Lucimar Moreira Bueno(Lucia) - www.lucimarbueno.blogspot.com

quinta-feira, 18 de março de 2010

Homem das dores e as dores da humanidade

Por Dom Anuar Battisti

Neste tempo de preparação para a Páscoa, em que nos propomos intensificar a oração, o jejum, a penitência e a solidariedade, o sinal principal que nos acompanha é a cruz, sinal de sacrifício, sofrimento, morte e de ressurreição. Cruz que significa compromisso, trabalho, fidelidade, amor, perdão, vida nova.

Tanto a dor como o amor nascem da cruz. No caminho da paixão, o homem das dores, carregou mesmo caindo três vezes, as dores de cada um de nós, redimindo para sempre todos aqueles que nele crer. A Redenção já aconteceu, porém a paixão, a dor o sofrimento continuam pois, Deus não abandonou aqueles que Ele salvou. Como diz o Apóstolo Paulo, “complete em mim o que falta à paixão de Cristo”.

O Senhor Jesus, Salvador e Redentor continua carregando a dor dos pais que perdem os filhos prematuramente ou nas drogas da vida vivida sem vida. A dor continua nos casais e filhos que perderam o sentido de família. A dor continua na multidão de famintos e excluídos do direito de viver com dignidade. A dor continua nas pessoas que cometidas por enfermidades incuráveis, não resta senão o milagre.

A dor do Homem das dores continua nas vítimas criadas pelo capitalismo selvagem privilegiando poucos e maltratando a maioria. A dor continua nos desempregados que lutam por ganhar o pão com o suor do próprio rosto. A dor continua nos milhares de analfabetos que sem querer não participam do saber.

A dor continua nos milhares de sem terra, sem teto, sem educação, sem direito de ser gente com e como a gente. A dor das incontáveis vítimas das catástrofes naturais, como o povo haitiano e chileno.. O sinal visível do Deus, de Jesus Cristo acompanhando a dor dos seus filhos, foi o crucificado intacto no meio dos escombros do terremoto. Imagem impressionante da presença de Deus na dor daquele povo. A dor continua na sociedade corrupta e injusta que perdeu o sentido da justiça e da solidariedade

O Homem das dores carrega ainda hoje em nós, a dor dos pecados pessoais e sociais da humanidade. Carrega a dor dos pecados dos homens enviados para dirigir a sociedade e a Igreja. A dor da indignação diante dos escândalos dos desvios sexuais de todo tipo, em todas as classes sociais, dor que clama aos céus. Escândalos que “seria melhor amarrar uma pedra de moinho e lançar-se ao mar”.

Mesmo assim, a dor doída, machucada por dentro, faz parte da atualização da paixão do homem das dores que ama apaixonadamente cada ser humano. Acredito que somente passando pelo fogo da dor, se chega ao incêndio do amor.

Sem abraçar essas cruzes não encontramos sentido de viver, a morte física, psicológica e espiritual chega antes da hora. O grito naquela noite de agonia e tristeza não podia ser outro: “Meu Deus, meu Deus porque me abandonaste”.(Salmo 22 (21)) A sensação mais sentida é de abandono, sentimento humano demais, para sentir a presença do amor de Deus.

Neste caminho humano, de gente humana com todos os limites humanos, é bom lembrar, “ maldito o homem que confia no homem”.(Jeremias 17,5) A nossa confiança total e absoluta, está em Deus, jamais nos decepcionará. Como o livro do Eclesiastes nos garante: “Tudo é vaidade das vaidades, tudo passa só Deus permanece”(Eclesiastes 1,2) Assim desejamos continuar o caminho, sem jamais duvidar da presença amorosa do Pai Deus, que nos amou por primeiro e nos faz capazes de amar. Neste sentido, encontramos um novo jeito de viver a quaresma e, fazer da Páscoa, não um momento e sim, um permanente recomeçar carregando as dores de cada dia com o Homem das dores.

Dom Anuar Battisti é arcebispo metropolitano de Maringá