mostrando e desautorizando quem difunde inverdades, posições inventadas e acusações gratuitas.
Luiz Demétrio Valentini - Questiono firmemente a tentativa de manipular o outro. O voto é um instrumento melhor, um aprimoramento democrático, quando o eleitor percebe que são eleitos aqueles indicados pelo voto. Por isso, toda a legislação deve fortalecer a liberdade do voto. De modo que, a prática democrática do voto é o melhor instrumento que temos. Precisamos batalhar para que as campanhas sejam oportunidade de esclarecimento da consciência dos eleitores. A batalha pelo voto é a grande batalha pela democracia