Lucimar Moreira Bueno(Lucia) - www.lucimarbueno.blogspot.com

quarta-feira, 12 de maio de 2010

Detentos do IPPOO no Ceará se graduarão em Teologia neste semestre

Quatro detentos do Instituto Penal Professor Olavo Oliveira II (IPPOO II), no Ceará, se graduarão, neste ano, como "Bacharéis em Teologia". O resultado é fruto da concretização do projeto "Uma alternativa para a reintegração social", promovido pela Pastoral Carcerária da Arquidiocese de Fortaleza e pela Faculdade Católica do Ceará.

A proposta surgiu em 2006 para atender a demanda de um detento e para promover uma tentativa de ressocialização dos presos na sociedade. Após contato entre as organizações, direção do presídio e a Secretaria de Segurança Pública do Estado, a Faculdade Católica, que na época era o Instituto de Ciências da Religião (ICRE), em parceria com a Pastoral Carcerária, conseguiram colocar a ideia em prática.

No início, lembrou o padre Luís Sartorel, diretor financeiro da faculdade, foi difícil ministrar as aulas, porque os alunos tiveram permissão para prestar o vestibular e também freqüentar as aulas na faculdade, porém, o transtorno da escolta policial e das algemas fez com que a faculdade tivesse que pensar em uma alternativa. E, depois de toda articulação foi possível levar os professores até o presídio.

A partir de então ficou decidido que os alunos cursariam os dois primeiros anos dentro do presídio, e, nos semestres restantes, eles conseguiram assistir aulas na própria faculdade, em regime de liberdade assistida. Dos seis detentos que prestaram vestibular, quatro estão prestes a concluir o curso, sendo que três deles colarão grau já neste primeiro semestre, e um no final do ano.

Padre Satorel afirma que os alunos-detentos se tornaram pessoas mais confiantes na sociedade e se abriram ao diálogo. "É um dos poucos casos em que os presos se sentiram tratados como gente. No projeto, também fazemos trabalho com as famílias", informou.

Para o padre, essa experiência é única no país. "Pelo que eu saiba, nós somos a primeira faculdade do Brasil que conseguiu entrar num presídio oferecendo um curso de nível superior para os presos", informou. "Se nos presídios, ao invés do clima de medo tivesse a possibilidade de estudar e aprender uma profissão, poderíamos resgatar muita gente. Hoje, os presídios são escolas de criminalidade", criticou.

Sobre a proposta do projeto, a ressocialização, padre Sartorel disse que os alunos aprofundaram a reflexão sobre o assunto. Um deles está até escrevendo sua monografia sobre o tema, refletindo sobre o papel de Deus na reintegração social do detento. "É muito bonito ver como essas pessoas conseguiram tirar de dentro de si uma sementinha que o presídio não conseguiu arrancar", refletiu o religioso.

Atualmente, o projeto "Uma alternativa para a reintegração social" é financiado pela Conferência Episcopal Italiana. Mas, de acordo com padre Sartorel, não existe a intenção de se continuar dependendo de financiamento vindo do exterior. Por isso é que, há dois anos, os coordenadores da iniciativa pedem ao governo do estado do Ceará, através da Secretaria de Justiça do Estado, que financie o projeto. "O governo só promete há dois anos e até agora não deu nenhuma posição definitiva", afirmou.

Caso não tenha financiamento que permita a continuidade do projeto social, os mais de vinte presos que estão aguardando novas vagas, não poderão aproveitar essa oportunidade de estudar e ter uma profissão.