Lucimar Moreira Bueno(Lucia) - www.lucimarbueno.blogspot.com

quinta-feira, 4 de fevereiro de 2010

A Originalidade da Mística das CEBs

Cada caminhada dentro da igreja tem a mística dela. As várias congregações dos religiosos e religiosas, por exemplo, tem espiritualidade própria – os jesuítas, os capuchinhos,os dominicanos e assim as congregações femininas.

E assim acontece com os movimentos leigos: cada um tem um carisma particular – o apostolado de oração como o nome mostra enfatiza a necessidade de rezar, o JOC que se preocupa ou preocupava mais com o mundo do trabalho, o Cursilho que se preocupa com a formação das lideranças nos vários ambientes da sociedade, a RCC que procurou redescobrir a presença do Espírito Santo e dos carismas que Ele derrama sobre nós dentro da igreja, para citar alguns exemplos: cada um tem a especificidade própria.

A originalidade da Mística das Cebs.

Antes de discutir qualquer coisa sobre a caminhada das CEBS – estrutura, funcionamento o algo semelhante, - devemos sempre frisar e lembrar que a caminhada das Cebs tem a mística dela que tem raízes bíblicas, que é fruto de uma reflexão profunda que a Igreja na América Latina como um todo fez – e não um simples individuo - respondendo aos anseios do Vaticano II, e conseguiu desenvolver uma eclesiologia que reflita a definição conciliar da Igreja como Povo de Deus (Lúmen Gentium) de um lado e á luz do documento conciliar Gaudium et Spes, uma igreja preocupada com a vida das multidões sofridas, culminando no documento da Puebla na opção preferencial e evangélica pelos pobres. Esta opção na época como hoje, assustou a humanidade dentro e fora da igreja no modo que criou uma discussão e um debate que dura até hoje!


Para a mística das CEBs Jesus não é uma “Grife” “Jesus Ti Salva” e outros gritos que certas “igrejas” gostam em usar, mas sim Jesus que leva á um conjunto de valores, a um senso de compromisso, aceitando a vida como uma missão!

Ninguém pode acusar a igreja das CEBs com mercantilismo, ao contrário se hoje como hoje temos mártires por causa do testemunho dado, você vai encontrar mais em ambientes dentro ou fora da igreja – e e´ isto que e´ bonito – onde esta mística deixou o fruto dela.


Esta Caminhada deu a Igreja:


(1) o modelo da igreja-comunidade baseada sobre a revelação de Deus Trino que se revelou como uma pequena Comunidade, Pai, Filho e Espírito Santo e tomando como exemplo concreto as origens da Igreja como revelada nos Atos de Apóstolos;

(2) a leitura orante da bíblia sem fundamentalismo que desvirtua tudo;

(3) contribuiu para o desenvolvimento do sentido social da Palavra á luz da situação dos povos da América Latina culminando, como já foi dito na opção preferencial pelos pobres, através a qual ela convidou ricos ou pobres para julgar o mundo na ótica do sofrimento das multidões;

(4) fruto dessa conversão vários cristãos – ricos e pobres, - no campo e na cidade se dedicaram para a reforma agrária criando a pastoral da terra (CPT) criando em seguida a Romaria da Terra e até um movimento social; se envolveram no mundo sindical para liberar os operários do sindicado pelego, e até ajudaram a plantar uma alternativa política ao país para livrar as massas dos partidos do aluguel;

(5) desenvolveram as várias pastorais dando uma vitalidade inédita para a vida da igreja nas paróquias começando pela liturgia eucarística encarnada na vida cotidiana do povo, produzindo cantos litúrgicos com textos inspirados da vida do Povo de Deus, dos Profetas, dos Salmos e claro da vida própria de Jesus - neste sentido nomes como do Padre Zezinho e Zé Vicente vem logo na cabeça de cada um de nós;

(6) respeitou as devoções populares da Nossa Senhora, mas no mesmo momento nos ajudou redescobrir a Nossa Senhora do Magnificat, que estava sendo deixada ao lado;

(7) desenvolveu a catequese permanente que passa pelas crianças, adolescentes, jovens e adultos, deixando de ser uma catequese puramente doutrinal, mas que se preocupa também com a formação integral da pessoa;

(8) solucionou o problema da sobrevivência da mesma igreja redescobrindo o valor bíblico do dízimo e tirando as paróquias da dependência de doações espúrias dos políticos ou de donos que oprimem – uma verdadeira revolução;

(9) criou a Novena do Natal nas famílias, e a Campanha da Fraternidade durante a Quaresma que muito ajudou o povo durante todos estes anos para fazer um elo entre o sofrimento de Jesus e o sofrimento das massas sofridas – duas devoções até então inéditas na vida da igreja! E em fim

(10) introduziu Celebrações Inter-Eclesiais, só nível estadual e nacional, praticando o ecumenismo, respeitando as diversas culturas que façam parte da nossa realidade encorajando o dialogo continuado e cobrando respeito ao meio ambiente. (Ás vezes eu penso, que se Marx tivesse conhecido está Igreja no tempo dele, ele nunca ia dizer “que a religião e ópio do povo!)” .

Trinta anos ou mais passaram desde está caminhada profética começou na América Latina, no Brasil e inclusive na nossa diocese. Trinta anos é muito tempo no mundo de hoje.

Então, nesta discussão que temos, sobre o como vamos praticar este chamado do “Aparecida” de construir as paróquias como rede de pequenas comunidades, a caminhada das Cebs, mais do que se preocupa com algo estrutural, deve sim se preocupar que esta mística seja presente entre nós, acreditando que com tempo a mística das CEBs por não sendo um achado de uma pessoa mesmo que santa, mas sim uma caminhada de uma igreja trabalhando e refletindo em conjunto, - e como tudo que é produzido em conjunto não deixou de ser uma caminhada sofrida - vai contaminar outras espiritualidades existentes no nosso meio e com tempo chegamos a um equilíbrio saudável, salvando a Igreja de um mercantilismo deplorável, do fanatismo, do escurantismo e fundamentalismo que hoje existe no mundo da religião, no Brasil e fora do Brasil!

Eu acredito firmemente nesta contaminação! É da natureza das estruturas de sofrer mudanças, e devemos ser preparados para isto. Mas uma mística que tem raízes bíblicas autênticas e foi desenvolvida em conjunto como a mística das CEBs, vencerá os tempos e acabará contaminando positivamente o que precisa ser contaminado no nosso meio! E já temos provas disso!

Pe. João Caruana.
Maringá.