Definitivamente o caminho do povo brasileiro não é o mesmo das elites políticas. A agenda das prioridades do povo é completamente diferente da agenda do Congresso Nacional e dos governos estaduais e federal. Enquanto os deputados e senadores afundam em maracutaias e manobras para defender seus interesses imediatos e mesquinhos, na perspectiva de cargos e eleições, o povo tenta encontrar saídas para as crises econômica e social que sufocam o País. Essa é a realidade. Uma realidade que a mídia hegemônica procura encobrir, por omissão ou por inverter o que deveria ser abordado por jornais, revistas, emissoras de rádio e TV.
Veja bem, está na agenda dos trabalhadores brasileiros a redução da jornada legal de trabalho, de 44 para 40 horas semanais – um Projeto de Emenda Constitucional que está em tramitação na Câmara dos Deputados há 14 anos. Estudos do DIEESE comprovam que a redução da jornada, já praticada por vários setores econômicos, proporciona inúmeros benefícios para aumentar o emprego, elevar a produção, melhorar a vida das pessoas – num custo baixíssimo para as empresas. Ou seja, é algo da maior relevância para o enfrentamento da crise econômica e para colocar o Brasil em outro patamar de civilização nas relações do trabalho.
Da mesma forma, está na agenda do professorado brasileiro – e de todos aqueles que estão interessados na melhoria da educação escolar – a adoção de um piso nacional para todos os profissionais do ensino médio. Acontece que os governos estaduais, os empresários da educação e os reacionários em geral – que sempre apostam na ignorância e na baixa escolaridade do povo – resistem duramente ao projeto federal, o qual comprovadamente pode dar uma boa contribuição para tirar a escola brasileira dos últimos lugares em todos os rankings internacionais.
Está na agenda dos trabalhadores petroleiros – e de todos aqueles que apostam no desenvolvimento soberano do País –, a campanha de mobilização em defesa da exploração do pré-sal pela Petrobras ou outra empresa estatal nacional, de forma a assegurar que a riqueza natural do Brasil seja revertida para o conjunto do povo brasileiro. Não faz o menor sentido que esse recurso valioso seja entregue para a exploração e o lucro de empresas estrangeiras; não faz o menor sentido aumentar a evasão de divisas e deixar de investir aqui – em educação, saúde, moradia – o que o petróleo do pré-sal pode render aos brasileiros.
Também está na ordem do dia dos movimentos sociais do campo a jornada mundial em defesa da soberania alimentar, que é hoje a grande preocupação de todos aqueles que se empenham em combater a fome de milhões de pessoas em todo o mundo. A defesa da soberania alimentar significa uma mudança corajosa no modelo agrícola, de maneira a fortalecer os pequenos produtores rurais, a agricultura familiar, a produção de alimentos sem agrotóxicos, a garantia de preços e de distribuição de alimentos baratos nas regiões com população de baixa renda – enfim, fazer com que a capacidade de produção, que é mais do que suficiente para abastecer o mundo, esteja realmente voltada para alimentar o mundo, com alimentos de boa qualidade, sem os venenos utilizados pela agricultura transgênica e predatória.
Enfim, existe uma agenda positiva na perspectiva dos trabalhadores e do povo. Uma agenda que caminha na direção de uma vida melhor – que é possível e viável. As elites políticas do Brasil não estão sensíveis a essa agenda popular, os seus interesses são outros, são os interesses dos negócios pessoais e dos grupos econômicos que elas representam. Infelizmente.
Hamilton Octavio de Souza é jornalista, editor da revista Caros Amigos, colunista do jornal Brasil de Fato e professor da PUC-SP