Lucimar Moreira Bueno(Lucia) - www.lucimarbueno.blogspot.com

quinta-feira, 9 de julho de 2009

Artigo semanal de Dom Anuar Battisti - Encíclica do Papa Bento XVI

A VERDADE NA CARIDADE

Esse é o título da nova carta Encíclica do Papa Bento XVI, lançada nesta semana para todos que crêem no desenvolvimento integral do ser humano. Me reporto a alguns trechos da introdução para lembrar que é do homem a responsabilidade diante dos desafios da nova realidade econômica e social.

Assim começa o Santo Padre: “A caridade na verdade, que Jesus Cristo testemunhou com a sua vida terrena e, sobretudo, com a sua morte e ressurreição, é a força propulsora principal para o verdadeiro desenvolvimento de cada pessoa e da humanidade inteira. O amor — « caritas » — é uma força extraordinária, que impele as pessoas a comprometerem-se, com coragem e generosidade, no campo da justiça e da paz. É uma força que tem a sua origem em Deus, Amor eterno e Verdade absoluta.

“A caridade é a via mestra da doutrina social da Igreja. As diversas responsabilidades e compromissos por ela delineados derivam da caridade, que é — como ensinou Jesus — a síntese de toda a Lei (cf. Mt 22, 36-40). A caridade dá verdadeira substância à relação pessoal com Deus e com o próximo; é o princípio não só das microrrelações estabelecidas entre amigos, na família, no pequeno grupo, mas também das macrorrelações como relacionamentos sociais, econômicos, políticos.

O verdadeiro sentido da caridade, muitas vezes, enfrenta o risco de ser mal entendido, excluído da ética, impedindo a sua correta valorização. Não é difícil ouvir declarações de irrelevância do seu conceito, nos âmbitos social, jurídico, cultural, político e econômico, a fim de interpretar e orientar as responsabilidades morais. Mas a verdade deve ser procurada, encontrada e expressa na “economia” da caridade, compreendida, avaliada e praticada sob a luz da verdade. Deste modo teremos não apenas prestado um serviço à comunidade, mas também contribuído para que todos acreditem na verdade, mostrando o seu poder de autenticação e persuasão na vida social concreta.

Pela sua estreita ligação com a verdade, a caridade pode ser reconhecida como expressão autêntica de humanidade e como elemento de importância fundamental nas relações humanas. Só na verdade é que a caridade refulge e pode ser autenticamente vivida. Sem caridade, o amor torna-se um invólucro vazio, que se pode encher arbitrariamente e acaba prisioneiro das emoções e opiniões contingentes dos indivíduos, uma palavra abusada e adulterada, que acaba por significar o oposto do que é realmente.

No atual contexto social e cultural, em que a verdade é relativizada, viver a caridade na verdade leva a compreender que a adesão aos valores do cristianismo é um elemento útil e indispensável para a construção de uma boa sociedade e de um verdadeiro desenvolvimento humano integral. Um cristianismo de caridade sem verdade pode ser facilmente confundido com uma reserva de bons sentimentos, úteis para a convivência social, mas marginais, sem o devido lugar para Deus. Sem a verdade, a caridade fica excluída dos projetos e processos de construção de um desenvolvimento humano de alcance universal, do diálogo entre o saber e a realização prática.

A proclamação da verdade do amor de Cristo na sociedade é serviço da caridade que, sem verdade, não tem consciência e responsabilidade social; as atividades ficam à mercê de interesses privados, com efeitos desagregadores, principalmente nos momentos difíceis. A doutrina social da Igreja gira em torno do princípio “Caritas in veritate”, que determina critérios orientadores da ação moral. Destes, destaco dois em particular, especialmente nessa época de globalização: a justiça e o bem comum.

Cada sociedade elabora um sistema próprio de justiça. A caridade supera a justiça, mas não existe sem ela, porque amar é doar-se, a si e aquilo que se tem, pensando no bem comum. O desenvolvimento não envolve apenas direitos e de deveres, mas antes e, sobretudo, relações de gratuidade, misericórdia e comunhão. Todo cristão é chamado a esta caridade, conforme a sua vocação e segundo as suas possibilidades. Devemos ser protagonistas do desenvolvimento, atuando com razoabilidade, guiados pela caridade e a verdade.

A Igreja não tem soluções técnicas para oferecer, mas tem uma missão: estar a serviço da verdade. Sem verdade, cai-se numa visão empirista e cética da vida, incapaz de se estar acima da ação porque não está interessada em identificar os valores. A fidelidade ao homem exige a fidelidade à verdade, a única que é garantia de liberdade (cf. Jo 8, 32) e da possibilidade de um desenvolvimento humano integral. Para a Igreja, esta missão a serviço da verdade é irrenunciável, posto que é a verdade que liberta.