A fome, fruto de injustiças, era problema sério na vida dos primeiros cristãos. Os quatro evangelhos relatam Jesus “multiplicando” pães para saciar a fome do povo (cf. Mt 14,13-21; Mc 6,32-44; 8,1-10; Lc 9,10-17 e Jo 6,1-13). Mateus relata que o povo faminto “vem das cidades”. As cidades, ao invés de serem espaço para o exercício de partilha e de cidadania, produzem exclusão e violência.
“Jesus atravessa para a outra margem do mar da Galiléia” (Jo 6,1), entra no mundo dos gentios, dos pagãos, dos impuros; isto é, dos excluídos. Ele não se limita à convivência com os incluídos, mas estabelece comunicação efetiva e afetiva entre os dois mundos, o dos incluídos e o dos excluídos. Tabus e preconceitos sejam superados.
Profundamente comovido, porque “os pobres estão como ovelhas sem pastor” (Mc 6,34), os que exercem os poderes político-religioso e econômico-cultural não o fazem como libertadores, mas colocam fardos pesados nas costas do povo. Com olhar penetrante, Jesus constata a grande multidão de pessoas com os corpos esmagados pela bomba ruidosa da fome e de outras formas de injustiça.
O Galileu não sente medo dos pobres, convive e caminha com eles, procurando superar a fome que os humilha. Aparecem dois projetos para resgatar a cidadania desse povo faminto. O primeiro é apresentado por Filipe: “Onde vamos comprar pão para alimentar tanta gente?” (Jo 6,5). Ou seja, devolve o problema. No mesmo tom, outros discípulos tentam lavar as mãos: “Despede a multidão para que vá aos povoados comprar alimento para si.” (Mt 14,15). Filipe representa quem está dentro do mercado e pensa a partir do mercado. Avalia o mercado como um deus capaz de salvar as pessoas. Basta comprar para consumir. Jesus, porém, chama os discípulos à responsabilidade social: “Ajudai, vós mesmos, para que tenham algo de comer” (Mc 6,37). Amor autêntico é fazer o povo capaz de perceber que somos os agentes da solução dos problemas.
O segundo projeto é proposto por André que, mesmo sentindo as próprias limitações, revela: “Há um menino com cinco pães e dois peixinhos” (Jo 6,9). É como se Jesus despertasse em seus discípulos e discípulas uma responsabilidade social: “Vocês mesmos dispõem de meios para que o povo se alimente” (Mt 14,16). Jesus quer “mãos à obra”. Nada de desculpas e racionalizações a tranqüilizarem a consciência. Com ânimo, abraça o projeto de André (= homem vigoroso, em grego), mobiliza o povo a “sentar na grama” (Jo 6,10).
Aqui, há duas características fundamentais do processo protagonizado por Jesus a fim de levar o povo da exclusão à cidadania. Jesus convida o povo para sentar-se, com a ajuda das lideranças. Por quê? Na sociedade escravocrata do império romano, somente pessoas livres, cidadãs, podiam comer sentadas. Os escravos deviam comer de pé, pois não podiam perder tempo de trabalho. Era só engolir e retomar o serviço árduo. Um terço da população era escrava e outro terço, semi-escrava. Logo, quando Jesus inspira o povo para sentar-se, ele está, em outros termos, defendendo que os escravos têm direitos e merecem ser tratados como cidadãos.
Por que sentar na grama? A referência à “grama” indica que o povo está no campo, na zona rural. Também a partir de gestos solidários e de uma reorganização da vida no campo, poderá advir um estímulo em vista da solução política para a fome e a violência que afligem o povo. Não é justo aceitar, passivamente, as três medidas que o poder midiático impinge também ao povo brasileiro: violência, diversão e paternalismo. Cidadania e segurança alimentar exigem que o povo se organize e, em clima de partilha horizontal, cuide do território. Território sem participação popular é negação de soberania.
Jesus sugere aos discípulos que organizem o povo. “Sentem-se, em grupos de convivência, de dez, de cem, de cinqüenta ...” (Mc 6,40). Assim, Jesus e os primeiros cristãos nos inspiram que a resolução dos problemas da fome, de tantas injustiças e da violência social passam necessariamente pelo empenho do povo organizado. Sem organização nada feito. Jesus provoca a solidariedade, conclamando para a organização dos marginalizados como meio para se chegar à cidadania de todos e para todos. Os últimos acontecimentos na economia globalizada, nas tragédias climáticas que são resultado da irresponsabilidade capitalista, o retrocesso acelerado dos direitos sociais, a ameaça de fome em todo o mundo, fazem-nos crer que só haverá Natal se assumirmos essa responsabilidade cristã de participar do milagre da multiplicação dos pães. Que mais um Natal se faça aprendizagem!
