Lucimar Moreira Bueno(Lucia) - www.lucimarbueno.blogspot.com

sexta-feira, 25 de julho de 2008

Vidas pela vida! Vidas pelo Reino!

Por: Nelí de Almeida e Astofo Dutra – MG

Por que existem mártires?
Por que o martírio de tantas pessoas?

A questão do martírio envolve a sensilbilidade das pessoas. Há aquelas que são sensíveis, abraçam causas e se entregam por essas causas. Outras insensíveis, indiferentes às causas matam as sensíveis.

Podemos receber o martírio em três níveis:
Primeiro: as pessoas que, sensibilizadas por uma causa, vão até o fim. Conscientes, entregam sua vida na luta por terra, cultura, moradia. Podemos lembrar Zumbi, Margarida Alves, Chico Mendes, D. Oscar Romero, Dorcelina, Irmã Cleuza, Irmã Dorothy. Sabem que precisam viver para levar em frente a sua fé, mas sabem também que não serão poupados pelos insensíveis.

Segundo: pessoas que não querem ser mártires, nem sabem por que o são. Morrem martirizadas pela fome, pela violência, pela injustiça. Povo mártir. Corpos de crianças dilaceradas pela desnutrição. Corpos de jovens violentados pela droga, pelo desemprego, pela falta de escola. Corpos de homens e mulheres martirizados pelo subemprego, pela falta de saúde, pela falta de moradia. Corpos de pessoas que procuram alimento, buscam sobrevivência nos lixões, vivem das migalhas que sobram das mesas de quem só acumula.

Terceiro: mártires anônimos que doam sua vida, silenciosamente, em trabalhos pesados, que beneficiam milhões de pessoas. Vidas doadas na construção de grandes rodovias, pontes monumentais, prédios imensos. “Tá vendo aquele edifício moço, ajudei aconstruir...”

Mães que, milagrosamente, criam seus filhos com uma dupla jornada de trabalho. Amamentam o filho, convivem com o homem embriagado e machista. Sustemtam a família com a sua vida. São humilhadas e discriminadas. Carregam no corpo as marcas da dor e da alegria.

Vidas pela vida! Vidas pelo Reino Jesus, o primeiro mártir! A testemunha fiel! Foi sensível ao Projeto do Reino, abraçou este projeto, lutou por ele. Não só anunciou, mas vivenciou o Reino ao resgatar as vidas. As autoridades de seu tempo, pessoas insensíveis, não entenderam o Projeto do Reino, por isso assassinaram Jesus.

Estevão, um helenista, assumiu o serviço às mesas, para atender as viúvas. Deu um passo à frente, tornou-se evangelizador, porque entendeu a proposta de Jesus. Lançou-se no meio do povo, oficialmente, como diácono, mas no cotidiano era um anunciador do Reino de Deus. Aquilo que não é oficializado oficializa-se na prática. Apontar o Reino como algo maior que o Templo, superior à Lei, foi o grande pecado de Estevão, por isso ele foi apedrejado. A comunidade de Lucas compara Estevão com Jesus. Tanto que coloca em sua boca palavras semelhantes àquelas pronunciadas por Jesus: “Senhor Jesus, recebe o meu espírito” e “Senhor, não lhes leve em conta este pecado”.

Vidas pela vida! Vidas pelo Reino Diante desta Palavra, diante do testemunho dos mártires de ontem e de hoje, o que nós, Comunidades Eclesiais de Base, podemos fazer?
Cultivar a sensibilidade para abraçarmos o Projeto do Reino de Deus. Este Reino não é a Igreja, nem a comunidade, nem a pastoral ou movimento no qual participamos, nem qualquer instituição. O Reino de Deus é maior que tudo isto, “é o”. sonho, a utopia que Deus mesmo acaricia para a história, seu desígnio sobre o mundo, seu mistério escondido pelos séculos e “revelado plenamente em Jesus”.

Acreditando que o Reino de Deus é dos pobres, através deles, junto com eles é que vamos ver o Reino acontecer. Inspirados no testemunho dos mártires da caminhada vamos nos unir e espalhar por aí o nosso testemunho, lutando por justiça, paz, fraternidade, dignidade, proximidade de Deus, pão em todas as mesas.

Ergamos os chocalhos, os maracás, fazendo ressoar um suave e forte som. Que este som se espalhe por toda Minas Gerais, pelo Brasil e pela América Latina, levando a todos os cantos a força do testemunho dos mártires.

Que este som convoque a todos nós, das Cebs, para o compromisso com a vida, para o compromisso com o Reino.

Vidas pela vida! Vidas pelo Reino! Todas as nossas vidas, como as suas vidas, como a vida dele, o mártir Jesus. Amém! Amém!Amém!

Publicado no boletim “Por trás da Palavra”, CEBI, Ano 25, 2005 no. 151