Lucimar Moreira Bueno(Lucia) - www.lucimarbueno.blogspot.com

quarta-feira, 26 de maio de 2010

O padre encarcerado e algemado

Nossa gratidão por tantas manifestações de solidariedade, de oração e de compaixão para com o Pe. Silvio Andrei, seus familiares e nossos padres palotinos. Maior gratidão ainda por tantas manifestações de repúdio pelo modo com que o padre foi tratado, preso, fotografado, algemado, humilhado. Esta imoralidade foi bem maior que a do padre.

A Igreja, de novo, pede perdão pelas fraquezas e incoerências de seus filhos. O que não podemos admitir é que estes fatos sirvam de ocasião para vinganças e perseguições religiosas. Se alguém pretendeu prejudicar a Igreja acabou por denegrir nossos policiais, nosso sistema carcerário e também toda a nossa região. Grande parte do povo ficou do lado do padre, sem inocentá-lo, mas, com indignação frente ao acontecido.

O caso desencadeou uma série de erros e interrogações. Os direitos humanos foram desrespeitados e mais uma vez percebemos abusos e maldade no meio de quem deveria praticar a justiça e zelar pela dignidade humana, pois ninguém é culpado antes de ser condenado. Quem erra deve ser respeitado como pessoa. Estamos diante de um caso de abuso de poder.

O tratamento humilhante e desumano pelo qual passou o padre trouxe à nossa memória as violações da lei e da justiça que acontecem nas prisões, as quais têm a obrigação de reeducar e recuperar os que erram.

Nem conhecidos criminosos foram tão maltratados, desrespeitados e humilhados como o padre Silvio. A crueldade e a levianidade com que foi tratado revela o quanto estamos longe da verdade e do bem. A violência e a falta de ética está também entre os que deveriam ser guardas e defensores do direito e da justiça.

Não queremos justificar o padre, queremos sim que as pessoas sejam respeitadas, mesmo estando erradas.

Que o caso seja investigado pelos órgãos competentes. Que não haja impunidade na apuração dos fatos. A corda sempre arrebenta pelo lado dos mais fracos.

Neste caso o lado mais fraco é o do padre. Nossas autoridades haverão de punir todos os que extrapolaram a lei e os direitos da pessoa. Que vença a verdade.

Se o padre desacatou a autoridade vai responder por isso. Todavia toda a sociedade é que foi desacatada pelo que viu. Se o padre errou por atitudes obscenas, maior obscenidade foi tê-lo algemado seminu e divulgado as imagens.

A missão da mídia é informar e formar. No caso do padre Silvio, porém, houve extrapolação e exploração. As emissoras faziam questão de exibir repetidamente as imagens. Ninguém é contra a divulgação dos fatos e a informação da sociedade. O que não podemos concordar é com o espetáculo a que são expostas as pessoas. Há males que vêm para o bem. A divulgação exagerada do fato acabou em solidariedade para com o réu. O sensacionalismo não é bom, porque é interesseiro e nesse caso foi maldoso.

Algumas imagens e fotos exibidas pela mídia foram montadas, mostrando o padre preso e algemado com outras imagens dele revestido de batina ou perto de altares e imagens sagradas. Não podemos ter olhar só de urubus, mas principalmente de garimpeiros. Onde o urubu só encontra sujeira, o garimpeiro encontra pérolas preciosas. Algumas emissoras extrapolaram sua missão.

Uma árvore que cai, faz mais barulho que toda uma floresta que cresce silenciosa. Cair é humano. Todos somos de barro e o divino oleiro sempre nos refaz. Um erro na vida não pode anular o lado bom, construtivo e saudável de uma pessoa. Acreditamos na recuperação das pessoas. Ninguém desanime de recomeçar. A Igreja apesar dos pecados de seus filhos não deixa de ser santa.

Em nome da justiça queremos dizer ainda que temos bons policiais, gente que coloca sua vida a serviço de outras vidas. Este discernimento é necessário fazer.

A sociedade precisa de segurança e de bons anjos que zelem por ela. Não pretendemos nos vingar de ninguém. O que esperamos é que a justiça e a ética possam prevalecer e que a lei e os direitos humanos sejam respeitados. Mais uma vez peço a todos o perdão pelas fraquezas e incoerências dos filhos da Igreja.

Dom Orlando Brandes
arcebispo de Londrina