“Jesus atravessa para a outra margem do mar da Galiléia” (Jo 6,1), entra no mundo dos gentios, dos pagãos, dos impuros; isto é, dos excluídos. Ele não se limita à convivência com os incluídos, mas estabelece comunicação efetiva e afetiva entre os dois mundos, o dos incluídos e o dos excluídos. Tabus e preconceitos sejam superados.
Profundamente comovido, porque “os pobres estão como ovelhas sem pastor” (Mc 6,34), os que exercem os poderes político-religioso e econômico-cultural não o fazem como libertadores, mas colocam fardos pesados nas costas do povo. Com olhar penetrante, Jesus constata a grande multidão de pessoas com os corpos esmagados pela bomba ruidosa da fome e de outras formas de injustiça.
O Galileu não sente medo dos pobres, convive e caminha com eles, procurando superar a fome que os humilha. Aparecem dois projetos para resgatar a cidadania desse povo faminto. O primeiro é apresentado por Filipe: “Onde vamos comprar pão para alimentar tanta gente?” (Jo 6,5). Ou seja, devolve o problema. No mesmo tom, outros discípulos tentam lavar as mãos: “Despede a multidão para que vá aos povoados comprar alimento para si.” (Mt 14,15). Filipe representa quem está dentro do mercado e pensa a partir do mercado. Avalia o mercado como um deus capaz de salvar as pessoas. Basta comprar para consumir. Jesus, porém, chama os discípulos à responsabilidade social: “Ajudai, vós mesmos, para que tenham algo de comer” (Mc 6,37). Amor autêntico é fazer o povo capaz de perceber que somos os agentes da solução dos problemas.
O segundo projeto é proposto por André que, mesmo sentindo as próprias limitações, revela: “Há um menino com cinco pães e dois peixinhos” (Jo 6,9). É como se Jesus despertasse em seus discípulos e discípulas uma responsabilidade social: “Vocês mesmos dispõem de meios para que o povo se alimente” (Mt 14,16). Jesus quer “mãos à obra”. Nada de desculpas e racionalizações a tranqüilizarem a consciência. Com ânimo, abraça o projeto de André (= homem vigoroso, em grego), mobiliza o povo a “sentar na grama” (Jo 6,10).
Aqui, há duas características fundamentais do processo protagonizado por Jesus a fim de levar o povo da exclusão à cidadania. Jesus convida o povo para sentar-se, com a ajuda das lideranças. Por quê? Na sociedade escravocrata do império romano, somente pessoas livres, cidadãs, podiam comer sentadas. Os escravos deviam comer de pé, pois não podiam perder tempo de trabalho. Era só engolir e retomar o serviço árduo. Um terço da população era escrava e outro terço, semi-escrava. Logo, quando Jesus inspira o povo para sentar-se, ele está, em outros termos, defendendo que os escravos têm direitos e merecem ser tratados como cidadãos.
Por que sentar na grama? A referência à “grama” indica que o povo está no campo, na zona rural. Também a partir de gestos solidários e de uma reorganização da vida no campo, poderá advir um estímulo em vista da solução política para a fome e a violência que afligem o povo. Não é justo aceitar, passivamente, as três medidas que o poder midiático impinge também ao povo brasileiro: violência, diversão e paternalismo. Cidadania e segurança alimentar exigem que o povo se organize e, em clima de partilha horizontal, cuide do território. Território sem participação popular é negação de soberania.
Jesus sugere aos discípulos que organizem o povo. “Sentem-se, em grupos de convivência, de dez, de cem, de cinqüenta ...” (Mc 6,40). Assim, Jesus e os primeiros cristãos nos inspiram que a resolução dos problemas da fome, de tantas injustiças e da violência social passam necessariamente pelo empenho do povo organizado. Sem organização nada feito. Jesus provoca a solidariedade, conclamando para a organização dos marginalizados como meio para se chegar à cidadania de todos e para todos. Os últimos acontecimentos na economia globalizada, nas tragédias climáticas que são resultado da irresponsabilidade capitalista, o retrocesso acelerado dos direitos sociais, a ameaça de fome em todo o mundo, fazem-nos crer que só haverá Natal se assumirmos essa responsabilidade cristã de participar do milagre da multiplicação dos pães. Que mais um Natal se faça aprendizagem!